Mais que uma arte, o cinema é uma indústria, assim como qualquer outra. É bem óbvio que por se tratar de uma indústria, temos um cenário padrão de vendas e consumo, e talvez o que incomode tanto algumas pessoas seja aceitar a convivência entre o mundo do interesse e o mundo dos ideais. É bem diferente, sendo assim, relacionar a indústria do cinema e dos games, por exemplo, com uma indústria típica capitalista, onde até se tenta vender uma sensação atrelada a marca, mas nunca se vende o talento e a paixão por um artista.
A arte deve, portanto, ser separada nessa relação de consumo. Assim como todas as outras indústrias, existe uma mescla de interesses, onde se pondera a possibilidade de realizar unicamente uma arte, que é a manifestação livre e aprofundada do pensar, excluso de qualquer interesse mercantilista, com a necessidade de buscar recursos para estas realizações.
Antes de sair esborrachando descontentamentos com as frequentes e contestadas continuações cinematográficas, temos que ter em mente que o cinema também se divide em polos. Se separarmos o que é arte do que é interesse do capitalismo, talvez cheguemos num denominador comum. Os filmes independentes representam essa gama que contesta, que discute e promove o real sentido da arte, e as produções vinculadas à estúdios cinematográficos certamente contam com parcelas de interesses mercantilistas.
Dificilmente este cenário se alterará, porém. Um ponto pertinente à esta avaliação é inverter o foco de estudo: as obras a que nos chegam são um resultado do interesse de quem consome estes filmes, sendo assim, os filmes com receitas de bolo continuam porque sempre fazem sucesso, e suas temidas continuações realmente tem tudo para continuar acontecendo.
Percebemos então um núcleo de pessoas que contesta este cenário, defendendo a sétima arte tal como ela é caracterizada, mas esquece que o que move todos estes cenários é tanto mais forte quanto a própria explicação para que o cinema ainda exista com tamanha influência na sociedade. O número de pessoas que buscam essa linguagem e, profundamente ou não, aprendem com ela, é maior a cada ciclo, e esta força é que alimenta este mercado e o faz acontecer. Cabe ao cinéfilo, no entanto, conhecer estes cenários, aceitá-los, e direcionar seu interesse.
O que tomamos como unanimidade é, todavia, o mercado de filmes norte-americanos que são produzidos à repetida exaustão ao público que ele mesmo teve a competência para criar. O que erroneamente se faz é tomar o mercado de filmes mercantilistas dos EUA como único, esquecendo-se da riqueza que o cinema produz no sentido de arte, mesmo que proporcionalmente muito reduzida.
Dessa arte pura, a qual temos ideias únicas e roteiros que não seguem padrões, percebemos em geral artistas preocupados unicamente com sua linguagem, em geral diretores, produtores e equipe de fotografia. Uma vez que encontramos essa arte crua, nos cabe segui-la, através de seu diretor, seu movimento ou seu país. Ao cinéfilo mais atento, ele sabe que esta arte dificilmente virá até ele através de uma propaganda na televisão, ou sequer uma exibição no cinema de shopping de sua cidade; ele terá que encontrar no boca-a-boca, na internet, naquele cinema alternativo que quase ninguém sabe onde fica na região, porém, ele vai encontrar.
As continuações de filmes não significam, no entanto, que a obra não seja artística ou pouco comercial, são, em sua maioria, apenas constatações de um interesse financeiro, atrelado a oportunidade conquistada com o sucesso de bilheteria do filme inicial. Sendo assim, o quê podemos entender como sequências válidas ou ruins, artísticas ou comerciais, de exemplares como: Jogos Mortais, O Poderoso Chefão, Toy Story, Premonição, Rocky, [REC], Senhor dos Anéis, A Era do Gelo, Loucademia de Polícia, Cheech e Chong, De Volta Para o Futuro, Rambo, Indiana Jones, a Trilogia dos Dólares, Se Eu Fosse Você, Os Mercenários, e tantos outros?
Um filme não deixa de ser artístico quando possui uma sequência, porém a maioria das sequências representam o sucesso de filmes unicamente comerciais. Ao espectador cabe separar o joio do trigo, analisar seu interesse no cinema para encontrar sua linguagem, ao ponto de que seu currículo cinéfilo dependerá unicamente de seus critérios quando for selecionar o próximo filme da prateleira.