Crítica: Rubber


Isso ao lado é um pneu. E ele é o protagonista do filme. E ele é assassino. Essas ideias de roteiros malucos que só se tem tomando banho sempre despertam a vontade de apreciar a peça. Já parece que é bom antes de ver. As vezes a gente acerta, as vezes erra. E, nesse caso... nem acerta, nem erra. O filme é relativamente interessante, embora tenha uma ideia bem inovadora, a dificuldade de colocar as ideias em ação limitam a qualidade do longa.

O longa tem, além da ideia maluca de protagonizar a história do pneu serial-killer, outras cositas más. Ele começa com um carro andando em zigue-zague numa rua, derrubando cadeiras. Aí ele para, sai um policial do porta-malas, pega um copo d'água e começa a falar para a câmera (bem diretamente mesmo, como se falasse com o espectador, como se fosse uma apresentação de peça de teatro). O nível de absurdo se agrava quando ele começa a transcorrer um discurso sobre como as coisas no cinema e na vida não fazem sentido.

No filme de Steven Spielberg, "E.T.", por que o extraterrestre é marrom? Nenhuma razão.
Em "Love Story", por que os protagonistas se apaixonam perdidamente? Nenhuma razão.
Por que não podemos ver o ar ao nosso redor? Nenhuma razão.
Por que estamos sempre pensando? Nenhuma razão.

Após essa pseudo-filosofia-cômica (que, mesmo assim, contém traços de verdade), a câmera se distancia desse personagem, e vemos que ele se dirigia para um público que veria um filme. Isso mesmo, num estilo Inception, Rubber (idem, 2010) tem um filme dentro de um filme. A cena termina, o policial derrama o copo d'água e volta ao porta malas. Depois disso, certamente quem não alimenta curiosidade pelo estilo non-sense desiste de assistir, e sobra somente os malucos retardados curiosos que apreciam as possibilidades da sétima arte.

Ah, o pneu. Num deserto, percebe-se um pneu enterrado. Ele se mexe, e tenta andar. O pneu tem vida! Ele aprende a andar, bebe água, descobre o prazer de quebrar coisas e demonstra seu poder paranormal de matar pessoas, explodindo suas cabeças. Essas cenas que tentam dramatizar e dar sentimento ao pneu ficam benfeitas, é e possível entender e acompanhar todas as intenções que esse protagonista apresenta. Detalhe, essas mortes são de categoria trash, com explosões cerebrais sem limites de derramamento de sangue. Então temos um filme meio filosófico, meio cômico, que é bem non-sense, às vezes trash, e até um pouco cult.

Você está preso!


Após apresentar e aprender os primeiros passos de sua vida, o pneu chega à civilização. E se apaixona por uma mulher. Nessa altura o filme dentro do filme tenta acabar, e o diretor (o interno) liga para seu personagem e pede que ele mate todas aquelas pessoas que estão assistindo o filme. Ele envenena um peru, e tenta matá-los. Uma pessoa não come, e o filme não termina. Aí o filme (o externo, esse que estamos assistindo) tem que continuar. (Credo, você ainda tá lendo o que eu estou escrevendo?) Depois de muitas mortes e nenhuma razão dentro de um filme que não quer mesmo ter sentido, começa a caça ao serial-killer mais redondo da história.

Essa "homenagem" à "nenhuma razão" das coisas é interessante, o problema mesmo é fazer esse monte de coisas desconexas formarem sentido e passarem uma ideia bem construída ao espectador. Não é difícil de assistir, mas não é fácil gostar. Com muito esforço você consegue entender alguma coisa, achar conectividades nesse monte de maluquice. É mesmo o tipo de filme que na cabeça do diretor francês Quentin Dupieux parecia ser bem foda, mas na tela não correspondeu. Minha opinião? Assiste.




 

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