Inicialmente, eu ia escrever mais uma daquelas listas do tipo 10+ ou 15+, porém logo me dei conta de que a quantidade de filmes de vampiros é tão boa, que não daria para escolher tão poucos. A seguir, decidi dividir a lista em 2 partes, uma só com filmes de vampiros e outra só com Drácula. Também seria pouco. Logo me vi dividindo a lista em décadas, trilogias, gêneros (suspense, comédia, erótico)... No final o texto acabou virando isto aqui: um mega compêndio com quase tudo que vale a pena ser visto dos mais adorados monstros da cultura pop. Com um pouco de sorte, ela será útil para você.
Porém foi só em 1922 que a coisa realmente engrossou. No auge do expressionismo alemão, o diretor F. W. Murnau deu uma aula de cinema ao criar o mais cultuado (e considerado por muitos o melhor) filme do gênero de todos os tempos. Nosferatu (1922) foi uma adaptação fiel ao romance de Stoker, porém uma vez que a produção não conseguiu os direitos sobre o texto original, mudou os nomes dos personagens. Assim, o vampiro central é chamado de Conde Orlok, uma figura assustadora que representa a própria encarnação do mal, interpretada com perfeição por Max Schreck. Nosferatu assustou plateias do mundo inteiro e tornou-se a obra prima de Murnau que entregou outros bons filmes de terror como Phantom (1922) e Fausto (1927) antes de sua prematura morte em 1931, que interrompeu sua prolífica produção.
Porém a saga do vampiro careca não acabou aí. Em 2000, uma ideia originalíssima fez nascer o enigmático A Sombra do Vampiro (2000). Dirigido por E. Elias Merhige, autor do cultuadíssimo Begotten (comumente citado como um dos filmes mais chocantes já produzidos), e com um elenco capitaneado pelas presenças inspiradas de John Malkovich e William Dafoe, o filme parte de uma premissa nascida de uma lenda do mundo do cinema, a que o Nosferatu do longa original de 1922 não era um ator, mas sim um vampiro de verdade. Em A Sombra do Vampiro, o diretor Murnau (Malkovich) faz um pacto com o vampiro (Dafoe) para que este atue em seu filme, com a promessa de poder tomar o sangue da atriz principal ao término das filmagens. É evidente que o vampiro não pode ser controlado e a situação logo começa a se complicar.
Este primeiro longa-metragem deu início a uma série de produções do gênero pela Universal. Cinco anos depois, o estúdio lançou A Filha de Drácula (1936), estrelando Gloria Holden como a Condessa Marya Zaleska. O filme é uma sequência relativa dos eventos do longa anterior. Posteriormente, o estúdio ainda lançou O Filho de Drácula (1943), estrelado por outra lenda do cinema de terror, Lon Chaney Jr., que já era bastante conhecido por sua atuação em O Lobisomen (1941). Uma curiosidade é que Chaney fez uma participação na adaptação para as telas da HQ Agente Secreto X-9, como o corcunda Maroni. Hoje, O Filho de Drácula é bastante citado entre os fãs por ter sido o primeiro filme em que Drácula vira morcego diante das telas.
Em 1945, Chaney participou de duas interessantes produções envolvendo o vampiro, porém desta vez ele estava interpretando seu papel mais famoso, O Lobisomen. A Casa de Frankenstein (1944) e A Casa de Drácula (1945) trazia um encontro entre os três grandes monstros do cinema, Drácula, Lobisomen e Frankenstein, sendo que o papel do Conde ficou a cargo de John Carradine.
A título de curiosidade vale ressaltar que o longa-metragem original com Lugosi foi refilmado no final dos anos 70. Drácula (1979) foi dirigido por John Badham (então no auge por causa do sucesso de Os Embalos de Sábado a Noite) e tinha uma atmosfera completamente diferente do filme de 1931. Apesar do visual cafona, contou com uma atuação competente de Frank Langella.
