Crítica: Melancolia

No próximo dia 5 de agosto os brasileiros terão oportunidade de conferir o novo filme do polêmico cineasta Lars Von Trier. Para quem não associou o nome à pessoa, basta mencionar seus dois filmes mais famosos: Dogville e Anticristo. Ou você vibrou sentindo-se positivamente energizado, ou então o estômago revirou. Pois com Trier o negócio é exatamente esse, não existe meio-termo. Ame-o ou deixe-o.
Para ser honesto, assisti a todos os seus filmes e a verdade é que apesar de reconhecê-lo como um dos diretores modernos que mais tem domínio sobre seu ofício, não morro de amores pela obra do rapaz. Trier é capaz de criar imagens ímpares, tão belas quanto desconfortáveis, como ninguém; ele arranca atuações especiais de seus atores; promove a junção perfeita entra visual e trilha sonora (inclusive recuperando a força da música clássica) isso, claro, quando ele não está “brincando” com a força do silêncio; enfim, é uma personalidade singular no mundo de hoje, a qual merece a admiração de qualquer um que aprecie cinema, gostando ou não de seus filmes.
Quando ele anunciou que seu longa seguinte (após o controverso Anticristo) seria sobre o fim do mundo, muitas pessoas se preocuparam, ainda mais quando foi sabido que haveria efeitos especiais e planetas colidindo. Ora, esse não parece o tipo de filme que constaria no currículo de um diretor como ele. Pra qualquer pessoa que tenha essa preocupação, pode relaxar: Lars Von Trier continua sendo o mesmo de sempre; ele não se vendeu à “máquina” e nem sequer tentou fazer um filme mais comercial, mesmo que algumas declarações do próprio diretor insinuem essa preocupação. Sim, ele cede a algumas tentações românticas, a começar pelo castelo em que o filme se passa, a escolha das mulheres e a dor que ambas sentem para os papeis principais e, obviamente, a música.
Porém, a verdade é que aqui ele dá sequência ao tipo de cinema que começou a desenvolver no filme anterior, tanto em temática quanto no caráter técnico. Sobre o uso da câmera, temos vários elementos observados em Anticristo: muitos closes, câmera lentíssima, música clássica dando o tom; exceto que aqui ele adiciona mais um elemento (recuperando algo relativamente parecido com o que fazia na época do movimento Dogma 95), uma câmera-testemunha, oscilante, inconstante, trêmula, bem ao estilo do seriado The Shield.
A câmera somos nós, a plateia, o espectador, um terceiro elemento que se sente mais que uma testemunha da história, mas alguém que está efetivamente fazendo parte dela. Nós estamos lá, dentro da tela, lado a lado com os personagens.
Ao término da seção, ouso dizer que para meu gosto pessoal, apesar de desejar que o filme tivesse uns bons 20 minutos a menos, esse é o filme que mais gostei do diretor.
A história é simples. O fim do mundo está chegando por conta de um planeta desgarrado que vem em direção à Terra, batizado levianamente de “Melancolia”. Ao contrário do que faz a maioria dos filmes, que observa a reação da população do planeta em geral, Trier nos leva a uma propriedade privada de um homem absurdamente rico chamado John (Kiefer Sutherland), que não acredita na possibilidade do fim do mundo, preferindo supor que o tal choque não ocorrerá e que Melancolia fará apenas uma breve passagem ao lado da Terra.
Ele é casado com Claire (a excelente Charlotte Gainsbourg) – ela sim apavorada com a possibilidade de encarar o fim de toda a existência – e promove o casamento milionário da irmã de sua esposa, Justine (Kirsten Dunst na melhor atuação de sua carreira – a Palma de Ouro em Cannes foi mesmo merecida).
Mantendo uma das marcas registradas do diretor, o filme é dividido em duas partes, uma para cada irmã; a primeira centrada no drama do casamento de Justine, seus problemas familiares e demônios interiores; as inconsistências típicas dos seres humanos, a luta contra uma depressão aguda cuja causa nunca fica absolutamente clara. É ela que protagoniza os melhores momentos do filme, ao ponto de você imaginar que o universo de melancolia que há dentro da moça, linda, inteligente, bem sucedida, com um homem que a ama e milhares de motivos para sorrir a despeito das dificuldades, é maior que o próprio Melancolia, e tão capaz de destruir o mundo quanto ele.
Justine é chata e irritante, mas você a quer na tela o tempo todo. Sua complexidade é tão notável, quanto adorável. Você a vê no casamento, agindo de forma inconsistente, porém ainda carece de várias informações que só são fornecidas depois. Você a julga, e depois se arrepende de ter julgado. Trier mexe com a plateia de forma singular!
A segunda metade é centrada em Claire e na descoberta que o fim realmente chegou. É quando o filme perde um pouco de sua força e poderia ser abreviado. Nada que tire, de fato, sua beleza e, na verdade, qualquer defeito que a película tenha é deixado de lado por conta da apoteose. A cena final, que você já sabe qual será desde o começo, surpreende e choca; é um cataclisma que deixa um silêncio petrificante na sala de cinema após o término da projeção, e uma sensação incômoda no espectador. No final, ficamos em dúvida se o fim do mundo físico é tão melancólico quanto o fim do mundo emocional dos personagens, atirados todos em um abismo negro que nos leva a questionar nossa própria existência e nossos supostos problemas, mas também nos faz louvar a vida, questionar o fim e a validade do próprio universo.
É um filme sério e triste, com um poderoso trio central e um elenco de apoio com nomes como John Hurt e Stellan Skarsgård, todos eles em grandes momentos, concebido por um diretor claramente diferente e deslocado no mundo, talvez tanto quanto sua personagem principal. Mas, em minha opinião, a despeito das dúvidas que ele próprio tem de sua obra, Trier entrou nos eixos e entregou seu filme mais bonito até o momento.

Destaque sonoro:


Texto enviado por Alexandre Callari, do site Pipoca e Nanquim.



