Crítica: Um Dia de Cão


Quando Sonny (Al Pacino) decidiu sair do carro para cometer o assalto, ele não queria somente o dinheiro. Como solução imediata, somente o roubo já bastava, mas as circunstâncias o deram a chance de tentar resolver seus problemas de modo mais limpo, mais justo. Talvez a vida tivesse se cansado das atitudes incorretas de Sonny, e assim tentou lhe dar a oportunidade de reclamar seus problemas a todos.

Sonny vivia uma vida em pedaços, cheio de problemas familiares e amorosos. Em certo momento, é bem claro que o personagem necessitava gritar ao mundo, como quem perguntasse quais razões as pessoas tinham para julgar suas escolhas pessoais. Essa necessidade que parecia incomodar Sonny foi lhe dada em momento bem apropriado. De um marginal assaltante de banco, Sonny tornou-se, em poucas horas, um astro da TV. Ele tinha o foco em si, uma nação que sentava no sofá com pipoca na mão para ouvir o que tinha a dizer.

Ele era a representação de um problema maior, uma única voz reduzida que na verdade falava por muita gente. Aos gritos de "Attica! Attica!", Sonny clamava por atenção à força desproporcional, onde a polícia havia pago com a vida de cidadãos inocentes para também apagar alguns marginais. Sufocado, o protagonista estava certo de que aquela era a sua hora, e o saldo de sua apresentação deveria ser positivo.

Além da presente atenção que o personagem de Al Pacino conquista no filme, é oportuno perceber como é tratado o oportunismo no filme no que tange outras questões. A TV suga desse fato policial uma alternativa para sua audiência, e transforma o assalto num reality show da vida real. Como retrato de uma peça de teatro, Sonny deve sempre sair do banco para apresentar-se no "palco". A calçada é este palco e o povo comporta-se a sua frente como espectador. Os elementos do filme então nos convencem que trata-se de um jogo de oportunidades. O delinquente, a polícia, o povo e a reportagem.

Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, 1975) vai aos poucos se mostrando com uma narrativa simples e de fácil entendimento, mas bem focado em cenas pontuais. Narrativamente o filme é muito bem estruturado, não precisa de reviravoltas na história e no roteiro para tornar-se dinâmico, o qual é atingido com facilidade por tratar-se de uma situação bem palpável, em que o espectador acompanha o drama sempre imaginando as consequências dos fatos. Nem por isso, contudo, o filme é previsível.

O oportunismo de Sonny detém duas vertentes: a boa, que conquista a chance de ser ouvido, deixando de ser coadjuvante para tornar-se protagonista; e a má, pois a estratégia de negociação do personagem revelam uma deturpação de seu pensamento. No momento que ele propõe trocar reféns por objetos de fuga, ele faz uso das pessoas tanto quanto o fizeram dele até então.



Sonny não é um herói, não é um vilão, ele é simplesmente um alguém. Não somos induzidos a torcer por ninguém, nos percebemos na condição somente de mais um espectador naquele jogo de cenas. Ajudado por seu amigo Sal (John Cazale), os dois vão tomando seus rumos e revelando suas incompetências. Planejaram roubar um banco mas nele não havia muito dinheiro. A adversidade encontrada propõe o mau preparo deles para a situação. Além disso, vemos em belas atuações dos dois atores principais um medo e falta de experiência que propõem os limites da coragem de ambos.

Neste filme policial-dramático de Sidney Lumet, nos sobra, porém, um final que não está a altura do que parecia prometer, talvez muito por estar amarrado à uma história verídica ocorrida em 1972. Vale bem a pena a experiência, no fim das contas o filme mostra um ritmo bem agradável. Ainda que jovem, Al Pacino soma neste papel mais um belo trabalho com a predominância de sua característica um pouco insana. É uma obra bem oportuna que permite algumas conclusões, com um ritmo leve e sem qualquer arrogância para maiores lições de moral.




 

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