O sucesso de uma história advém da forma como ela é contada.
Apenas um bom roteiro não faz, por si só, um bom filme; assim como um bom filme
não se pauta somente num bom roteiro. A persuasão e o tom cativante de uma
história são sempre os elementos fundamentais para captar a atenção para a
história que se pretende contar. Para chegar nesse nível de imersão, pode-se
atentar para o interesse da empatia do espectador quando se narra um drama ou
romance, ou uma fuga ao desconhecido quando se opta por um conto científico, de
fantasia ou aventura. Ou, quem sabe, uma mescla dessas características.
O Gigante de Ferro (The Iron Giant, 1999) tem um pouco de
cada uma dessas virtudes. Não é, acredito, perfeito ou quase isso, mas garante
sua importância no poder de envolvimento que impõe em cada cena. A trama parte
de um interesse narrativo eficaz, concentrando o foco da história no mundo
mágico de uma criança que descobre a existência de um gigante de ferro, um ser
que veio do espaço e que se alimenta somente de aço. Misturando essa boa
parcela de ficção na relação da criança, se constrói com facilidade o interesse
maior de envolvimento na relação desses personagens.
Essa eficiente animação não é tão simples a ponto de que somente
as crianças gostem, nem tão complexa a ponto de cair somente no interesse dos
adultos. Discorre, nas suas entrelinhas, com certa facilidade de compreensão, um
tom de metáfora, que fala a linguagem das crianças e sua constante vontade de
apreciar a fantasia, coincidindo com críticas sutis à relação do homem-monstro,
como bem se revela em algumas circunstâncias.
A multilinguagem do longa parte, em princípio, da relação de
amizade construída entre o menino e o Gigante de Ferro. Escondidos na mata, os
dois trocam os primeiros diálogos com receio e encanto, até adquirirem
confiança e fortalecer suas amizades. O poder de encanto e, obviamente, o
simples fato de ser uma criança, fazem com que ele não meça o perigo e os
esforços para cuidar de um “ser” que poderia causar a destruição de toda a
pequena cidade de Rockville, pequeno vilarejo no interior dos Estados Unidos
nos anos de 1950, onde a história se passa.
O garoto é, ainda, esse poder de irresponsabilidade e
inocência benévolas, que permitem, em situações inimagináveis, conviver com passividade
este momento de descobrimento. Aos poucos e facilmente, vamos descobrindo que o
Gigante de Ferro é inversamente bondoso, comparado ao medo causado pelo seu
tamanho.
O garoto percorre, assim, uma tentativa de cuidar de seu “bichinho”
de estimação, e deve driblar a intenção de agentes do governo em capturar, sob
interesses políticos, o Gigante de Ferro. É importante perceber, nesse caso, o
final reflexivo e questionador, mesmo que em segundo plano, do desdobrar da
história.
O Gigante de Ferro é uma história que, em princípio, se parece absurda, conta com elementos incomuns e traz a desconfiança sobre o poder narrativo da obra. Essa desconfiança vai se perdendo, no entanto, desde os primeiros minutos de exibição. Por mais que essa possa parecer uma simples história infantil de um menino que encontra um ser monstruoso e decide adotá-lo, é interessante perceber como a comoção com a amizade e fatores humanos intrínsecos à conduta do homem ganham importância em várias cenas. A história não se permite dar maior ênfase à essas críticas sutis sobre o homem e seu pensamento, mas controi uma narrativa intencionada na leve percepção do que aquela relação quer dizer, bem como as intenções governamentais e políticas em que a história se passa.
O Gigante de Ferro é uma história que, em princípio, se parece absurda, conta com elementos incomuns e traz a desconfiança sobre o poder narrativo da obra. Essa desconfiança vai se perdendo, no entanto, desde os primeiros minutos de exibição. Por mais que essa possa parecer uma simples história infantil de um menino que encontra um ser monstruoso e decide adotá-lo, é interessante perceber como a comoção com a amizade e fatores humanos intrínsecos à conduta do homem ganham importância em várias cenas. A história não se permite dar maior ênfase à essas críticas sutis sobre o homem e seu pensamento, mas controi uma narrativa intencionada na leve percepção do que aquela relação quer dizer, bem como as intenções governamentais e políticas em que a história se passa.
O Gigante de Ferro, dirigido por Brad Bird (Ratatouille, Os
Incríveis), é um desses tesourinhos de locadora. Pouco divulgado e facilmente
esquecido, essa excelente animação certamente ganhou injusto descrédito entre
distribuidoras e cinemas, e, consequentemente, pouco conhecimento dos
espectadores. Para quem gosta de desenhos fora do grande circuito comercial e
em sua maioria de cunho autoral, assim como o bem conhecido japonês Hayao
Miyazaki, com – dentre outros – seu adorável Ponyo – Uma Amizade Que Veio do
Mar (Gake no ue no Ponyo, 2008), O Gigante de Ferro é caminho fácil para mais
uma animação cativante, envolvente e que perdura na memória de seus filmes
preferidos do gênero.
Com a desconfiança aparente da obra, torna-se fácil se
emocionar com os bem articulados momentos de comicidade, além de um desenho
ainda feito, em sua maior parte, à mão e com pouca computação gráfica, que torna
a experiência mais rica e real sobre essa envolvente história.