Em tempos de falta de atitude, a sociedade parece aceitar-se como derrotada dela mesma no jogo de regras falhas que tentara criar para sua própria organização coletiva. Ao mesmo tempo que as imagens mostram uma atitude reacionária, idealista e revolucionária, monta-se um paralelo para despertar e criar ponto-a-ponto o cenário oposto, marcado por inúmeros casos que denotam a falta de atitude, a prisão, o medo e a aceitação sobre a perda, a consciência concreta de uma impotência auto-imposta. Na intensa profundidade e ousadia de Edukators, Os Educadores (Die Fetten Jahre Sind Vorbei, 2004), um longa independente alemão, a competência deste jogo de cenas é tamanha que os momentos memoráveis tornam-se incontáveis.
A narrativa sustenta-se em diversos pontos de releitura sobre a atitude do homem em seu contexto social de organização contemporâneo, e põe o homem como causador de suas mazelas, das agonias e tristezas causadas pela sua falta de organização. Essa ousadia em contar e relembrar a história recente do homem obriga ao diretor Hans Weingartner atender à algumas ligeiras obrigações em seu roteiro.
Suas necessidades não partem, porém, do interesse de relembrar nenhum fato da história de luta, guerra ou batalhas de qualquer origem, sejam trabalhistas, políticas, estudantis, ou qualquer outra, mas da obrigação de "por à mesa" algumas perguntas cruciais que botam em xeque o pensamento do próprio espectador. Junto à contradição e ao arriscado interesse final dessa história, todas as situações que parecem confusas, dúbias e interpretativas, resumem, ao fundo, a própria insegurança de cada espectador sobre a certeza se as atitudes apresentadas são corretas, morais, éticas e legais.
Suas necessidades não partem, porém, do interesse de relembrar nenhum fato da história de luta, guerra ou batalhas de qualquer origem, sejam trabalhistas, políticas, estudantis, ou qualquer outra, mas da obrigação de "por à mesa" algumas perguntas cruciais que botam em xeque o pensamento do próprio espectador. Junto à contradição e ao arriscado interesse final dessa história, todas as situações que parecem confusas, dúbias e interpretativas, resumem, ao fundo, a própria insegurança de cada espectador sobre a certeza se as atitudes apresentadas são corretas, morais, éticas e legais.
Certo é, obviamente, entender este longa como uma leitura à ele mesmo em meio à sociedade que o assiste, ou seja, sua história e sua mensagem partem em busca de um ideal, de um interesse em mexer com a massa, de rever pensamentos, e, consequentemente, atitudes de todos aqueles que mostram-se aceitos pela estrutura de organização social que, certamente, não condiz com justiça. Assim, pode-se definir como fator motivador deste filme, justamente a justiça/injustiça social e, para isso, ele adota uma atitude controversa no intuito de chocar aqueles que estão insatisfatória e inconscientemente aceitos e sem poder de mudança sobre a sociedade.
Na trama, Jan (Daniel Brül) e Peter (Stipe Erceg) são dois amigos que possuem um ideal, que refletem sobre o modo de organização da sociedade atual e buscam demonstrar suas visões através do choque e do espanto. Eles querem que seus "alvos" tenham, acima de tudo, a capacidade de conscientizar-se sobre o favorecimento que a política capitalista lhes dá. Jan e Peter cruzam um paralelo sobre o que seria justiça ou, melhor dizendo, o que não seria justiça financeiramente saudável quando se analisa a rentabilidade que o capital favorece a alguns e desfavorece a outros.
Na trama, Jan (Daniel Brül) e Peter (Stipe Erceg) são dois amigos que possuem um ideal, que refletem sobre o modo de organização da sociedade atual e buscam demonstrar suas visões através do choque e do espanto. Eles querem que seus "alvos" tenham, acima de tudo, a capacidade de conscientizar-se sobre o favorecimento que a política capitalista lhes dá. Jan e Peter cruzam um paralelo sobre o que seria justiça ou, melhor dizendo, o que não seria justiça financeiramente saudável quando se analisa a rentabilidade que o capital favorece a alguns e desfavorece a outros.