O próximo grande ator a se eternizar no papel do Conde foi Christopher Lee. Sua estreia foi em O Vampiro da Noite (1958), uma tradução péssima do original Horror of Dracula, no qual ele fazia uma dobradinha excelente com Peter Kushing (no papel de Van Helsing). A atuação de Lee foi marcante e assustadora; ele já havia vivido outro monstro do cinema em A Maldição de Frankenstein (1957), porém seu Drácula era algo mais. Ele realmente empregava contornos ao personagem até então inexplorados no cinema. Apesar do sucesso, o ator ficou quase uma década longe do vampiro – e aqui cabe um aviso, em 1963 ele estrelou um filme dirigido por Mario Bava que as distribuidoras brasileiras batizaram de Drácula – o Vampiro. Apesar de bom, este não é um filme sobre o Conde e seu nome original é La Frusta e Il Corpo.
Em meados dos anos 60, Fischer convenceu Lee a retomar o papel principal, mas desta vez com a ausência de Kushing. Drácula – O Príncipe das Trevas (1966) trazia a ressurreição do vampiro. Apesar de não chegar aos pés do filme original, esta e as demais sequências ainda são garantia de uma boa diversão. Na verdade, daí para frente, como se a porteira tivesse sido aberta, Lee começou a fazer Dráculas a torto e direito. Vamos a eles: Drácula – O Perfil do Diabo (1968), Conde Drácula (1970) – este dirigido por Jesus Franco, O Sangue de Drácula (1970), Scars of Dracula (1970), Drácula no Mundo da Minissaia (1972) e Os Ritos Satânicos de Drácula (1973) – neste último finalmente repetindo a parceria com Peter Kushing.
Lee chegou a fazer uma divertida ponta na comédia One More Time (1970), dirigida por Jerry Lewis e estrelada por Sammy Davis Jr., em que aparece no papel do Conde. Quando Lee encerrou sua carreira vampiresca, fechando o que seria a fase de ouro dos Estúdios Hammer, pode parecer que os fãs ficaram órfãos, porém ao longo dos anos muita coisa boa saiu em paralelo ao trabalho dele (algumas produzidas pela própria Hammer).
Não demorou muito para que outra produção fosse feita também com base no livro, e novamente com um dos maiores astros da história de Hollywood. A Última Esperança da Terra (1971) apostava mais na ação e no carisma de seu protagonista Charlton Heston, transformando o thriller em um filme de ação com elementos sobrenaturais. Tal qual seu predecessor, este filme também tomava várias liberdades criativas, modificando a história original, contudo desta vez, o nome do protagonista ao menos foi mantido o mesmo do livro: Robert Neville (no filme com Vincent Price ele havia sido mudado).
A década de 1970 trouxe vários filmes memoráveis, entre eles a série que ficou conhecida como Trilogia Karnstein. Produzida pela Hammer Films, a série foi bastante corajosa ao apresentar cenas de lesbianismo e temática adulta, e apesar de contar com diferentes diretores e elenco, os três filmes foram escritos por Tudor Gates.
A primeira produção dessa leva, Carmilla – A Vampira de Karnstein (1970), foi dirigida por Roy Ward Baker – cuja carreira no cinema foi bastante inexpressiva, o que levou-o a acabar se tornando mais um daqueles diretores genéricos de televisão que ninguém sabe o nome. No papel solo da vampira lésbica Carmilla, também chamada de Mircalla Karnstein, estava a bela atriz inglesa Ingrid Pitt, e o filme foi baseado em uma história original de 1872 do escritor J. Sheridan Le Fanu, o qual foi uma das grandes inspirações para que Bram Stoker escrevesse seu Drácula.
Na verdade, o conto já havia sido levado ao cinema em La cripta e l'incubo (1964), um filme italiano estrelado por ninguém menos que Christopher Lee, porém esta era um versão vagamente inspirada na história de Sheridan, enquanto que o longa de 1970 a segue a risca.
O filme seguinte da trilogia da Hammer foi Luxúria de Vampiros (1971), dirigido por Jimmy Sangster. Para o papel de Mircalla, foi chamada a atriz Yutte Stensgaard, que o que carecia de talento compensava em beleza. A trama cria uma sequência direta para os acontecimentos ocorridos no longa metragem anterior, com a vampira sendo revivida com o sangue de um inocente. Muitas pessoas apontam este como sendo o exemplar mais fraco dos três.
