Em Frankenweenie (Idem, 2012), Tim Burton dá ênfase ao tradicionalismo de sua marca. Como quem parece andar à contramão do mercado, o diretor pouco inova e reafirma que o mundo visual que sempre proporciona é único, assim como a chance de realizá-lo é só sua. Às avessas do mercado de animação, escolhe, ainda, o stop motion para definir a arte de seus novos personagens.
Todo mundo tem uma opinião sobre Tim Burton. A meu ver, o diretor é extremamente eficiente ao conseguir criar um universo único em todos os seus filmes, os quais ninguém consegue igualar, porém nem mesmo ele parece conseguir se livrar. A cada novo filme Burton aumenta um tijolo nesse mundo, prendendo-se à uma temática gótica, com características que para sempre remeterão a seu nome quando algo visualmente similar ocorrer.
Nesse universo, Tim Burton nunca pareceu querer ser um gênio. Nos salta à conclusão que o artista optou por inovar e aprimorar seu apelo técnico e visual para definir seu cinema, muito mais que a possibilidade de um roteiro inovador ou algum personagem muito profundo. Dessa forma, o diretor conseguiu criar uma das técnicas cinematográficas mais marcantes da história do cinema, proporcionando até ao espectador mais leigo a conexão imediata entre obras de sua autoria.
Burton é um diretor supervalorizado pelos espectadores, algo que ele não faz a si. A cada trabalho, o diretor reafirma seu foco no seu lugar-comum, um interesse voltado à possibilitar ao seu público uma nova história com uma mesma sensação, mais do que imergi-lo em algo totalmente inovador. Acima de tudo, Tim Burton quer sempre ser Tim Burton.
Um dos elementos que marcam a sua carreira é a exclusão social de seus personagens, o isolamento e o medo com algo na sociedade. Este fator infla a possibilidade de Burton casar seus elementos visuais com esta forte característica emocional das suas criaturas. Ao maior exemplo, citamos Edward, em Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands, 1990).
É com este entendimento que podemos compreender melhor seu último trabalho, Frankenweenie. Baseado em um seu próprio curta-metragem dos anos 80, o resultado aqui mostrou-se altamente agradável. Obviamente, Burton buscou praticamente recontar a história clássica de Frankenstein (Idem, 1931), clássico do horror literário e cinematográfico, fator que reafirma seu maior interesse em adaptar uma história sob a sua linguagem.
Frankenweenie leva em seu nome parte dessa amarração. Em sua história, lembramos com um ar de homenagem o trabalho que o diretor realiza sugando as ideias de Frankenstein. Temos novamente o cientista, a sala de ciências e o professor, o personagem-título da obra clássica e até o corcunda. Neste novo filme, nosso herói é um cachorro, Faísca, que toma a vida após um experimento científico realizado por Victor Frankenstein - um recluso personagem sem amigos.
A história trata, dessa forma, da experiência científica do cientista em "ressuscitar" seu cachorro, diante de conselhos científicos de seu professor Rzykruski. Victor quer apresentar sua experiência na feira de ciências de sua escola, mas sua ideia é roubada pelos seus colegas e eles entram em altas confusões Faísca, o cachorro, toma a frente para salvar sua vida e provar aos pais de Victor que a ciência pode ser aplicada em prol da vida e da boa convivência.
Àqueles que perderam um pouco de sua esperança nos filmes do diretor, este exemplar mostra-nos eficiente e reconta com as mesmas palavras o sucesso adquirido por Tim Buton, e isso não é necessariamente ruim.
Visualmente, Frankenweenie é um trabalho muito paciente e atencioso. Marcado também por ser em preto e branco, constrói-se com eficiência um belo cenário gótico, alguns personagens misteriosos, e com a velha música clássica dos filmes do diretor. Aqui a experiência é muito válida, um filme que resume-se gostoso de assistir pelo simples prazer do entretenimento. Ainda que facilmente narrado ao público infantil (e lincado à Disney), Burton clama somente por imersão ao seu visual para uma boa sessão de cinema, já que sua história não se compromete a um final surpreendedor.