Crítica: Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock'n'Roll


"- O senhor tem alguma experiência? - Claro, experiência... é, experiência, né? O quê você quer dizer com experiência? - Empregos anteriores! O quê você sabe fazer? - Ahn? O quê eu sei fazer? É, eu sei fazer... cachimbinhos de durepox! - Cachimbinhos de durepox? E pra que servem cachimbinhos de durepox? - Pra puxar fumo, oras!".

Wood  & Stock: Sexo, Orégano e Rock'n'Roll (2006) se apresenta como uma visão cômica e sadia de uma vida alternativa e com alguns ideais. Neste longa brasileiro dirigido por Otto Guerra o que se sobressai é a boa capacidade de fazer comédia sobre uma família hippie, contada de maneira simples durante apenas 80 minutos em animação, que é infinitamente pouco explorado no Brasil, e já vale pela maneira alternativa de retratar e contar a história.

O filme funciona, dentre aquilo que pode se ver no país do bunda-tiro-futebol é uma opção bem válida, tendo momentos de grandes sacadas e mostrando uma comédia até surpreendente, dependendo, claro, da bagagem e simpatia de cada um com o estilo do filme. Não é um filme de massa, não é uma história profunda, mas tem um roteiro bem cuidado e, dentro de seus propósitos, atinge fácil seus objetivos com seu restrito público-alvo. Além da comédia às vezes irônica e sarcástica, tem boas referências musicais à artistas e bandas de rock nacionais e internacionais. Isso se deve, é claro, pois o modo alternativo e um tanto anárquico dos personagens centrais representa um pouco daquilo que propõe a música e a ideologia do rock'n'roll.

Na trama, Wood, um pai em genética mas não em essência, é quem dá ritmo ao filme. Totalmente descompromissado e desapegado àquilo que ele menciona como "sistema", representa a mentalidade de um típico cara que não tá nem aí pras coisas, deixa as contas atrasarem meses, não toma banho, deixa o lixo do banheiro transbordar e tudo o mais, é um pouco de família no meio de uma grande sujeira. Seu método de vida não é muito compreensível pela esposa - mas que também não dá lá os melhores exemplos - e é totalmente contrário aos princípios do filho, que deseja estudar economia e seguir uma vida "normal". Aí, uma das boas e quase imperceptíveis ideias: retratar o desleixo e a falta de compromisso e responsabilidade por parte do pai, talvez mostrando um pouco daquilo que num futuro próximo possamos ver - ou não.



Para completar o elenco, Wood tem, como não poderia deixar de ser, a companhia de seu grande amigo Stock, que pede para morar em sua casa depois da morte de seu pai. Após este fato, sua esposa decide deixar a casa por motivos um tanto óbvios, mas nada que seja muito lamentado pelo marido. O que importa mesmo é fumar, nada mais. Fumar orégano. Essa droga liberada e vendida com toda a praticidade de adquiri-las no supermercado. A felicidade haverá enquanto a droga também houver. E é somente quando ela acaba que Wood percebe - em suas ideias - que tem algo de errado. É hora de tomar banho, arrumar um emprego e se vender ao sistema! É aí que decidem então montar uma banda, reviver os velhos tempos e transformar toda a experiência - ou falta de - vida acumulada em música. Assim, Wood, Stock, um ex-colega e o incrível porco-cantor-psicodélico formam o Chiqueiro Elétrico. Genial. Buscarão, através da música, novas oportunidades e condições de vida, embora não muito aceitáveis pelos membros da banda.

Ouvir Chiqueiro Elétrico tocar é magnífico, válido de bis, mesmo com a infinita limitação musical, mas ver um porco cantar, ou melhor, grunhir em sons de canto é indescritível. É, quem sabe, a melhor forma de encarar o longa, onde, assim como os pesonagens centrais, dá bem a entender qual o espírito adotado pelos produtores e roteiristas, e deixa transcender uma vontade/interesse amargurado em ver a comédia em situações cada vez menos improváveis, e que cientes da falta de público, interesse, divulgação e aceitação da grande massa de espectadores brasileiros, o que importa é o ideal, saber que a consciência de um ótimo trabalho para os poucos será o bastante pra por o resto todo num papelzinho, enrolar, tragar e festejar em sua ignorância.




 

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