Alguns mistérios são difíceis de decifrar. Não, não se trata
do mistério envolto na história de Halloween - A Noite do Terror (Halloween, 1978), filme de terror
dirigido por John Carpenter. Afinal, por que esse filme ganhou reconhecimento e
chegou ao status de um dos clássicos do gênero? Nem a comum explicação para
acobertar possíveis falhas do filme consegue desviar os incontáveis defeitos
que ele possui. Normalmente, dizer que o filme é antigo e que a época de sua produção
era diferente e os recursos eram bem mais escassos, soa fácil para justificar
possíveis deslizes. Ora, 1978 é logo ali, dá pra citar obras realmente
emblemáticas do cinema que foram feitas em momentos bem mais difíceis.
Uma das possíveis – e raras – justificativas para entender a
fama que ele ainda carrega, é comparar a sua produção no gênero do horror com
os demais exemplares do gênero produzidos até então. Mas, aí, entendendo que
esse argumento realmente justificaria o seu sucesso, seria automaticamente reconhecer
que seus antecessores são de qualidade altamente duvidosa.
É, até certo ponto – apenas –, complicado analisar uma
película deste nível quando se já assistiu muitas das suas excelentes obras
sucessoras. Facilmente, quem hoje assiste a Halloween, acaba por julgá-lo com
uma quantidade de clichês que talvez ainda não tenha se visto. Porém, o filme é
datado do ano de 78, e essa história do clichê dificilmente irá fazer sentido.
Como os defeitos são muitos, prefiro citar, de imediato, uma
qualidade importante: a trilha sonora – embora clássica e, por isso, até certo
ponto, fácil de agradar – marca as principais e repetidas cenas de suspense/terror
que o filme desenvolve; ainda que fique uma dúvida no ar se essa trilha é
realmente boa ou se o seu mérito mais se deve ao fato de ser inconfundível, é
possível, mesmo assim, classificá-la como interessante, mesmo que a dúvida
ainda persista.
Contudo, é triste e curioso perceber, que não é de grande
facilidade compreender se os recorrentes tons trash são propositais ou não. As
péssimas escolhas para definir o fim dos personagens nos momentos mais importantes
do filme, deixam a entender que essas cenas gore, de um trash mal conduzido,
foram de péssima direção. O pior, claro, é perceber que se trata de um terror
que era para ser levado a sério e, no fim, se mostrou trash; não um trash que
simplesmente queria ser trash.
Como se não bastasse o principal elemento negativo de uma
obra de horror, Carpenter ainda é infeliz ao não sustentar boas justificativas aos atos de seu antagonista. Não explica de onde veio, o que quer, ou a razão de suas
atitudes. É um serial killer que se aproveitou do espírito da tradição do
halloween para voltar a sua cidade e aterrorizá-la; é uma desculpa muito questionável para
se satisfazer como razão aos problemas. Dessa forma, o diretor pauta-se
unicamente a apresentar seu vilão em cenas clássicas de aparecimento. Depois de
três oportunidades que o antagonista aparece, todas as próximas cenas perdem a
graça, é facílimo perceber onde e em que momento ele irá aparecer, ajudado,
ainda, por enquadramentos que só faltam apontar para a posição que irá ocupar
em cena. Broxante.
Buu! |
Esse vilão sustenta o padrão
clássico de serial killer de filmes de horror que ficou famoso pela sua burrice.
Apresenta-se malvado ao extremo, utiliza uma máscara para acobertar seu rosto e
não é capaz de matar duas criancinhas e duas meninas apavoradas. Tem uma faca
na mão e perde o duelo para uma garota num armário que o vence lutando com um
cabide; ora, isso é um zumbi, não é não? Aliado a isso, é possível perceber, já
na primeira cena, uma grande falha na direção da cena de suspense, que é também
o primeiro plano do filme: aquele que se apresenta como um menino no início e,
de imediato, não nos é revelado, é narrado por uma câmera trêmula em primeira
pessoa, nos colocando em seu campo de visão. Após revelar que aquilo ali seria
um garotinho de, no máximo, 1,50m, fica explícita a falta de percepção para
narrar as antigas cenas em um ângulo mais condizente com a altura do garoto.
Halloween, então, carrega em si uma fama questionável. Não
dá para acreditar que esse tipo de horror funcionava tão bem no fim dos anos
70. Sem trabalhar de modo eficiente seus personagens, com atuações muito
razoáveis, inúmeras falhas na direção e um enredo incapaz de justificar a
conexão e a profundidade da história, pode-se dizer, assim como outros exemplos,
que Halloween se encaixa no padrão filme-evento, pautando sua narrativa numa tradição
que é muito mais desenvolvida do que a própria história que ele mesmo deseja
contar.
Destaque sonoro:
Destaque sonoro: