Crítica: O Abrigo


No contexto atual, no qual a insegurança e a falta de discernimento sobre os múltiplos medos e atentados rondam a nossa sociedade e nossas casas, o filme O Abrigo (Take Shelter, 2011) é uma análise bastante aguda e subjetiva dessa situação.

Curtis (Michael Shannon), tem um emprego regular, uma esposa bela e amorosa (Jessica Chastain), que dedica todos os seus esforços ao marido e a filha. Inicialmente aparece a figura da família tradicional em meio a uma pequena cidade dos Estados Unidos, isso dá ao espectador uma breve sensação de tranquilidade.

Mas Curtis aos poucos começa a sentir medo; visões de uma tempestade avassaladora, raios e trovoadas que surgem e desaparecem, gotas densas e oleosas, pesadelos brutais com as pessoas mais próximas.

Seria muito difícil ficar indiferente a todos esses sinais, Curtis precisa proteger a sua família, afinal de contas a pequena cidade já foi realmente atingida por tempestades e tornados. 

A reação é fazer uma grande reforma no abrigo contra tempestades, um lugar protegido, embaixo do solo, comum nas casas daquela região. Os sinais são cada vez mais claros. Essa tempestade será avassaladora e mortal, talvez dure muito tempo, talvez traga gases mortais da estratosfera, talvez - O ABRIGO precisa ser reformado!

Logo que a reação de Curtis em relação ao medo se torna descomunal perante os fatos, ele percebe que talvez os sinais, a insegurança e o medo, não sejam algo exterior, mas algo de errado com a sua própria mente.

Nesse ponto se torna obrigatório ressaltar a atuação magistral de Shannon, lidando com o contraditório da natureza humana, os medos privados, ameaças externas, relacionamento, trabalho. Ele expõe isso de forma bastante subjetiva e contundente, auxiliado pela narrativa e a direção (Jeff Nichols), que não simplificam o personagem, nem as situações.

Mesmo buscando ajuda de especialistas, as circunstâncias pioram, os sinais e o medo são crescentes e as reações cada vez mais instintivas e irracionais. A narrativa cresce com esses conflitos, assim como as atuações, os nuances, como o relacionamento com a filha surda e o clima interiorano da cidade se contrapõe ao estado interno de Curtis de forma excelente.



Por fim, é interessante analisar o filme dentro do contexto atual, onde o medo e a insegurança são figuras de retórica utilizadas por todos, os economistas exaltam o medo do mercado, os governos alardeiam o colapso do sistema, do desemprego, de ameaça de programas nucleares, a mídia expõe assassinatos, estupros, catástrofes ambientais. Como deve o pai de família se portar perante tudo isso? Até onde a reação normal faz realmente sentido?

O Abrigo talvez não seja uma resposta tão incoerente quanto possa parecer.


 

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