Crítica: Stake Land - Anoitecer Violento


Em meu texto sobre os 100 melhores filmes de vampiros da história, fechei dizendo que acreditava que o gênero ainda tinha muito a oferecer. E não estava sendo demagogo. Apesar do desgaste sofrido nos últimos anos e da exposição ao ridículo na série Crepúsculo, penso que há muitos terrenos ainda não explorados por esse subgênero. E não estava errado.

Eis que chega em minhas mãos Stake Land (2010), um filme que deve agradar a todos os amantes de filmes de vampiros. A premissa é ótima, porém pouco explorada até hoje, pois enquanto filmes com zumbis quase sempre abordam a questão da epidemia, os com vampiros evitam o mote. Quase sempre vampiros são uma classe que vive nas sombras, em pequenos grupos e procura ocultar sua existência da humanidade. Mas não em Stake Land.

Aqui a história começa nos apresentando a um mundo em que tudo mudou. Os sanguessugas se revelaram à humanidade e resolveram fazer o que predadores fazem: caçar. E assim, mais da metade dos EUA está completamente tomada por eles. É aqui que encontramos Martin, um garoto que viu seus pais e seu irmãozinho ainda bebê serem assassinados, mas foi salvo pelo misterioso Mister, um homem durão, porém justo, que resolve treiná-lo para ser um caçador. Pode parecer clichê, talvez até seja, mas o roteiro traça nuances pouco explorados e de formas inusitadas.

Por exemplo, encontramos os tradicionais focos de resistência; cidadezinhas que tentam levar uma vida comum a despeito do drama que as cerca, porém não há nada de idílico ou bucólico nelas. Vemos prostituição, pessoas alquebradas e desiludidas, a volta do escambo e uma crescente preocupação com duas coisas: os vampiros e a Irmandade.

O que é a Irmandade? Um problema pior que os vampiros. Em um mundo sem governo e completamente descentralizado, fanáticos religiosos formaram um grupo que tomou o sul dos EUA e elimina a todos que não fazem parte de seu meio. Vemos estupros e outras maldades, como prender um homem negro nas matas para ser devorado pelos vampiros apenas por ele ser, bem, negro.

As cenas com a Irmandade são boas e responsáveis por grande parte da tensão, porém sempre que os vampiros aparecem, o bicho pega. Pálidos, com a pele acinzentada, lábios ligeiramente deformados e caninos salientes, são seres sem inteligência, movidos apenas por uma coisa: o instinto de matar. Nada de câmera lenta, sangue em CGI ou kung fu (Hollywood está começando a perceber que isso já deu o que tinha que dar), apenas brigas cruas, perseguições, estacas e nenhuma concessão.

Acompanhamos a trajetória da dupla de protagonistas rumo ao Novo Éden (na verdade o Canadá), um lugar frio, para onde os vampiros evitam ir. Lá é onde a humanidade está sendo reconstruída. Ao longo do caminho, junta-se ao grupo um freira, um ex-fuzileiro e uma adolescente grávida – todos heróis improváveis, apenas pelo fato que ninguém é herói em Stake Land. As pessoas só querem sobreviver. Como há de se esperar, poucos conseguem.

O filme é o terceiro filme do diretor Jim Mickle, anteriormente ele havia feito o curta The Underdogs e o fraquinho Mulberry Street – Infecção em Nova York , porém vinha de uma boa experiência como operador de câmera, experiência essa que o ajudou. As tomadas em Stake Land são ótimas. Não temos os irritantes cortes rápidos e alucinantes que viraram moda no cinema moderno, e que não permitem o expectador de ver coisa alguma. Mickle nos faz de fato “ver” a cena acontecendo, e como sua maquiagem é bem feita e o sangue convincente, ele não precisa ficar pulando de câmera para câmera. Também nada de sustos apoiados em trilha sonora. Stake Land não prega sustos no expectador, mas o permite ser envolvido pela história e torna aquele mundo impossível em uma imagem crível.


As atuações são ótimas. O jovem Connor Paolo segura a onda no papel central de Martin. Ele tem um bom carisma e não é daqueles adolescentes chatos que você tem vontade de esganar. O cara entende o mundo que vive e sabe quais são as regras (o que é óbvio, qualquer pessoa que não entendesse já teria virado picadinho). O caçador Mister é interpretado por Nick Damici, e a freira por Kerry McGillis, o que aliás, é de causar espanto a todos que cresceram assistindo Top Gun e foram apaixonados por ela em sua juventude. A mulher está muito velha.

Bem, no frigir dos ovos, Stake Land é o filme que o conceito de vampiros dominando o mundo merece? Não, ainda não. Ele não decepciona, mas não chega a ser grandioso. Porém é um bom passo nessa direção. Fica a dica.



Crítica: The Man from Earth

A julgar pela capa, The Man from Earth (idem, 2007) parece um típico sci-fi, mas não é. É um deliciosíssimo trabalho construído sobre uma ideia originalíssima, da qual subtraem-se diversas análises. É um filme para pensar, mas nem por isso difícil de entender. Este longa é dotado de uma ideia muito simples, da qual muitas pessoas também já devem tê-la imaginado, mas a construção dos diálogos e as conexões das ideias propostas nessa envolvente história são sua maior virtude.

The Man from Earth encaixa-se naquele modelo de filme que se passa num ambiente só, que acabam por exigir do diretor e roteirista muito mais agilidade do que o normal, já que a possibilidade do filme se tornar monótono são elevadíssimas. Nesses filmes, em geral, o espectador não tem muita coisa para se identificar, senão somente a ideia desenvolvida, que, obrigatoriamente, tem que se mostrar inovadora. Pois bem, uma vez que esse risco é habilmente driblado, já se tem meio caminho andado para agradar o público, basta sua narrativa manter um ritmo linear evolutivo no contexto do problema e história de seus personagens. E este longa consegue tudo isso. Esses filmes possuem essa peculiaridade de alternar com o público uma carga maior de adrenalina e tensão da trama, onde a possibilidade de envolvimento é bem maior. A exemplo, tem o recente Enterrado Vivo (Buried, 2010), e os mais antigos Jogos Mortais (Saw, 2004), O Cubo (The Cube, 1997),  Ponto de Mutação (Mindwalk, 1990), Janela Secreta (Rear Window, 1954) e Festim Diabólico (Rope, 1948); muito ou pouco, a trama destes filmes fundamentam-se num local específico que geralmente serve apenas como pano de fundo para a história.