Jan e Peter são Os Educadores, um grupo formado para provocar espanto e insegurança social aos ricos. Eles entram em mansões e buscam deixar uma mensagem. Bagunçam os móveis, mas não quebram nada nem roubam, apenas registram sua passagem. Antes de sair, deixam um bilhete, geralmente com a mensagem "vocês tem dinheiro demais". É provocativo. Muito provocativo. Dentre suas bem-sucessidas invasões, uma, porém, lhes renderia uma situação não esperada. Ao invadir a mansão de um magnata para praticar seus atos, Peter e Jule (Julia Jentsch), a namorada de Jan, são pegos em flagrante pelo dono, e, não sabendo de prontidão qual atitude tomar, decidem sequestrar o cara para uma casa no campo.
Lá se desenvolverão todas as situações mais profundas do longa. Jan, Peter, Jule e Hardenberg, a vítima (nesse ato), terão conversas pacíficas sobre as atitudes idealistas dos rapazes, suas mensagens, seus interesses e suas visões sobre aquilo que os motiva. O homem cria sua estrutura social, mas na visão destes, o modelo deixa de ser democrático para sustentar-se numa ditadura capitalista. Para Hardenberg, ele apenas usufrui e "joga o jogo" da sociedade, faz valer as regras que ele não criou. Essas dúvidas são de todos, e o grupo tem consciência da sua dúvida, afinal, "culpado é quem cria a arma ou quem puxa o gatilho?".
Assim, lentamente se constroi conscientemente uma situação de incoerência e egoísmo. Essa sensação individualista apresenta-se influente nas atitudes instintivas de ambos os personagens. O egoísmo, na verdade, propõe que o homem busca, de modo basicamente instintivo, a atender primariamente a seus interesses de conforto, não à provocar sofrimento aos demais. Por fim, o que se lê das atitudes é uma sensação puramente individualista de tudo e de ambas as partes. É onde o longa chega em seu ápice interpretativo, nossas atitudes e buscas por justiças sociais são, primeiramente, uma atitude individualista de interesse de justiça social. Ninguém procura mais o bem do outro do que o próprio, e quando isso não se alcança, regressamos em nossos instintos e contentamo-nos no prazer individualista.
Assim, lentamente se constroi conscientemente uma situação de incoerência e egoísmo. Essa sensação individualista apresenta-se influente nas atitudes instintivas de ambos os personagens. O egoísmo, na verdade, propõe que o homem busca, de modo basicamente instintivo, a atender primariamente a seus interesses de conforto, não à provocar sofrimento aos demais. Por fim, o que se lê das atitudes é uma sensação puramente individualista de tudo e de ambas as partes. É onde o longa chega em seu ápice interpretativo, nossas atitudes e buscas por justiças sociais são, primeiramente, uma atitude individualista de interesse de justiça social. Ninguém procura mais o bem do outro do que o próprio, e quando isso não se alcança, regressamos em nossos instintos e contentamo-nos no prazer individualista.
As trocas de informações entre o executivo refém e o grupo reacionário rende, ainda, uma surpresa por parte dos dois. À medida que se conhecem e conversam, percebem os por quês de suas atitudes diferenciadas e, mesmo não concordando com a prática, entendem seus ideais e respeitam as diferenças. Mesmo que inconscientemente, forma-se uma estrutura interessante para tentar justificar a situação. O executivo é apresentado como um ex-revolucionário, que atualmente não desfruta de seu vigor e força em prol de causas sociais. Já os rapazes são jovens com energia, incomodados com as percepções incorretas sobre a sociedade e cheios de vontade de mudar. Essas divergências são interessantes pois, além de tudo, a perceptível diferença de idade entre ambos parece querer responder algumas perguntas. Hardenberg já não tem mais ideologias para aventurar-se nessa mudança, e, como se diz, "algumas pessoas nunca mudam". Já era previsto.
O homem tende a entrar nesse ciclo vicioso de insatisfação com o sistema, sua juventude reacionária é barrada pela comodidade e falta de esperança dos mais velhos, que funcionam como evento paralisador da mudança. Parece que tudo é apenas uma questão de tempo, esperando apenas as forças cessarem para iniciar-se mais uma rotina viciosa a alimentar o sistema que se autodestroi, e quando as forças individuais não se sobressaem às coletivas, é tempo de parar, de aceitar a ineficiência e começar a jornada individual na busca de uma falsa satisfação solitária.