Artigo: Cenas alternativas de Django Livre

Se vocês forem um pouco antenados, devem saber que tá pra estrear o novo filme do Tarantino, Django Livre (Django Unchained), em 2013, com a promessa que o diretor tentará revigorar ou ao menos homenagear os westerns clássicos de Sergio Leone, com a trilogia dos dólares na década de 60, do qual o queixudo se declara fã. Mesmo que você esteja dando de ombros para esse filme, tem algo muito interessante dele que vale ver.

Em meio as filmagens, vários momentos de ângulos alternativos e totalmente amadores registraram a captura de cenas de Django. E a parada ficou deveras interessante.

O mais oportuno daqui não é revelar as cenas do filme, embora seja um grande spoiler ver esse vídeo. Vale a pena conferir o que dificilmente nos esforçamos para saber sobre a montagem de cenas por trás das câmeras.

Aqui dá pra ter noção da engrenagem que é realizar uma cena, na disposição de máquinas e trilhos, na grande quantidade de gente que fica por trás das câmeras, na dificuldade que é capturar 1 segundo de cena e repeti-la várias vezes, e também é bem interessante ver o diretor trabalhando em cena, apontando seu interesse e mesmo rindo em algum momento. Percebam a dificuldade que é o trabalho de montagem de cenas para o corte final e a importância do som ambiente, que no vídeo encontra-se obviamente ausente.

Esse filme não é o melhor exemplo de grandiosidade produtiva por trás das câmeras, mas o que tá valendo aqui é a boa oportunidade de ver algumas cenas em pré-produção:

Crítica: Rocky - Um Lutador

A aparente redundância intitulada em Rocky – Um Lutador (Rocky, 1976) descreve muito mais que um pugilista. Este lutador não se concentra em músculos, todavia em sua personalidade. Construído sob pouco cérebro, muito músculo e um grande coração, o personagem de Stallone é um exemplo de brilhantismo em sua construção, que revela a visão magistral do próprio ator para abordar o drama de Rocky com um sentimentalismo sem igual.

Este sentimentalismo, o qual pode ser facilmente bem ou mal encarado, é o fator central da história do filme. Ao passo de que muitos podem considerar este exemplar voltado em demasia ao drama, à centralização da pena sobre a dor física e principalmente social do personagem, percebemos momentos singulares que comprovam o merecimento da fama e premiações a que o filme e o ator alcançaram.

Escrito por Sylvester Stallone, esta história e este personagem confundem-se à biografia do ator. Sobre este ponto, consideramos, portanto, que a sua atuação não se dá somente em encenar, mas sim em viver e provar à todos a sua contestada capacidade criativa e cênica. Como ator, Stallone teve de passar pelas adversidades mais cruéis para provar sua capacidade, enfrentando família, péssimas condições financeiras e a ignorância de produtores para o seu possível talento; cenário este que foi totalmente alterado quando o ator conseguiu vender seu roteiro sob a condição única de representar o personagem.

Estas dificuldades dramáticas do ator fazem semelhança à abordagem sobre Rocky. Na cena inicial percebemos um primeiro foco à uma imagem religiosa, que remete à perseverança do lutador; por conseguinte um local sujo, mal preparado, que aponta a má condição de sua carreira e, por último, uma torcida contra a sua vitória nos ringues, a qual quer ressaltar sua incapacidade.

A genialidade do filme está em absorver a dramaticidade do personagem como foco, excluindo a utilização de inúmeras cenas que possam caracterizar um filme esportista. Dessa forma, tem-se apenas duas cenas de luta: a inicial e a de desfecho. Sem amizades, Rocky despeja em seu animal de estimação uma fé demasiadamente mal controlada: “Se você soubesse cantar ou dançar, eu não estaria nessa roubada”.

Nesse sentido, em todo momento ele se intitula como um ignorante e burro, fadado a trocar socos com a vida como se ela fosse pedir perdão à suas más escolhas. Rocky é um diamante que ele mesmo não sabe como lapidar, e as vezes deixa a entender que não quer mesmo encarar os obstáculos dentro e fora dos ringues com muita seriedade. Com as más escolhas que obtém, ele sabe que o verdadeiro nocaute da sua vida suburbana acontecerá em questão de tempo.



Rocky sabe o que constrói uma pessoa campeã, sabe o que constrói um verdadeiro lutador, aquele que deve estar dentro de cada um de nós para duelar com os problemas naturais da vida. Percebemos, em sua caracterização, que esta luta é interna – e nem por isso fácil –, e que a vitória se dá na vontade em agredir nossos maiores medos e indiferenças. Ele está como está pela sua indiferença com os adversários que busca alimentar ao invés de combater, e é por isso que ele se sente ofendido pelo seu treinador quando o seu guarda volume é passado a uma nova promessa. Rocky queria que tudo continuasse como estava, num ciclo de derrotas, mas assim percebe que atitudes devem ser tomadas.