Em The Man from Earth, a história é ousada: John Oldman (David Lee Smith) é um professor universitário, e está de malas prontas para mudar-se da cidade e largar seu atual emprego. Para sua despedida, convida seus colegas professores para um encontro em sua residência. Naquela noite qualquer, tudo não passaria de apenas um dia fadado à sua singela confraternização se John não decidisse revelar um detalhe de sua vida para os demais: que possui 14.000 anos de idade. Uma vez feita essa revelação, o filme adota uma linha investigativa e desmembra-se com uma característica clara de entrevista.

Este tom de entrevista que o longa adota intercala duas necessidades básicas: responder às imediatas dúvidas dos demais colegas de John e as mesmas incertezas presentes nos espectadores. Com a justificativa de que queria se mostrar transparente com os demais colegas antes de sua viagem de despedida, esse é o motivo que impulsiona-o a revelar sua verdadeira identidade. John troca de cidade e amigos a cada dez anos, para que seus colegas não percebam a sua incapacidade de envelhecimento da pele.

Assim, as inúmeras explicações de Oldman (percebeu o trocadilho?) revelam como ele viveu na pré-história, como desenvolveu-se nos grupos primatas, como acompanhou a evolução da humanidade, sua relação com os maiores pensadores e filósofos, as invenções humanas e sua relação com familiares e a perda de todos aqueles que possuía admiração. Após estas repostas emergenciais, se observa uma tendência de impor a dúvida ao espectador sobre todas as afirmações feitas por ele, onde começa-se a perceber os pontos de maior genialidade da trama. Seguindo uma iniciação explicativa científica sobre os fatos, os diálogos se alteram e evoluem para um patamar religioso, que é obrigatório, diante da realidade revelada sobre John. Ele caracteriza, assim, sua relação com Buda, com as diversas religiões e o Cristianismo.

Outro ponto interessantíssimo do filme é a ambientação escolhida para o desenvolvimento narrativo de toda a história. Entre seus colegas professores, estão pessoas de nível profissional altíssimo, em diversas áreas: um arqueólogo, um biólogo, um psicólogo e uma religiosa devota ao Cristianismo. Essas pessoas representam um pouco da diversidade de estudos e pensamentos humanos que direcionam-se a tentar explicar e entender um ponto em comum: a história e origem humana. Nesse sentido, o trabalho do desconhecido diretor Richard Schenkman consegue não ser tendencioso, algo que poderia comprometer em muito seu trabalho. A apresentação de suas ideias de cunho científico e religioso tentam unicamente observar e apontar para uma análise investigativa sobre a história humana, apresentando através dos demais personagens, a total incapacidade de uma conclusão real sobre esta condição. As características apontam para uma total ignorância e arrogância do homem em querer garantir que sua história se passou realmente como está documentada.

A característica mais importante dessa história é construir e desconstruir suas afirmações, mostrando a capacidade que temos de pensar conforme o meio e a sociedade ao nosso redor, formulando nossas opiniões pautadas nessas análises já existentes e as defendendo como imutáveis. O que o filme consegue fazer nesse sentido é surpreendente. John transforma o pensamento de veteranos estudiosos, torna-os condicionados ao SEU pensamento, e tem a ousadia de destruir toda a história contada em apenas poucos minutos, fator que acaba revelando a fragilidade de pensamento dos seres humanos.

Bruce Dickinson, é você?


The Man from Earth não parece querer mais que isso. Propõe-nos uma história que, a primeira vista, parece absurda, mas convence-nos com a grandeza de sua audácia e belíssimo roteiro. Apesar do perigo de transformar tudo numa baboseira sem tamanho, convence verdadeiramente em suas intenções de mostrar-nos um ponto-de-vista diferente sobre a incerteza que os humanos possuem sobre suas origens. É profundo mesmo em seus pequenos 87 minutos de duração.

Este longa americano á uma excelente dica de filme independente, pautado na liberdade narrativa com um propósito incomum. Não tem uma produção foda (teve apenas duzentos mil dólares de investimento), nem atores de ponta, e foi disponibilizado para download gratuito na internet pelo seu próprio diretor. Uma pena que sua divulgação não tenha ocorrido na mesma proporção de seu merecimento, algo comum por aqui, e que nem possibilitou uma tradução de título no Brasil.


Destaque sonoro:




Artigo: Os 100 Melhores Filmes de Vampiros da História


Inicialmente, eu ia escrever mais uma daquelas listas do tipo 10+ ou 15+, porém logo me dei conta de que a quantidade de filmes de vampiros é tão boa, que não daria para escolher tão poucos. A seguir, decidi dividir a lista em 2 partes, uma só com filmes de vampiros e outra só com Drácula. Também seria pouco. Logo me vi dividindo a lista em décadas, trilogias, gêneros (suspense, comédia, erótico)... No final o texto acabou virando isto aqui: um mega compêndio com quase tudo que vale a pena ser visto dos mais adorados monstros da cultura pop. Com um pouco de sorte, ela será útil para você.



Bem, mas sem mais atrasos, vamos ao que interessa. Muita gente pensa (erroneamente) que Nosferatu foi o primeiro filme do gênero. Isso não é verdade. Antes dele houveram outros – na verdade muitos outros, a maioria pouco digna de menção. O primeiro filme sobre vampiros foi Vampire of the Coast (1909), na época em que o cinema era ainda bem jovem – e mudo. O filme foi lançado apenas 12 anos após Bram Stoker ter publicado sua obra prima, Drácula, e foi seguido por uma explosão de filmes do gênero. Alguns, de fato, ganharam certa notoriedade, como os curtas-metragens The Vampire (1913), com Alice Hollister e The Vampire’s Trail, que ficaram famosos por terem sido dirigidos por Robert G. Vignola. Outros destaques são Vampires of the Night (1914) e The Kiss of a Vampire (1916).