A famosa vampira da novela de Sheridan Le Fanu apareceu em diversas outras produções (inclusive vários curtas-metragens). Nenhuma delas é realmente digna de menção, mas como propósito de curiosidade, vamos citar a série de TV Carmilla – Le Coeur Petrifié (1988), com Emmanuelle Meyssignac no papel da vampira, e a recente produção feita diretamente para o mercado de vídeo, Vampires VS. Zombies (2004), que traz Maritama Carlson interpretando a vampira. As críticas para este longa metragem foram pavarosas, algumas considerando um dos piores filmes já feitos na história do cinema, mas isso é algo que o diretor Vince D'Amato já está habituado (é dele outras bombas como Necrophagia: Nightmare Scenarios, com a atriz pornô Jenna Jameson).
A onda de filme eróticos envolvendo vampiros persistiu durante toda a década de 1970, sendo que podemos destacar alguns expoentes. Jesus Franco, um especialista na área, lançou Vampyros Lesbos (1971), um conto de erotismo e terror protagonizado pela estonteante Soledad Miranda, que infelizmente faleceu logo após as filmagens (o filme foi lançado postumamente).
Alguns anos depois, Blood for Dracula (1974) – também conhecido como Andy Warhol's Dracula (X-rated), é uma história absolutamente maluca na qual o personagem principal, para sobreviver, precisa beber sangue de mulheres virgens. O problema está na dificuldade de encontrá-las, o que o leva a empreender uma viagem para a Itália, onde encontra uma família com quatro supostas filhas virgens. Supostas, sim, pois como o Conde logo descobre, virgindade é algo realmente em falta no mundo moderno. Dirigido por Paul Morrissey, o filme traz o alemão Udo Kier no papel do vampiro.
No ano seguinte, As Filhas de Drácula (1975) levava além a proposta de lesbianismo, com um par de lindas vampiras (Marianne Morris e Anulka Dziubinska) raptando suas vítimas e mantendo-as cativas em sua mansão, e alimentando-se paulatinamente de seu sangue.
Mas não só de erotic thrillers viveram os vampiros na década de 1970. O aterrorizante Condessa Drácula (1971), trazia novamente Ingrid Pitt interpretando um papel seminal. Aqui ela faz Elizabeth Báthory, uma nobre sanguinária que viveu na Hungria no século XVI e tornou-se notória por conta de supostos crimes hediondos cometidos por causa de sua obsessão pela beleza, o que lhe valeu o apelido de Condessa Drácula. O perturbador filme, dirigido por Peter Sasdy, foi outro grande sucesso da Hammer e conta com cenas que até hoje são memoráveis.
A lenda em torno de Elizabeth Báthory foi abordada também em Eterno (2004), estranha, porém competente produção canadense, com Conrad Pla e Caroline Néron no papel de Elizabeth Kane, a suposta Condessa. O filme foi muito falado por causa das cenas de nudez, sexo e lesbianismo, e pela presença de Caroline, na época fazendo um grande sucesso como cantora no Canadá.
The Night Stalker (1972) foi um filme produzido pela rede de televisão ABC que acabou marcando época e, dois anos depois, fez nascer a cultuadíssima série Kolchak e os Demônios da Noite (1974), que infelizmente teve apenas uma temporada. No filme original, o repórter policial Kolchak (Darren McGavin) começa a suspeitar que um serial killer que está atuando em Los Angeles é na verdade um vampiro. Obviamente suas investigações se confirmam e com a ajuda de um agente do FBI, ele precisa combater a criatura. O mais interessante na película é que ela termina em um anticlímax com o personagem principal desacreditado por tudo e por todos, em contraponto ao tradicional final feliz de produções do gênero. Como curiosidade vale ressaltar que entre o filme original e a série, mais um piloto foi produzido, The Night Strangler (1973), sem a ausência de vampiros, mas mantendo o clima sobrenatural.
Outro a explorar a onda de blaxploitation foi Ganja & Hess (1973), um filme muito pouco visto, mas que merece ser descoberto. A variação aqui ocorre por conta da maneira com que o personagem central é contaminado – ao invés da tradicional mordida, o arqueólogo Hess Green torna-se um vampiro após ser esfaqueado com um antigo punhal amaldiçoado por seu assistente.
