Crítica: Durval Discos


Para iniciar minhas colaborações ao Cinemarco Cineclube, escolho o longa Durval Discos (2002) filme brasileiro dirigido por Anna Muylaert, em seu primeiro longa como diretora. Embora filmes brasileiros costumeiramente não tragam bons roteiros ou outras qualidades audio-visuais, este longa, nos faz pensar naquilo que já se conhece: filmes brasileiros são ruins, às vezes se erra e se faz filmes interessantes sobre bandidagem ou comédia. Este é um exemplo do erro.

Durval, protagonista vivido por Ary França, é um quarentão que literalmente parou no tempo. Vive com sua mãe, de seus sessenta e tantos anos, não é casado, vive da venda de Lp's em plena era de lançamento dos CD's, - não por obrigação, por opção - curte o bom e velho rock'n'roll e demonstra, em geral, o estilo "vocês não sabem o que estão perdendo em não ser como eu". E, na trama, o filme concentra seu roteiro no lado A, (comédia) e no lado B, (drama, suspense), onde tudo que parecia rotineiro e pacato transforma-se numa história inesperada e angustiante, que, com a chegada da nova empregada e sua filha Kiki, transformam totalmente o lar da pacata família paulistana.

Esta ideia um tanto simples dá ao filme o virtuoso tom de humor negro, onde, junto com sua mãe, representada por Etty Fraser, levam o filme numa simplicidade cativante, hilária e dramática. Pelo personagem muito bem explorado, talvez parte do público ganhe aceitação e compreensão de seus ideais, aquele pessoal que, ao ver o quarentão, tenha, talvez, até uma certa nostalgia de seus tempos considerados "de ouro".

Em trabalhos iniciais, geralmente, diretores hoje consagrados ou bem-vistos não tem trabalhos tão aplaudidos. É uma época de aprendizagem, de emoção, em que o instinto pode aflorar muitas vezes e superar a razão. Por este fato, o filme inicial da diretora, mereça, talvez, um ponto a mais, uma homenagem à qualidade humorística e à vida que dá aos seus personagens.





Pra não dizer que tudo são elogios, assim como os lados A e B a que o filme sugere em sua trama, também percebe-se uma certa divisão ao montar sua história, já que o filme segue num bom ritmo e vai convencendo o telespectador de sua ideia inicial, levando-o a perguntar-se qual o fim destinado a Durval e sua mãe Carmita, porém, seu fim talvez tenha sido o ato falho da diretora, que não dá ao filme um final tão interessante quanto o trabalho em si.

Contudo, o longa é realmente uma boa comédia, merecedora de seus diversos prêmios em festivais nacionais, estilo de comédia que, a cada dia, torna-se mais rara. Fica a dica, tirem suas conclusões.






 

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