Porém foi só em 1922 que a coisa realmente engrossou. No auge do expressionismo alemão, o diretor F. W. Murnau deu uma aula de cinema ao criar o mais cultuado (e considerado por muitos o melhor) filme do gênero de todos os tempos. Nosferatu (1922) foi uma adaptação fiel ao romance de Stoker, porém uma vez que a produção não conseguiu os direitos sobre o texto original, mudou os nomes dos personagens. Assim, o vampiro central é chamado de Conde Orlok, uma figura assustadora que representa a própria encarnação do mal, interpretada com perfeição por Max Schreck. Nosferatu assustou plateias do mundo inteiro e tornou-se a obra prima de Murnau que entregou outros bons filmes de terror como Phantom (1922) e Fausto (1927) antes de sua prematura morte em 1931, que interrompeu sua prolífica produção.

No final da década de 1970, o diretor Werner Herzog resolveu refilmar o clássico original, transportando a atmosfera expressionista para um clima mais contemporâneo. Execrado desde o início de sua empreitada por macular o que era perfeito, Herzog surpreendeu a todos os críticos quando entregou um filme sensacional, que se não superava o original, ao menos fazia juízo a ele. Nosferatu – O Vampiro da Noite (1979) trazia Klaus Kinski no papel principal e de quebra uma jovem Isabelle Adjani como Lucy.

Porém a saga do vampiro careca não acabou aí. Em 2000, uma ideia originalíssima fez nascer o enigmático A Sombra do Vampiro (2000). Dirigido por E. Elias Merhige, autor do cultuadíssimo Begotten (comumente citado como um dos filmes mais chocantes já produzidos), e com um elenco capitaneado pelas presenças inspiradas de John Malkovich e William Dafoe, o filme parte de uma premissa nascida de uma lenda do mundo do cinema, a que o Nosferatu do longa original de 1922 não era um ator, mas sim um vampiro de verdade. Em A Sombra do Vampiro, o diretor Murnau (Malkovich) faz um pacto com o vampiro (Dafoe) para que este atue em seu filme, com a promessa de poder tomar o sangue da atriz principal ao término das filmagens. É evidente que o vampiro não pode ser controlado e a situação logo começa a se complicar.

O primeiro filme de relevância produzido nos EUA veio quase uma década depois do Nosferatu de 1922. O Universal Studios produziu a primeira adaptação do romance de Stoker, Drácula (1931), com Bela Lugosi no papel título. O ator entregou uma das visões mais contundentes do vampiro e eternizou-se no cinema. Apesar de ter protagonizado filmes muito bons como White Zombie (1932) e O Gato Preto (1934), nada conseguiu apagar o impacto que a atuação como Drácula teve em sua carreira, algo que o acompanharia até o fim de seus dias.

Este primeiro longa-metragem deu início a uma série de produções do gênero pela Universal. Cinco anos depois, o estúdio lançou A Filha de Drácula (1936), estrelando Gloria Holden como a Condessa Marya Zaleska. O filme é uma sequência relativa dos eventos do longa anterior. Posteriormente, o estúdio ainda lançou O Filho de Drácula (1943), estrelado por outra lenda do cinema de terror, Lon Chaney Jr., que já era bastante conhecido por sua atuação em O Lobisomen (1941). Uma curiosidade é que Chaney fez uma participação na adaptação para as telas da HQ Agente Secreto X-9, como o corcunda Maroni. Hoje, O Filho de Drácula é bastante citado entre os fãs por ter sido o primeiro filme em que Drácula vira morcego diante das telas.

Em 1945, Chaney participou de duas interessantes produções envolvendo o vampiro, porém desta vez ele estava interpretando seu papel mais famoso, O Lobisomen. A Casa de Frankenstein (1944) e A Casa de Drácula (1945) trazia um encontro entre os três grandes monstros do cinema, Drácula, Lobisomen e Frankenstein, sendo que o papel do Conde ficou a cargo de John Carradine.

A título de curiosidade vale ressaltar que o longa-metragem original com Lugosi foi refilmado no final dos anos 70. Drácula (1979) foi dirigido por John Badham (então no auge por causa do sucesso de Os Embalos de Sábado a Noite) e tinha uma atmosfera completamente diferente do filme de 1931. Apesar do visual cafona, contou com uma atuação competente de Frank Langella.

O próximo grande ator a se eternizar no papel do Conde foi Christopher Lee. Sua estreia foi em O Vampiro da Noite (1958), uma tradução péssima do original Horror of Dracula, no qual ele fazia uma dobradinha excelente com Peter Kushing (no papel de Van Helsing). A atuação de Lee foi marcante e assustadora; ele já havia vivido outro monstro do cinema em A Maldição de Frankenstein (1957), porém seu Drácula era algo mais. Ele realmente empregava contornos ao personagem até então inexplorados no cinema. Apesar do sucesso, o ator ficou quase uma década longe do vampiro – e aqui cabe um aviso, em 1963 ele estrelou um filme dirigido por Mario Bava que as distribuidoras brasileiras batizaram de Drácula – o Vampiro. Apesar de bom, este não é um filme sobre o Conde e seu nome original é La Frusta e Il Corpo.


A primeira sequência de O Vampiro da Noite trazia Kushing de volta ao papel de Helsing, porém contava com a ausência de Lee. As Noivas de Drácula (1960) foi dirigido por Terence Fisher (mesmo diretor do longa anterior) e trazia a atriz Martita Hunt no papel da Baronesa Meinster.

Em meados dos anos 60, Fischer convenceu Lee a retomar o papel principal, mas desta vez com a ausência de Kushing. Drácula – O Príncipe das Trevas (1966) trazia a ressurreição do vampiro. Apesar de não chegar aos pés do filme original, esta e as demais sequências ainda são garantia de uma boa diversão. Na verdade, daí para frente, como se a porteira tivesse sido aberta, Lee começou a fazer Dráculas a torto e direito. Vamos a eles: Drácula – O Perfil do Diabo (1968), Conde Drácula (1970) – este dirigido por Jesus Franco, O Sangue de Drácula (1970), Scars of Dracula (1970), Drácula no Mundo da Minissaia (1972) e Os Ritos Satânicos de Drácula (1973) – neste último finalmente repetindo a parceria com Peter Kushing.