O criador dos zumbis modernos, George Romero também fez um incursão no gênero com Martin (1977), um filme difícil, ambíguo e impressionante, no qual um homem acredita ser um vampiro de 84 anos e resolve se mudar para uma cidade pequena a fim de tentar curar sua maldição. Seguindo a habitual linha de seus filmes, Romero mergulha na psique do perturbado personagem e cria uma trama que discute a condição humana, a solidão do mundo moderno e o fascínio que crenças religiosas despertam.
O mestre do terror Stephen King começou a ver suas obras serem adaptadas a partir do final da década e o livro A Hora do Vampiro não foi exceção. Dirigido para a televisão por Tobe Hooper (já conhecido por causa do falatório em torno de O Massacre da Serra Elétrica), A Mansão Marsten (1979) adaptava com certa liberdade o livro de King e ainda fazia uma homenagem ao visual do vampiro Nosferatu ao criar seres similares. Apesar de ser um telefilme, Hooper acertou na ambientação e criou uma obra densa e sem concessões e contou com o sucesso do ator David Soul (na época estrelando o seriado Starsky e Hutch) para ajudar a catapultá-la.
No século XXI, o romance de King ganhou mais uma versão que desta vez seguia mais a risca a história original. Com Rob Lowe no papel de Ben Mears, o escritor que retorna a sua cidade natal apenas para descobrir que ela está sendo assombrada por vampiros, Salem’s Lot (2004) foi uma superprodução original da TNT que trazia diversos atores conhecidos fazendo pontas, como Rutger Hauer e Donald Sutherland.
No final dos anos 70, Amor à Primeira M
ordida (1979) fez um grande sucesso, mostrando que o público sempre foi partidário de comédias românticas e açucaradas. Aqui, após ver sua vida na Transilvânia tornar-se impraticável, Drácula (George Hamilton) resolve mudar-se para Nova York e encontrar sua noiva. Um filme que hoje vale mais como uma relíquia curiosa.
ordida (1979) fez um grande sucesso, mostrando que o público sempre foi partidário de comédias românticas e açucaradas. Aqui, após ver sua vida na Transilvânia tornar-se impraticável, Drácula (George Hamilton) resolve mudar-se para Nova York e encontrar sua noiva. Um filme que hoje vale mais como uma relíquia curiosa.
A comédia Transilvânia: Hotel do Outro Lado do Mundo (1985) se centra em dois repórteres (Jeff Goldblum e Ed Begley Jr.) que vão ao país para investigar uma suposta aparição de Frankenstein (?) e acabam encontrando todo tipo de bizarrice, inclusive uma vampira sensualíssima interpretada por Geena Davis.
No mesmo ano, um jovem Jim Carrey em um de seus primeiros papéis precisa lidar com a vampira chamada apenas de Condessa (Lauren Hutton), que precisa beber o sangue de virgens para manter sua beleza na comédia Once Bitten (1985).
Apenas um ano depois, o diretor Robert Bierman lançou O Beijo do Vampiro (1988), com o então pouco conhecido Nicolas Cage e um elenco de apoio que contava com Jennifer Beals (ainda colhendo os louros do sucesso Flashdance) e Maria Conchita Alonso (O Sobrevivente). Na história, um executivo pensa que se tornou um vampiro após um encontro com uma sedutora mulher. A famosa cena em que Nicolas Cage come uma barata (de verdade) entrou para os anais do cinema como uma das mais nojentas e de mau gosto já feitas.
Listar a quantidade de comédias feitas com vampiros é, obviamente, uma tarefa ingrata. Mas esta também foge ao escopo deste texto, cujo objetivo não é ser um compêndio completo, mas apenas um guia do que já foi feito de melhor no gênero. E a década de 1980 foi particularmente produtiva. Pelo menos três filmes merecem destaque e certamente fazem parte de dez a cada dez listas dos melhores.