Pugilista de segunda mão, o personagem submete-se a rendimentos extras como agiota, fazendo cobranças à terceiros com a afronta de sua força física, mesmo que ele não tenha coragem de bater nos devedores, quando isso se faz necessário.

A luta de Rocky começa com a oportunidade de enfrentar Apollo Creed, um pugilista respeitado que o desafia sob o interesse de enaltecer sua imagem à semelhança dos EUA como terra da oportunidade (I Want You!). Assim aborda-se também a soberba como fator negativo na personalidade de um lutador.

A partir daí diferentes elementos agregam a nova visão do lutador: Ele toma coragem para conquistar Adrian, irmã de um amigo, e também desenvolve uma relação mais séria com seu treinador.

Rocky – Um Lutador trata com excelente olhar crítico ao destino de sua jornada, e vemos um embate entre a arrogância de um pugilista político que acredita derrubar seu adversário em apenas três rounds, contra a luta interna de Rocky, que se consideraria um vencedor se apenas levasse a luta para o último round, o que resume a ideia de que ele não quer ser ganhador da luta, e sim vencedor de si, onde a conquista do 15º round prova a força de sua luta em ir até o fim.

Entendemos, dessa forma, o contexto e a importância de Rocky subir as escadas, obviamente remetidas ao alcance de um objetivo, degrau a degrau. Contudo é mais interessante ainda perceber que ele não tem fôlego para subi-la na primeira tentativa. Ele só conquista o topo da escadaria do Palácio da Justiça após ser considerado um real lutador, e com certeza este fato passa longe de ser uma coincidência.



Tecnicamente, temos em Rocky – Um Lutador, um exemplar de excelência. As mãos viciadas em movimentos típicos de um lutador, mesmo em momentos fora dos ringues, mostram um detalhe interessante ao personagem. O gueto, local que vive, sua marginalização e a escolha por filmagens noturnas, representam bem a tristeza e o isolamento dele. Entre a transposição da história de Rocky, temos músicas que compõem uma trilha sonora de fácil elogio, abordando principalmente na cena de treinamento do personagem um casamento perfeito para a sensação de busca de objetivo a que ele se insere.
Rocky – Um Lutador seria, não fosse uma abordagem rara de construção de personagem, um filme voltado ao sensacionalismo, ao drama pouco embasado de um mero filme esportivo. Rocky revela-se, contudo, como um exemplar único de conquista, de coragem e honra a princípios. Uma conquista que não precisa ser exteriorizada em títulos e cinturões. Ainda que vencedor do Oscar de Melhor Filme, Stallone já teria provado sua luta a si, o que com certeza para ele valeu mais que a importância que concretizou a sétima arte.


Destaque sonoro:





Artigo: Cenas Emocionantes

Tem certos momentos num filme que a barreira entre ficção e realidade realmente deixa de existir. Se somos capazes de nos comover com a história de um personagem fictício diante de uma 'mera' encenação, é porque a sensação de realidade foi atingida.

Chegar neste nível de realismo é uma tarefa complexa, mas o árduo trabalho propõe uma recompensa eterna e uma gratidão imensa para a vida de cada cinéfilo. Abaixo um vídeo que contempla 50 cenas chamadas de "cortar o coração".

É quando a magia do cinema encontra a realidade e o coração de seu espectador. Ao deleite:


 

Artigo: Sobre a urgência para assistir um filme


Não sei vocês, mas eu não me obrigo a ver nenhum filme com alguma meta de tempo. É muito comum te acharem um alienígena, por exemplo, por não ter assistido Matrix. Eu nunca vi Matrix. O lance é que tem filme que é tão falado e tão comentado que todo mundo praticamente acha que tu TENS que ver o bendito filme, passa a ser uma obrigação e não um exercício de cinema.

Mas eu tenho algo a dizer a essas pessoas: Sentem-se, coloquem o cotovelo posicionado no joelho, abaixem a cabeça e a descansem sobre o seu punho. Vamos pensar.

Um filme nada mais é que uma leitura, uma representação de uma história nova ou recontada, isto é, uma análise parada no tempo acerca de um assunto. Isto quer dizer, meu caro, que um filme se imortaliza tal qual como foi feito, naquele mesmo ano de sua produção. Assisti-lo no seu lançamento ou 20 anos depois será a mesma coisa. O que pouca gente faz é posicionar sua percepção para a época da realização da obra, e ainda acha que está certo. Por isso, se você algum dia viu Frankenstein (1931), vai entender que ele dá de sova numa porrada de filme muito lindinho de hoje em dia. Mas se você não viu, não vá correndo assistir, espere que o seu tempo virá.