Lee chegou a fazer uma divertida ponta na comédia One More Time (1970), dirigida por Jerry Lewis e estrelada por Sammy Davis Jr., em que aparece no papel do Conde. Quando Lee encerrou sua carreira vampiresca, fechando o que seria a fase de ouro dos Estúdios Hammer, pode parecer que os fãs ficaram órfãos, porém ao longo dos anos muita coisa boa saiu em paralelo ao trabalho dele (algumas produzidas pela própria Hammer).

Em 1964, Vincent Price protagonizou no cinema a primeira adaptação do romance Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson. Ao contrário da impressão que o filme homônimo mais recente com Will Smith possa ter deixado no público que não leu o livro, originalmente os mortos-vivos de Matheson não eram zumbis, mas uma criatura muito mais próxima dos vampiros. Mortos que Matam (1964), apesar de tomar muitas liberdades com relação à história original, foi um grande sucesso e é tido hoje como um dos clássicos do gênero.

Não demorou muito para que outra produção fosse feita também com base no livro, e novamente com um dos maiores astros da história de Hollywood. A Última Esperança da Terra (1971) apostava mais na ação e no carisma de seu protagonista Charlton Heston, transformando o thriller em um filme de ação com elementos sobrenaturais. Tal qual seu predecessor, este filme também tomava várias liberdades criativas, modificando a história original, contudo desta vez, o nome do protagonista ao menos foi mantido o mesmo do livro: Robert Neville (no filme com Vincent Price ele havia sido mudado).

A década de 1970 trouxe vários filmes memoráveis, entre eles a série que ficou conhecida como Trilogia Karnstein. Produzida pela Hammer Films, a série foi bastante corajosa ao apresentar cenas de lesbianismo e temática adulta, e apesar de contar com diferentes diretores e elenco, os três filmes foram escritos por Tudor Gates.

A primeira produção dessa leva, Carmilla – A Vampira de Karnstein (1970), foi dirigida por Roy Ward Baker – cuja carreira no cinema foi bastante inexpressiva, o que levou-o a acabar se tornando mais um daqueles diretores genéricos de televisão que ninguém sabe o nome. No papel solo da vampira lésbica Carmilla, também chamada de Mircalla Karnstein, estava a bela atriz inglesa Ingrid Pitt, e o filme foi baseado em uma história original de 1872 do escritor J. Sheridan Le Fanu, o qual foi uma das grandes inspirações para que Bram Stoker escrevesse seu Drácula.


Na verdade, o conto já havia sido levado ao cinema em La cripta e l'incubo (1964), um filme italiano estrelado por ninguém menos que Christopher Lee, porém esta era um versão vagamente inspirada na história de Sheridan, enquanto que o longa de 1970 a segue a risca.

O filme seguinte da trilogia da Hammer foi Luxúria de Vampiros (1971), dirigido por Jimmy Sangster. Para o papel de Mircalla, foi chamada a atriz Yutte Stensgaard, que o que carecia de talento compensava em beleza. A trama cria uma sequência direta para os acontecimentos ocorridos no longa metragem anterior, com a vampira sendo revivida com o sangue de um inocente. Muitas pessoas apontam este como sendo o exemplar mais fraco dos três.

No ano seguinte, Gêmeas do Mal (1972), trazia Damien Thomas como um descendente de Mircalla, o Conde Karnstein. A vampira, interpretada desta vez pela atriz Katya Wyeth, faz apenas uma pequena ponta na película. Dirigido por John Hough, a novidade neste filme foi que as protagonistas eram duas irmãs, Frieda e Maria Gellhorn, interpretadas pelas playmates gêmeas na vida real Mary Collinson e Madeleine Collinson. Na verdade, Gêmeas do Mal se passa antes dos eventos relatados em Carmilla, sendo, portanto, um prequel.

A famosa vampira da novela de Sheridan Le Fanu apareceu em diversas outras produções (inclusive vários curtas-metragens). Nenhuma delas é realmente digna de menção, mas como propósito de curiosidade, vamos citar a série de TV Carmilla – Le Coeur Petrifié (1988), com Emmanuelle Meyssignac no papel da vampira, e a recente produção feita diretamente para o mercado de vídeo, Vampires VS. Zombies (2004), que traz Maritama Carlson interpretando a vampira. As críticas para este longa metragem foram pavarosas, algumas considerando um dos piores filmes já feitos na história do cinema, mas isso é algo que o diretor Vince D'Amato já está habituado (é dele outras bombas como Necrophagia: Nightmare Scenarios, com a atriz pornô Jenna Jameson).

A onda de filme eróticos envolvendo vampiros persistiu durante toda a década de 1970, sendo que podemos destacar alguns expoentes. Jesus Franco, um especialista na área, lançou Vampyros Lesbos (1971), um conto de erotismo e terror protagonizado pela estonteante Soledad Miranda, que infelizmente faleceu logo após as filmagens (o filme foi lançado postumamente).



Alguns anos depois, Blood for Dracula (1974) – também conhecido como Andy Warhol's Dracula (X-rated), é uma história absolutamente maluca na qual o personagem principal, para sobreviver, precisa beber sangue de mulheres virgens. O problema está na dificuldade de encontrá-las, o que o leva a empreender uma viagem para a Itália, onde encontra uma família com quatro supostas filhas virgens. Supostas, sim, pois como o Conde logo descobre, virgindade é algo realmente em falta no mundo moderno. Dirigido por Paul Morrissey, o filme traz o alemão Udo Kier no papel do vampiro.

No ano seguinte, As Filhas de Drácula (1975) levava além a proposta de lesbianismo, com um par de lindas vampiras (Marianne Morris e Anulka Dziubinska) raptando suas vítimas e mantendo-as cativas em sua mansão, e alimentando-se paulatinamente de seu sangue.