O sucesso do filme fez com que o estúdio lançasse a continuação três anos depois do original. A Hora do Espanto 2 (1988) repetia a parceria entre Ragsdale e McDowall, mas apresentava um novo desafio, já que o charmoso vampiro do filme anterior havia sido destruído. Aqui a ameaça é uma vampira que busca vingança pelas ações ocorridas anteriormente. Embora seja inferior, esta sequência teve uma boa bilheteria e agradou parte do público.
Outro filme que consta em qualquer lista de dez mais é o excepcional Quando Chega a Escuridão (1987). Dirigido por Kathryn Bigelow (anos antes de ela sequer sonhar em ganhar o Oscar com Guerra ao Terror), o filme é uma mistura muito bem sucedida de terror com road-movie. O elenco jovem conta com nomes (ou rostos) facilmente reconhecíveis hoje como Adrian Pasdar, Bill Paxton e Jenette Goldstein, apoiados pela competente figura de Lance Henriksen. A história gira em torno de um jovem que se une a um grupo de vampiros viajantes para estar perto da moça que ama. A película ultraviolenta chamou a atenção na época de seu lançamento e acabou se tornando um dos grandes clássicos do gênero.
No mesmo ano, o controverso diretor Joel Schumacher (responsável por bons filmes como Um Dia de Fúria e Tempo de Matar, mas também pelas atrocidades Batman Eternamente e Batman & Robin) lançou Os Garotos Perdidos (1987), uma produção da Warner Bros que aproveitava o sucesso que os atores adolescentes Corey Haim e Corey Feldman vinham fazendo. Foi também um dos primeiros destaques na carreira de Kiefer Sutherland, então com 18 anos, bem antes dele tornar-se mundialmente famoso com a série 24 Horas, e do ator Jason Patric (Narc e Incógnito). O filme era bem humorado, divertido, porém cumpria sua proposta e não negava terror nos momentos em que o grupo de vampiros aparecia. Uma aventura adolescente que atualizava o tema, porém de forma respeitosa, com destaque para a excelente trilha sonora.Recentemente, duas continuações péssimas foram lançadas: Lost Boys: The Tribe (2008) e Lost Boys: The Thirst (2010), ambas com participação de Corey Feldman.
Outros filmes de sucesso lançados na década de 1980 foram Fome de Viver (1983) e Vamp – A Noite dos Vampiros (1986). O primeiro, dirigido pelo excelente Tony Scott, trazia um elenco estelar composto por David Bowie, Catherine Deneuve e Susan Sarandon, e recriava de forma mística a lenda do vampirismo, remontando-a até o antigo Egito. Visto hoje, o filme perdeu parte de sua magia e as tão faladas cenas de lesbianismo na época de seu lançamento entre Deneuve e Sarandon não são mais tão impactantes (inclusive perdem para as produções da década anterior), porém é um filme de classe e prestígio, apesar de confuso e de ter envelhecido um pouco.
Vamp, por outro lado, é uma clássica produção B cujo maior atrativo foi ter a cantora Grace Jones (então no auge de seu sucesso) como a sedutora vampira que lidera um grupo de sanguessugas. Hoje vale muito mais como curiosidade.
Também é dos anos 80 uma das melhores animações já feitas sobre o gênero. D – O Caçador de Vampiros (1985) é um desenho japonês futurista dirigido por Toyoo Ashida e Carl Macek, no qual uma garotinha solicita a ajuda de um famoso caçador de vampiros para matar um vampiro que a mordeu, na esperança de evitar que ela própria se torne um deles. O filme só foi lançado nos EUA em 1993, porém no Brasil chegou anos antes em VHS e tornou-se uma fita cult entre apreciadores do gênero. Vale observar que este desenho não tem nada a ver com a péssima série Vampire Hunter (1997), também produzida no Japão e que durou apenas 1 temporada.
A década de 1990 começou com uma produção no mínimo inusitada do gênero, Subspecies (1991). O filme foi uma baixa produção dirigida por Ted Nicolaou que apresentava um vampiro de aspecto horroroso (retomando o conceito estabelecido em Nosferatu de que vampiros têm uma aparência horrível) e maléfico chamado Radu, mas que era indubitavelmente carismático. O que deveria ser mais um longa-metragem a passar despercebido entre as centenas produzidas todos os anos, chamou a atenção por que o diretor resolveu utilizar a antiga técnica de stop motion para compor os efeitos especiais. Por mais absurdo que pareça, a empreitada garantiu certo charme à película e o público aprovou, transformando-o em um clássico dos filmes-B modernos.
