A cidade precisa de heróis?
Danson e Highsmith são os policiais durões, que colocam
ordem na cidade, como Capitães Nascimento em Nova Iorque, eles usam todo o
repertório a disposição para servir a corporação. Bom, não só isso, também para
dar coletivas de imprensa como estrelas, ter affair com Kim Kardashian, além de
se mostrarem como a supremacia incontestável no ambiente de trabalho.
Os Outros Caras (The Other Guys, 2010) faz a comédia mais absurda e mais
pertinente, porque os durões se suicidam de forma hilária, ao som de My Hero, do
Foo Fighters - “there goes my hero” - e se foram mesmo. Isso abre espaço para
os policiais que não fazem parte do repertório de filmes de policiais.
Do outro lado da masculinidade, acontece uma discussão nonsense
entre Terry (Mark Wahlberg) e Gamble (Will Ferrel) sobre a hipótese do primeiro
ser um leão e o segundo um atum, que seria comido de qualquer forma, porque
Terry iria contra a cadeia alimentar para
se alimentar de Gamble, que produz um som afeminado quando mija.
Um corte brutal após essa cena leva ao mercado financeiro,
onde uma empresa está abrindo capital na bolsa de valores, e a presidente
recebe a notícia naquele mesmo momento de que perdeu 32 bilhões de dólares.
Mas a graça do filme está nos momentos que aparentemente não
tem sentido, o diretor e roteirista constrói duas tramas paralelas sobre duas
farsas distantes, mas parecidas.
A empresa que precisa mostrar ser o que não é, em meio à
crise financeira, e os policiais que tentam ser os heróis que não são. Na
verdade Terry quer, enquanto Gamble se pergunta : “pra que heróis, se vivemos
numa cidade de nove milhões de habitantes conscientes, cada um fazendo a sua
parte?”.
Aí está a graça, o caso a ser resolvido, que irá
transformá-los em heróis é, a princípio, licenças ilegais para construção,
Terry pergunta o tempo todo sobre a conexão com cartéis, trafico de órgãos,
etc, mas não tem nada tão heroico assim.
No fim das contas o filme é uma brincadeira com a estética
dos filmes pré-crise, onde policiais durões brigavam com pequenos vilões e as empresas
grandes demonstravam o futuro certo através de gráficos ascendentes. Em resumo:
ações em alta, carros beberrões e a certeza de um futuro melhor, ou não.