As produções recentes que possivelmente foram vistas pelo publico mais jovem que procuram resgatar aquela mesma proposta da década de 70 ao misturar erotismo, terror e um toque de humor, carecem de originalidade, sensualidade e até mesmo da ousadia daqueles antigos filmes. Por exemplo, o curta-metragem Vampyros Lesbos (2008) dirigido por Matthew Saliba (que faz uma homenagem ao filme original de Franco) e o alardeado Matadores de Vampiras Lésbicas (2009) não chegam aos pés dos filmes que os inspiraram, alguns dos quais citei aqui. Sem aquele saudosismo babaca de que apenas as coisas antigas eram boas, mas dando o crédito devido, a dica é simplesmente descobrir o que vale a pena, o que em geral significa retornar à fonte.

Mas não só de erotic thrillers viveram os vampiros na década de 1970. O aterrorizante Condessa Drácula (1971), trazia novamente Ingrid Pitt interpretando um papel seminal. Aqui ela faz Elizabeth Báthory, uma nobre sanguinária que viveu na Hungria no século XVI e tornou-se notória por conta de supostos crimes hediondos cometidos por causa de sua obsessão pela beleza, o que lhe valeu o apelido de Condessa Drácula. O perturbador filme, dirigido por Peter Sasdy, foi outro grande sucesso da Hammer e conta com cenas que até hoje são memoráveis.

A lenda em torno de Elizabeth Báthory foi abordada também em Eterno (2004), estranha, porém competente produção canadense, com Conrad Pla e Caroline Néron no papel de Elizabeth Kane, a suposta Condessa. O filme foi muito falado por causa das cenas de nudez, sexo e lesbianismo, e pela presença de Caroline, na época fazendo um grande sucesso como cantora no Canadá.

The Night Stalker (1972) foi um filme produzido pela rede de televisão ABC que acabou marcando época e, dois anos depois, fez nascer a cultuadíssima série Kolchak e os Demônios da Noite (1974), que infelizmente teve apenas uma temporada. No filme original, o repórter policial Kolchak (Darren McGavin) começa a suspeitar que um serial killer que está atuando em Los Angeles é na verdade um vampiro. Obviamente suas investigações se confirmam e com a ajuda de um agente do FBI, ele precisa combater a criatura. O mais interessante na película é que ela termina em um anticlímax com o personagem principal desacreditado por tudo e por todos, em contraponto ao tradicional final feliz de produções do gênero. Como curiosidade vale ressaltar que entre o filme original e a série, mais um piloto foi produzido, The Night Strangler (1973), sem a ausência de vampiros, mas mantendo o clima sobrenatural.

A década de 70 viveu muitos movimentos interessantes, entre eles o que ficou conhecido posteriormente como blaxploitation – uma extensão do exploitation (um tipo de filme, em geral de baixo orçamento, cuja temática “explora” assuntos sensacionalistas e muitas vezes de mau gosto) – que já tinha tantos fãs quanto detratores. Assim, da mente do diretor William Crain surgia Blácula (1972), no qual um príncipe africano é transformado em um vampiro pelo próprio Drácula. Inadvertidamente ele é levado para Los Angeles, onde libera sua sede de sangue ao mesmo tempo em que assedia a jovem Tina, na verdade a reencarnação de seu antigo amor. O que poderia ser uma piada de mau gosto acabou se transformando em um longa interessante que reconta a história original de Stoker de forma inusitada e criativa. O filme contou com um boca a boca adicional ao apresentar o primeiro casal gay de vampiros da história do cinema. Uma continuação bastante inferior foi lançada no ano seguinte, Scream Blacula Scream (1973), cujo principal atrativo era a presença de Pam Grier no papel de Lisa Fortier (um ano depois ela estouraria como Foxy Brown).

Outro a explorar a onda de blaxploitation foi Ganja & Hess (1973), um filme muito pouco visto, mas que merece ser descoberto. A variação aqui ocorre por conta da maneira com que o personagem central é contaminado – ao invés da tradicional mordida, o arqueólogo Hess Green torna-se um vampiro após ser esfaqueado com um antigo punhal amaldiçoado por seu assistente.

Naquele mesmo ano, outro exemplar digno de nota saiu sob a alcunha do diretor Dan Curtis. Apesar de produzido para a televisão inglesa, o roteiro de Drácula (1973) foi escrito por ninguém menos que Richard Matheson, e para o papel principal Curtis chamou uma das lendas do cinema, Jack Palance, então no auge de sua carreira. O trabalho do ator foi muito bem aceito e embora não possa ser equiparado ao de Lugosi ou Lee, garantiu que o filme fosse bem sucedido e distribuído no mundo inteiro.

O criador dos zumbis modernos, George Romero também fez um incursão no gênero com Martin (1977), um filme difícil, ambíguo e impressionante, no qual um homem acredita ser um vampiro de 84 anos e resolve se mudar para uma cidade pequena a fim de tentar curar sua maldição. Seguindo a habitual linha de seus filmes, Romero mergulha na psique do perturbado personagem e cria uma trama que discute a condição humana, a solidão do mundo moderno e o fascínio que crenças religiosas despertam.

O mestre do terror Stephen King começou a ver suas obras serem adaptadas a partir do final da década e o livro A Hora do Vampiro não foi exceção. Dirigido para a televisão por Tobe Hooper (já conhecido por causa do falatório em torno de O Massacre da Serra Elétrica), A Mansão Marsten (1979) adaptava com certa liberdade o livro de King e ainda fazia uma homenagem ao visual do vampiro Nosferatu ao criar seres similares. Apesar de ser um telefilme, Hooper acertou na ambientação e criou uma obra densa e sem concessões e contou com o sucesso do ator David Soul (na época estrelando o seriado Starsky e Hutch) para ajudar a catapultá-la.

Alguns anos depois, veio a inevitável continuação. Dirigida por Larry Cohen (Nasce um Monstro e A Coisa), o filme Retorno a Salem's Lot (1987) trazia Michael Moriarty no papel principal, porém acabou se revelando uma sucessão de equívocos. Hoje, grande parte dos fãs prefere esquecer essa produção.

No século XXI, o romance de King ganhou mais uma versão que desta vez seguia mais a risca a história original. Com Rob Lowe no papel de Ben Mears, o escritor que retorna a sua cidade natal apenas para descobrir que ela está sendo assombrada por vampiros, Salem’s Lot (2004) foi uma superprodução original da TNT que trazia diversos atores conhecidos fazendo pontas, como Rutger Hauer e Donald Sutherland.