O sucesso do primeiro filme deu a possibilidade de Nicolaou de dirigir mais três sequências direto para o mercado de vídeo: Bloodstone: Subspecies II (1993), Bloodlust: Subspecies III (1994) e Subspecies 4: Bloodstorm (1998). Em todos os quatro filmes, o vampiro é interpretado por Anders Hove, ator dinamarquês muito pouco conhecido nos EUA, mas que realiza um bom trabalho como a assustadora criatura. Infelizmente, nenhum dos filmes posteriores recupera a mesma magia e originalidade do primeiro, porém são ainda assim uma boa e descompromissada diversão recomendada para amantes do gênero.
Nicolaou ainda teve oportunidade de dirigir Vampire Journals (1997), um longa-metragem também feito diretamente para o mercado de vídeo, que nada tem a ver com a sua série mais famosa. Aqui, apesar do esforço do diretor em criar algo relevante e do bom roteiro que procura trazer uma ambientação no estilo Anne Rice (bem diferente do que é mostrado em Subspecies), o filme sofre com os péssimos efeitos especiais e atuações de segunda categoria, que o relegaram ao esquecimento. Ainda assim, deve ser assistido sem receio por fãs de Nicolaou.
Naquele mesmo ano estreava o longa metragem Buffy: A Caça-Vampiros (1992), escrito por Joss Whedon e com Kristy Swanson no papel principal. O filme tem o apoio de bons coadjuvantes como Donald Sutherland, Rutger Hauer, Luke Perry e a curiosa presença de Hilary Swank com começo de carreira, porém seu principal mérito foi pavimentar o caminho para a grande série de sucesso Buffy: A Caça-Vampiros (1997-2003). A série foi um mega sucesso que lançou a carreira da atriz Sarah Michelle Gellar, que substituiu Swanson numa bela e humilde jogada de Whedon, que percebeu que um dos principais problemas de seu filme anterior era justamente a escolha da atriz principal. A série ainda rendeu um excelente spin-off, o seriado Angel (199-2004), com David Boreanaz e Charisma Carpenter.
Em 1993, o hoje cultuado diretor Guillermo Del Toro lançou seu primeiro longa-metragem (até então ele só havia feito curtas e séries de TV), Cronos (1993). O filme deu início à parceria com o ator Ron Perlman, com quem o diretor voltaria a trabalhar em diversas ocasiões, e chamou atenção ao apresentar uma visão completamente diferente do vampirismo, ligando a lenda à existência de um antigo artefato criado por um alquimista na idade média. O filme foi um fracasso de bilheteria, mal tendo conseguido pagar seus custos de produção, porém é visto hoje com bastante curiosidade pelos fãs do diretor. Os elementos que viriam a tornar Del Toro famoso e singular já estavam presentes desde este seu trabalho preliminar, que merece ser conhecido.
Outro injusto fracasso de bilheteria é o filme Nadja (1994), dirigido por Michael Almereyda e lançado com a benção de David Lynch, que apesar de não ter envolvimento direto na produção (a não ser por uma ponta como recepcionista do necrotério), tentou usar seu nome para tornar o filme um sucesso e assumiu a função de produtor executivo. Não funcionou. O público não aprovou a história moderna (e maluca) de uma família de vampiros disfuncional que tenta estabelecer uma boa relação entre seus membros para poder sobreviver. A Nadja do título é uma vampira romena que mora em Nova York, que vive em bares na noite caçando suas vítimas. A criatura é interpretada com muito pouco destaque por Elina Löwensohn, talvez um dos motivos que tenha levado o filme a naufragar. A história é bastante truncada e envolve vários personagens (todos bizarros), porém cabe uma menção ao desempenho competente e original de Peter Fonda como Van Helsing. Trata-se de um desconhecido longa-metragem, porém muito bom, que irá agradar aos fãs que curtem filmes no “estilo Lynch”.
