Crítica: A Estrada


Às vezes parece que nada fascina tanto a humanidade quanto a vontade de ver tudo acabado. Ok, não é de hoje que o ser humano se pergunta de onde veio e para onde vai, mas esta incógnita sobre a sua origem está cada vez menos interessante e importante a cada dia que passa. Esse interesse mal-resolvido é traduzido para o cinema de diversas formas, e fazer filme de apocalipse está virando clichê. Afinal, qual é o filme de apocalipse que você mais gosta? É, se dá pra fazer esta pergunta é porque já existem diversas alternativas como resposta.

Contudo, como forma de comunicação em massa e a força de expressão que tem o cinema, também não seria interessante se não víssemos estas adaptações, afinal (lá vai meu clichê) o ser humano está tomando atitudes cada vez mais perigosas, pondo em risco a existência de vida na Terra. Porém, incomoda ver filmes "boom", tanto na parte artística e apelativa a que ele se sujeita quanto no seu (ausente) conteúdo, que as vezes não passam de meros filmes-pipoca.

Neste cenário, A Estrada (The Road, 2009) dirigido por John Hillcoat vem nos propor e saudar com uma história comovente. Mais que uma obra de ficção pós-apocalíptica, a trama baseia-se num bom drama vivido por um homem (Viggo Mortensen) e seu filho (Kodi Smit-McPhee), onde seus únicos objetivos são adiar a sua morte, e quem sabe, encontrar uma saída cada vez menos provável para suas vidas. Na trama, o garoto nasce no período pós-apocalíptico, e, portanto, não tem noção nenhuma de como eram todos aqueles locais devastados e destruídos a que ele encara como única verdade. Sem a capacidade de fazer comparações e remeter-se a lembranças de um mundo diferente deste, o ponto principal da narrativa baseia-se nas conversas que ele tem com seu pai. Cabe então ao pai, tentar traduzir e fazer colorir na mente da criança a beleza (?) que era a vida antes desta catástrofe.



Sem rumo e objetivos maiores, a vida perde sentido para o homem, enquanto que para o menino a sua vida nem chega a ganhar um. Não há mais leis, senão a da sobrevivência. Lentamente o espectador percebe que o caos é total na vida dos personagens, e passa a torcer pelo (mesmo que desesperançoso) sucesso dos dois. Nada mais importa para eles, e o longa conduz-se variando entre as explicações e lembranças do pai e a interminável busca por comida, em que, nos poucos seres humanos que ainda sobreviveram, esta desordem política faz com que o canibalismo seja compreendido. A confiança não existe quando se encontra uma outra pessoa, mesmo que esta jure o contrário, afinal, o que você pensa sobre ela, ela também pode estar pensando de você. Contudo, assim como as antigas leis da humanidade ante-apocalíptica, a necessidade da convivência com outros seres humanos ainda é real, e eles arriscam-se a acertar em alguns casos.

O filme retrata a desesperança, tira durante todo o tempo a expectativa de algo melhor, de que possa haver uma saída. Eles rumam ao sul na busca de algo que nem sabem o que possa ser. Não há outra alternativa. A triste perda da esposa abala ainda mais a vida do pai do garoto. Assim segue-se a história, que conta com uma fotografia admirável retratando com extrema realidade (?) os tons de cinza que o mundo se resumiu. Ainda que sem cores, é belo. Belo como esta história que põe em primeiro plano um roteiro original, transformando em arte (ainda) a trágica possibilidade para o desfecho da vida humana.




 

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