Os sugadores de sangue não escaparam das dezenas de comédias que apareceram ao longo dos anos. Sem dúvida a melhor e mais conhecida é A Dança dos Vampiros (1967), uma obra prima divertidíssima de Roman Polanski, e também um dos últimos filmes da linda atriz Sharon Tate, antes de seu brutal assassinato pela seita de Charles Mason. O film conta inclusive com uma famosa cena da atriz nua na banheira.
No final dos anos 70, Amor à Primeira M
ordida (1979) fez um grande sucesso, mostrando que o público sempre foi partidário de comédias românticas e açucaradas. Aqui, após ver sua vida na Transilvânia tornar-se impraticável, Drácula (George Hamilton) resolve mudar-se para Nova York e encontrar sua noiva. Um filme que hoje vale mais como uma relíquia curiosa.

A comédia Transilvânia: Hotel do Outro Lado do Mundo (1985) se centra em dois repórteres (Jeff Goldblum e Ed Begley Jr.) que vão ao país para investigar uma suposta aparição de Frankenstein (?) e acabam encontrando todo tipo de bizarrice, inclusive uma vampira sensualíssima interpretada por Geena Davis.

No mesmo ano, um jovem Jim Carrey em um de seus primeiros papéis precisa lidar com a vampira chamada apenas de Condessa (Lauren Hutton), que precisa beber o sangue de virgens para manter sua beleza na comédia Once Bitten (1985).

Ainda na década de 1980, o diretor Fred Dekker nos entregou uma pequena gema, Deu a Louca nos Monstros (1987). Dekker tem uma carreira interessante; ele lançou-se como escritor (é dele a história do ótimo House – A Casa do Espanto) no mesmo ano em que dirigiu o bom Night of the Creeps (1986), depois escreveu e dirigiu episódios da série de TV Contos da Cripta, porém sua grande aposta era o filme RoboCop 3, que deveria lançar sua carreira de vez. Infelizmente, o filme lançou-a para o fundo do poço, de onde ele não se recuperou. Mas qualquer coisa que ele tenha feito depois não tira o brilhantismo desta que é uma das melhores aventuras juvenis já produzidas no cinema. O filme tem o mérito de trazer de volta todos os monstros clássicos da Hammer em uma trama divertidíssima, crível e com bons momentos de ação. Destaque para o Drácula cruel e calculista interpretado por Duncan Regehr.

Apenas um ano depois, o diretor Robert Bierman lançou O Beijo do Vampiro (1988), com o então pouco conhecido Nicolas Cage e um elenco de apoio que contava com Jennifer Beals (ainda colhendo os louros do sucesso Flashdance) e Maria Conchita Alonso (O Sobrevivente). Na história, um executivo pensa que se tornou um vampiro após um encontro com uma sedutora mulher. A famosa cena em que Nicolas Cage come uma barata (de verdade) entrou para os anais do cinema como uma das mais nojentas e de mau gosto já feitas.

Já na década de 1990, um dos gênios da comédia, Mel Brooks lançou Drácula – Morto Mas Feliz (1995), uma paródia sensacional com Leslie Nielsen (na crista da onda por causa do sucesso de Corra Que a Polícia Vem Aí) como o Conde. O filme tornou-se um dos mais queridos pelos fãs, com sequências hilárias, uma atuação inspirada e engraçadíssima de Nielsen e a presença da linda Amy Yasbeck no papel de Mina Murray. Um destaque é que o próprio Mel Brooks interpreta o atrapalhado caçador de vampiros Van Helsing.

Listar a quantidade de comédias feitas com vampiros é, obviamente, uma tarefa ingrata. Mas esta também foge ao escopo deste texto, cujo objetivo não é ser um compêndio completo, mas apenas um guia do que já foi feito de melhor no gênero. E a década de 1980 foi particularmente produtiva. Pelo menos três filmes merecem destaque e certamente fazem parte de dez a cada dez listas dos melhores.

A Hora do Espanto (1985) foi dirigido por Tom Holland (que três anos depois nos entregou o clássico Brinquedo Assassino) e era uma grande homenagem aos filmes da Hammer. O elenco razoavelmente desconhecido (com exceção de Roddy McDowall no papel de Peter Vincent) segura muito bem a história de um jovem que descobre que seu vizinho é um sanguessuga noturno. Destaque para a atuação amalucada de Stephen Geoffreys, que criou uma das mortes mais empáticas de todo o cinema, quando já vampirizado, acaba sendo vítima do personagem principal e seu melhor amigo, Charley (William Ragsdale).

O sucesso do filme fez com que o estúdio lançasse a continuação três anos depois do original. A Hora do Espanto 2 (1988) repetia a parceria entre Ragsdale e McDowall, mas apresentava um novo desafio, já que o charmoso vampiro do filme anterior havia sido destruído. Aqui a ameaça é uma vampira que busca vingança pelas ações ocorridas anteriormente. Embora seja inferior, esta sequência teve uma boa bilheteria e agradou parte do público.

Outro filme que consta em qualquer lista de dez mais é o excepcional Quando Chega a Escuridão (1987). Dirigido por Kathryn Bigelow (anos antes de ela sequer sonhar em ganhar o Oscar com Guerra ao Terror), o filme é uma mistura muito bem sucedida de terror com road-movie. O elenco jovem conta com nomes (ou rostos) facilmente reconhecíveis hoje como Adrian Pasdar, Bill Paxton e Jenette Goldstein, apoiados pela competente figura de Lance Henriksen. A história gira em torno de um jovem que se une a um grupo de vampiros viajantes para estar perto da moça que ama. A película ultraviolenta chamou a atenção na época de seu lançamento e acabou se tornando um dos grandes clássicos do gênero.