O conhecido diretor Neil Jordan, autor de obras primas como Traídos Pelo Desejo e A Companhia dos Lobos, resolveu levar para as telas o romance mais conhecido da escritora Anne Rice. Sob uma chuva negativa de críticas (incluindo da própria, que achava o elenco escalado completamente inadequado), Jordan lançou Entrevista Com o Vampiro (1994), que acabou tornando-se um mega-sucesso mundial. O filme trazia Tom Cruise disposto a levar ao extremo o papel do vampiro Lestat e apagar a imagem de bom moço que todos tinham dele, numa parceria com Brad Pitt (Louis), então em ascensão para tornar-se o novo grande astro de Hollywood. De quebra, contava com a forte performance de Antonio Banderas (recém chegado aos EUA), uma ponta de Christian Slater, e ainda lançou a carreira de Kirsten Dunst. A excelente película calou a boca de (quase) todos seus detratores e provou de vez que vampiros eram de fato grandes imas para atrair bilheterias gordas.
No mesmo ano, a Marvel Comics deu início a trilogia Blade, com Wesley Snipes no papel principal. Blade é um personagem secundário da linha de terror da editora que chegou até mesmo a gozar de um sucesso mediano nos anos 70, época em que fazia par constante com o Homem-Aranha. Despretensiosamente, em parceria com a New Line Cinema, a Marvel Enterprises lançou Blade (1998) sob o comando do especialista em efeitos especiais Stephen Norrington, que queria se firmar como diretor. O filme (muito bom) acabou sendo uma grata surpresa e seu sucesso em todo o mundo não só garantiu que a franquia se tornasse uma trilogia, como também abriu caminho para que a Marvel iniciasse seu império nos cinemas, tanto com filmes próprios, quanto lançados por outros estúdios.
A continuação Blade II (2002) foi dirigida por Guillermo del Toro e é considerada o melhor exemplar da série. Na trama, o herói precisa se aliar aos vampiros para combater uma nova e perigosíssima raça que se alimenta dos próprios vampiros. Infelizmente, o terceiro exemplar da série fechou muito mal a franquia. Blade: Trinity (2004) foi dirigido por David S. Goyer e, apesar de contar com as cativantes presenças de Jessica Biel como Abigail Whistler e de Dominic Purcell no papel de Drake (na verdade o próprio Drácula), o filme literalmente naufraga.
O personagem ainda ganhou uma sobrevida com a malfadada tentativa de lançar uma série de TV. Blade: A Série (2006) trazia Sticky Fingaz no papel principal e uma lista de coadjuvantes sem relevância. Fingaz não tem 1/10 do carisma de Snipes e a série (bastante fraca) não motivou o público, sendo cancelada após 12 episódios.
A virada do milênio trouxe uma reinvenção da lenda que poderia ter sido positiva, porém acabou se revelando apenas uma sucessão de equívocos. Incrivelmente, a produção ganhou alguns fãs e acabou tornando-se uma trilogia. Drácula 2000 (2000) foi dirigido por Patrick Lussier (que anos depois faria a boa refilmagem Dia dos Namorados Macabro) e trazia um bom elenco apoiado em Christopher Plummer (Van Helsing) e um ainda desconhecido Gerard Butler como Drácula, além da presença de vários astros de séries de TV como Jeri Ryan, Omar Epps, Jonnhy Lee Miller e Jennifer Esposito, porém o fraco roteiro e direção não se sustentam. Na história, dois ladrões acordam inadvertidamente o Conde, que decide ir atrás da filha de Van Helsin, Mary (Justine Wadell).
Lussier dirigiu as duas sequências com o apoio de Wes Craven como produtor executivo, porém com orçamento baixo, elenco de segunda (cujo principal destaque é Jason Scott Lee) e diretamente para o mercado de vídeo. Drácula II: Ascenção (2003) e Drácula III: Legado (2005) fazem menção aos eventos do filme anterior, porém criam toda uma nova mitologia para a história, funcionando mais como produtos independentes.
2000 também foi o ano de lançamento de um interessante filme feito para a televisão que tinha a intenção de contar a verdadeira história do Conde Vlad, o Impalador. Dark Prince: The True Story of Dracula (2000) recebeu boas críticas e tinha até mesmo as presenças ilustres de Peter Weller e do roqueiro Roger Daltrey no elenco, porém sofreu um pouco com a falta de carisma de Rudolf Martin no papel principal. Ainda assim, é uma boa dica.
