A solidão é a única companhia. É do título emprestado de parachoque de caminhão que se extrai o espírito empreendido na viagem documental e sentimental do cidadão-protagonista. A facilidade de classificar e rotular a simplicidade do longa traduz a clareza com que ele tende a se comunicar com o espectador. Pouco degustável, o longa aceita sua condição de apostador, e joga suas fichas no sentimentalismo da única história linear contada pelo único personagem existente.
A narração em off escancara mais uma evidência da generalização deste ato. Sem dar nome ao personagem e exibir sequer por um momento a sua imagem, fica clara a intenção a rotulação sobre a condição apresentada no drama estrada afora. A partir deste fácil entendimento, aceita-se este protagonista como um exemplar a que se insere a sua história de vida. Os convites insistentes em acompanhar a melancolia e isolamento daquele que possivelmente não é um caminhoneiro, torna excessiva a utilização de pontos que desnorteiam a história do longa, e por vezes a dispersão opta por agir. A utilização pontual de câmera na mão é a concretização da tentativa de se personalizar e garantir um tom de realismo total, por mais que a utilização desta câmera nos induza sempre a imaginá-la na mão de alguém, representando seus olhos.
Mais que um road-movie, a tática pé na estrada apresentada acaba por evidenciar a tristeza e a dor da obrigação de tal personagem a se distanciar de quem ama. Ele deixa-se interpretar, por exemplo, como uma visão realista e documental da vida dos viajantes e caminhoneiros. Ao apresentar-se quase como uma homenagem aos caminhoneiros, com óbvia trilha sonora selecionada neste sentido, tem-se o veredito de que sua intenção por vezes não é esclarecida.
Ao que cabe ao personagem, sua trajetória narrativamente dramática e insatisfeita demonstra a desilusão sobre a distância de seu amor. Nada é animador, nem o percurso obrigatório a fim de trabalho nem a sua experiência vivida no interior do nordeste brasileiro. Este amor por vezes excessivo é substituído na única possibilidade interpretativa no longa. Das primeiras contagens de dias e horas para o retorno para casa, restou o descaso com o interesse inicial. A vontade muda, a necessidade faz do protagonista um exemplo de seu erro. A traição toma a vez para retratar a necessidade de companhia do rapaz, mesmo que emergencialmente explicada por ele: "Viajo porque preciso, não volto porque te amo''. A artificialidade toma frente para representar os seus sentimentos, tudo aquilo que o tempo desbota a cor, onde sua vida perde a graça e não parece passar de gotas de orvalho artificiais em pétalas de flores de plástico.
O documentário-drama dirigido por Karim Ainouz e Marcelo Gomes em 2007 de fato tem seus defeitos como um filme convencional. Sua orientação condiz com a simples ideia e evidente escassez de recursos para a realização. Contudo, não justifica. Seria demasiado interesse buscar qualidades excepcionais num trabalho que não resume eficiência. Essa vontade de representar a vida no ardor diário de um geólogo inconsciente de seus prazeres não parece borbulhar em convencimentos. Nessa tentativa de dialogar com o expectador, nem sempre parece haver vontade de se prestar atenção na história que quer contar.