Crítica: Killer Joe - Matador de Aluguel


O que mais incomoda em Killer Joe - Matador de Aluguel (Killer Joe, 2011) é que ele tinha tudo para ser um filme muito bom. Tinha. Começando pelos prós, as apresentações de personagens são bem interessantes, constroem um suspense investigativo-policial que chama a atenção, principalmente porque o filme em muitos momentos deixa a entender que mais pra frente terão cenas absurdas, na melhor das intenções. A câmera inicialmente ajuda bastante para a construção da ideia, tomando ângulos em cena que sempre denotam um espião. Este espião nunca existe - e o filme não quer propor isso -, contudo o único que pode ter essa característica é o próprio espectador.

Aceitando esse convite, acertadamente é construído um aparato convidativo ao drama que segue, e em alguns momentos se parece acreditar que algo muito bom pode sair dali. Uma das iscas do filme está justamente num roteiro de premissa diferente, mas executado com fatores nem tão novos assim. Killer Joe, por assim dizer, é inovador e cafonão ao mesmo tempo, tem como virtude principal a coragem de mirar no absurdo - ou espantoso - arriscando salvar-se com boas críticas e aplausos de sua plateia.

Montado numa trama de assassinato, como você já deve imaginar, a caracterização de personagens é um quesito não somente importante, mas fundamental ao desenvolver da trama. Centrado em 5 personagens, a história busca mesclar pistas e esconder segredos em cada um destes participantes, o que apresenta-se interessante em alguns pontos. Mesmo algumas vezes traçando caminhos já antes percorridos, por vezes acreditamos com boa convicção que o destino trará um novo desfecho.

Emile Hirsch vive Chris Smith, um jovem rapaz membro de uma "família" das mais problemáticas. Os pais são separados, não se falam, o pai Ansel tem com Chris brigas rotineiras, uma boa dose de xingamentos e nada que lembre uma relação de pai e filho. Ele agora vive com uma doidona num trailer, onde cria a filha caçula Dottie. Criar talvez seja ser bondoso, ele simplesmente alimenta o estômago e a mente de uma menina que pende a arquétipos similares ao seu laço familiar.



Chris vive no meio desses problemas, mas passa longe de ser o cordeiro dali. Resumidamente, Chris deve uma grana por problemas de drogas e quando descobre que é herdeiro do seguro de vida de sua mãe, decide matá-la para pegar uma boa quantia dessa grana e contrata alguém para executar o serviço. Meio absurdo mas explica bem a ideia de um filme do gênero. Bom, aí entra o cara que dá nome ao filme... Joe Cooper. Joe Cooper, eis o cara que podia fazer o filme pulsar, jorrar bons momentos. Tudo bem que um assassino de aluguel tem lá o charme de sua profissão, mas Matthew McCconaughey poderia ser bem mais que isso.

Joe é um personagem complicado, a gente quer acreditar que ele é bom, mas não dá. Deram pro cara um papel instável, que no final das contas não sei se ele é um bonitão, um cara foda e inteligente, um simples pedófilo ou mais um tolo querendo ficar com a grana da mulher.

Em meio a raras boas apresentações, erros bem trouxas de técnica e roteiro colocam o filme em xeque. Tecnicamente, com falhas vergonhosas em cenas de briga e espancamento, ora um dente tem sangue ora não, pontapés e socos passam longe do alvo, maquiagem bem tosca que abrevia um rosco espancado, e um baita erro de foco na apresentação de Joe são alguns destes momentos preocupantes. Ainda que eu pareça meio cri-cri com estes aspectos, essa é só a visão de espectador, daqueles momentos absurdos que fazem simplesmente uma cena perder seu mérito.



Mesmo com estes problemas escancarados, Killer Joe podia ser um filme até memorável. Guarda bem seu segredo (mesmo brincando de caça ao enigma com seu espectador), dá espaço para todos seus personagens, (algo que lembra Pequena Miss Sunshine) e faz suas experiências. Fotograficamente é interessante, com destaque a cena da Boate Azul (Bá Dum Tsss), e 3 boas apresentações de atores. Emile Hirsch (Na Natureza Selvagem) está razoável, mas ainda interessante, Sharla (Gina Gershon) manda bem numa cena bem exigente, e Dottie Smith (Juno Temple), que facilmente convence ter 12 anos, ao invés de seus 21, é criança, adulta, misteriosa, meiga e violenta.

Algo que poderia tê-lo salvado e que tem a seu favor (perceba, eu tentei achar o filme bom, não fosse alguns fatores que não posso fingir não ter visto), é a capacidade de agradar a gregos e troianos. Ao mesmo tempo que este poderia ser um exemplar de crítica, poderia ser tão igualmente popular  (excetuando-se algumas cenas bem fortes). Raros filmes falam as duas linguagens e conquistam ambos os gostos. Contudo é bem esperado que a temática provocativa conquiste muita gente por aí.

Como resultado disso tudo, é uma experiência. Tanto da parte dos realizadores que parecem arriscar e se sujeitar à uma bela besteira (e as vezes beiram isso) mas podendo atingir algo mais que ser um filminho Tela Quente (e é por isso que vemos o filme), quanto também por parte de quem o assiste. Afinal, ver alguns absurdos de vez em quando e ficar na dúvida se o filme é bom ou ruim também é interessante, talvez no fim acabe mostrando que um filme é mesmo um bom momento experimental. Às vezes dá certo, às vezes vale ver. Ou não.




 

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