The Hamiltons (2006) foi outra boa surpresa do gênero. O filme mostra a rotina de uma família recém mudada para um pequena cidade, que tem que lidar com a perda de seus pais. David, o filho mais velho, tenta tomar conta de seus irmãos e suprir suas necessidades, porém há mais por trás dessa família do que dizem os olhos. O longa traz um elenco de jovens desconhecidos, bonitos e talentosos, e apesar de oscilar entre drama e suspense, cumpre com as expectativas e segura a onda até o final.
No mesmo ano, uma produção sueca conquistou alguns fãs, a comédia de horror Frostbiten (2006), na qual um médico sintetiza uma droga que transforma as pessoas em vampiros. As coisas saem do controle quando muitas pessoas começam a bebê-la.
Uma besteirada despretensiosa, mas deliciosa de ser vista é Gothic Vampires from Hell (2007), filme feito para o mercado de vídeo. Efeitos sofríveis, atuações péssimas, mortes mal feitas e sangue com cor de groselha barata, mas que irá agradar os fãs de mulheres roqueiras. Destaque para a bela Gina DeVettori, a única que realmente tem algum carisma. Outro telefilme feito sobre o gênero no mesmo ano é Revamped (2007), no qual um executivo se torna um vampiro. Apesar de ser uma grande porcaria, Tane McClure e Christa Campbell estão arrasadoras no papel de Lilith e Lexa.
A famosa HQ de Steven Niles chegou as telas naquele mesmo ano, com roteiro do próprio. 30 Dias de Noite (2007) tinha um elenco de primeira com Josh Harnett, Melissa George (que tem se especializado em filmes de terror, ela também atuou em Cidade das Sombras, Horror em Amityville, Waz, Turistas e Triângulo) e Danny Huston. O filme, dirigido por David Slade, não foi uma unanimidade, porém com o tempo conquistou cada vez mais fãs e hoje costuma ser aceito como uma boa adaptação e filme de horror eficiente. Teve uma continuação execrável feita diretamente para o mercado de vídeo, 30 Dias de Noite 2: Dias Sombrios (2010), com a bonitinha, porém insípida Kiele Sanchez substituindo Melissa no papel de Stella.
O gênero não dá sinais de perder o fôlego, principalmente após a chegada de uma certa série adolescente baseada em livros toscos, porém de extremo sucesso. Contudo, para quem busca originalidade, um bom roteiro, atuações impecáveis, o melhor mesmo é conferir 2019: O Ano da Extinção (2009), longa-metragem escrito e dirigido por Peter e Michael Spierig. Eu sei, eu sei, com esse horroroso título brasileiro (o nome original é Daybreakers) mal dá coragem de chegar pero do DVD, porém este filme é uma grata surpresa. Com um elenco de primeira, Ethan Hawke, Willem Dafoe, Sam Neill e Claudia Karvan, a película conta a história de uma sociedade alternativa futurista em que os vampiros dominaram o mundo e os humanos estão quase extintos – e com eles, toda a comida da nova casta dominante. Uma excelente metáfora para assuntos como preconceito e sustentabilidade, além de ser uma crítica feroz a grandes corporações, este é mais um dos muitos filmes citados neste artigo que merece ser conhecido.
A onda de vampiros varreu novamente a televisão e fez nascer duas séries de bastante sucesso, True Blood (2008-2011), produzida pela HBO e com a presença de Anna Paquin no papel principal, e Vampire Diaries (2009-2011).
Bem, se seu filme favorito não está aqui, minhas sinceras desculpas. Mas tenho a ciência que pelo menos meia dúzia de dicas legais você conseguirá extrair. E como indicação final fica o documentário 100 Years of Horror: Dracula and His Disciples (1996), no qual você poderá assistir a entrevistas com um monte de gente que citei aqui.
Texto enviado por Alexandre Callari, do Pipoca e Nanquim.
Texto enviado por Alexandre Callari, do Pipoca e Nanquim.