Algo que me chama muito a atenção quando vou assistir um filme, é de que eles possuem vida. Sim, vida. Um filme deixa de ser uma simples projeção audiovisual quando ele tem o poder de mexer com o espectador, de encantá-lo, de emocioná-lo e, mais importante, de mudá-lo. Podemos mudar pensamentos, escolher uma profissão, amar um novo animal, respeitar mais o próximo, ter mais raiva do mundo; tudo unicamente proporcionado num filme e o nível de imersão e de conquista que ele alcança em nós. Dessa forma entendo uma película, algo que tem muita alma, guardado para um momento especial que iremos assisti-lo.

Assim, entenda: Assistir um filme com pressa unicamente por obrigação é um erro que pode nunca mais ser corrigido. Espere o momento certo para assistir um filme, espere anos, décadas. Um dia você estará pronto para assisti-lo, e o filme se encarregará de destacar-se na prateleira para você.

Maximize a sensação de um filme para entender melhor a mensagem e a capacidade produtiva da obra, dessa forma você será mais crítico, mais analítico e dará razão para a sua paixão por um filme. Afinal, é muito diferente você surpreendentemente amar um filme e amar um filme que teve que assistir porque todo mundo estava falando bem.

Teria sido melhor assistir o filme do Pelé.

Claro, se você acompanha a obra antes da produção e está imerso na imaginação da história, assista sem medo, você tirará dele o maior proveito. Mas entenda: nunca verás todos os filmes do mundo, e com certeza sua lista de filmes assistidos não conta com várias pérolas cinematográficas. Então, meu caro, faça o seu cinema, curta a sua linguagem, os seus diretores, atores, personagens, assista por país, por gênero, por ano, por movimento, por posição política, pela sua religião, etc. Mas nunca faça seu cinema pautado na urgência de ver um filme porque precisas ver. Só veja O Poderoso Chefão quando quiseres. Só veja Titanic se te der vontade. Esses dias eu vi Ghost e Lagoa Azul pela primeira vez na vida. E é só.

Crítica: Os Outros Caras


A cidade precisa de heróis?

Danson e Highsmith são os policiais durões, que colocam ordem na cidade, como Capitães Nascimento em Nova Iorque, eles usam todo o repertório a disposição para servir a corporação. Bom, não só isso, também para dar coletivas de imprensa como estrelas, ter affair com Kim Kardashian, além de se mostrarem como a supremacia incontestável no ambiente de trabalho.

Os Outros Caras (The Other Guys, 2010) faz a comédia mais absurda e mais pertinente, porque os durões se suicidam de forma hilária, ao som de My Hero, do Foo Fighters - “there goes my hero” - e se foram mesmo. Isso abre espaço para os policiais que não fazem parte do repertório de filmes de policiais.

Do outro lado da masculinidade, acontece uma discussão nonsense entre Terry (Mark Wahlberg) e Gamble (Will Ferrel) sobre a hipótese do primeiro ser um leão e o segundo um atum, que seria comido de qualquer forma, porque Terry iria contra a cadeia alimentar para  se alimentar de Gamble, que produz um som afeminado quando mija.

Um corte brutal após essa cena leva ao mercado financeiro, onde uma empresa está abrindo capital na bolsa de valores, e a presidente recebe a notícia naquele mesmo momento de que perdeu 32 bilhões de dólares.

Mas a graça do filme está nos momentos que aparentemente não tem sentido, o diretor e roteirista constrói duas tramas paralelas sobre duas farsas distantes, mas parecidas.

A empresa que precisa mostrar ser o que não é, em meio à crise financeira, e os policiais que tentam ser os heróis que não são. Na verdade Terry quer, enquanto Gamble se pergunta : “pra que heróis, se vivemos numa cidade de nove milhões de habitantes conscientes, cada um fazendo a sua parte?”.



Aí está a graça, o caso a ser resolvido, que irá transformá-los em heróis é, a princípio, licenças ilegais para construção, Terry pergunta o tempo todo sobre a conexão com cartéis, trafico de órgãos, etc, mas não tem nada tão heroico assim.

No fim das contas o filme é uma brincadeira com a estética dos filmes pré-crise, onde policiais durões brigavam com pequenos vilões e as empresas grandes demonstravam o futuro certo através de gráficos ascendentes. Em resumo: ações em alta, carros beberrões e a certeza de um futuro melhor, ou não. 


 

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