No mesmo ano, o controverso diretor Joel Schumacher (responsável por bons filmes como Um Dia de Fúria e Tempo de Matar, mas também pelas atrocidades Batman Eternamente e Batman & Robin) lançou Os Garotos Perdidos (1987), uma produção da Warner Bros que aproveitava o sucesso que os atores adolescentes Corey Haim e Corey Feldman vinham fazendo. Foi também um dos primeiros destaques na carreira de Kiefer Sutherland, então com 18 anos, bem antes dele tornar-se mundialmente famoso com a série 24 Horas, e do ator Jason Patric (Narc e Incógnito). O filme era bem humorado, divertido, porém cumpria sua proposta e não negava terror nos momentos em que o grupo de vampiros aparecia. Uma aventura adolescente que atualizava o tema, porém de forma respeitosa, com destaque para a excelente trilha sonora.Recentemente, duas continuações péssimas foram lançadas: Lost Boys: The Tribe (2008) e Lost Boys: The Thirst (2010), ambas com participação de Corey Feldman.

Outros filmes de sucesso lançados na década de 1980 foram Fome de Viver (1983) e Vamp – A Noite dos Vampiros (1986). O primeiro, dirigido pelo excelente Tony Scott, trazia um elenco estelar composto por David Bowie, Catherine Deneuve e Susan Sarandon, e recriava de forma mística a lenda do vampirismo, remontando-a até o antigo Egito. Visto hoje, o filme perdeu parte de sua magia e as tão faladas cenas de lesbianismo na época de seu lançamento entre Deneuve e Sarandon não são mais tão impactantes (inclusive perdem para as produções da década anterior), porém é um filme de classe e prestígio, apesar de confuso e de ter envelhecido um pouco.

Vamp, por outro lado, é uma clássica produção B cujo maior atrativo foi ter a cantora Grace Jones (então no auge de seu sucesso) como a sedutora vampira que lidera um grupo de sanguessugas. Hoje vale muito mais como curiosidade.

Também é dos anos 80 uma das melhores animações já feitas sobre o gênero. D – O Caçador de Vampiros (1985) é um desenho japonês futurista dirigido por Toyoo Ashida e Carl Macek, no qual uma garotinha solicita a ajuda de um famoso caçador de vampiros para matar um vampiro que a mordeu, na esperança de evitar que ela própria se torne um deles. O filme só foi lançado nos EUA em 1993, porém no Brasil chegou anos antes em VHS e tornou-se uma fita cult entre apreciadores do gênero. Vale observar que este desenho não tem nada a ver com a péssima série Vampire Hunter (1997), também produzida no Japão e que durou apenas 1 temporada.

Anos depois, os diretores Yoshiaki Kawajiri, Jack Fletcher e Tai Kit Mak assumiram uma tarefa dificílima: trazer de volta o caçador D e fazer um filme ainda melhor que o clássico de 1985. Indo de encontro ao pessimismo de milhares de fãs, o trio se empenhou na hercúlea tarefa e, ao contrário do que normalmente ocorre, foi tremendamente bem sucedido. Vampire Hunter D: Bloodlust (2000) foi lançado sob uma chuva de ovações tornando-se o melhor desenho sobre vampiros já feito.

A década de 1990 começou com uma produção no mínimo inusitada do gênero, Subspecies (1991). O filme foi uma baixa produção dirigida por Ted Nicolaou que apresentava um vampiro de aspecto horroroso (retomando o conceito estabelecido em Nosferatu de que vampiros têm uma aparência horrível) e maléfico chamado Radu, mas que era indubitavelmente carismático. O que deveria ser mais um longa-metragem a passar despercebido entre as centenas produzidas todos os anos, chamou a atenção por que o diretor resolveu utilizar a antiga técnica de stop motion para compor os efeitos especiais. Por mais absurdo que pareça, a empreitada garantiu certo charme à película e o público aprovou, transformando-o em um clássico dos filmes-B modernos.

O sucesso do primeiro filme deu a possibilidade de Nicolaou de dirigir mais três sequências direto para o mercado de vídeo: Bloodstone: Subspecies II (1993), Bloodlust: Subspecies III (1994) e Subspecies 4: Bloodstorm (1998). Em todos os quatro filmes, o vampiro é interpretado por Anders Hove, ator dinamarquês muito pouco conhecido nos EUA, mas que realiza um bom trabalho como a assustadora criatura. Infelizmente, nenhum dos filmes posteriores recupera a mesma magia e originalidade do primeiro, porém são ainda assim uma boa e descompromissada diversão recomendada para amantes do gênero.

Nicolaou ainda teve oportunidade de dirigir Vampire Journals (1997), um longa-metragem também feito diretamente para o mercado de vídeo, que nada tem a ver com a sua série mais famosa. Aqui, apesar do esforço do diretor em criar algo relevante e do bom roteiro que procura trazer uma ambientação no estilo Anne Rice (bem diferente do que é mostrado em Subspecies), o filme sofre com os péssimos efeitos especiais e atuações de segunda categoria, que o relegaram ao esquecimento. Ainda assim, deve ser assistido sem receio por fãs de Nicolaou.

O ano seguinte trouxe os vampiros de volta ao primeiro panteão de Hollywood com uma produção milionária que marcou época. Bram Stoker’s Drácula (1992) foi dirigido por Francis Ford Coppola (seguramente um dos maiores diretores da história do cinema) e trazia um elenco de astros e estrelas que incluía Gary Oldman (no papel do Conde), Anthony Hopkins (Van Helsing), Winona Ryder (Mina) e Keanu Reeves (Jonathan). O filme custou em torno de 40 milhões de dólares – o mais caro já produzido até então – e rendeu mais de 215 milhões em todo o mundo. Apesar de momentos de puro horror, muita nudez e sensualidade, e violência, a sensibilidade com que Coppola levou a história de Stoker para as telas lembrou a todos que nas entrelinhas, Drácula ainda era a busca de um homem por sua amada – e, portanto, um romance. O público feminino se encantou com a atuação de Oldman e o filme o catapultou definitivamente para o primeiro time de astros de Hollywood.

Naquele mesmo ano estreava o longa metragem Buffy: A Caça-Vampiros (1992), escrito por Joss Whedon e com Kristy Swanson no papel principal. O filme tem o apoio de bons coadjuvantes como Donald Sutherland, Rutger Hauer, Luke Perry e a curiosa presença de Hilary Swank com começo de carreira, porém seu principal mérito foi pavimentar o caminho para a grande série de sucesso Buffy: A Caça-Vampiros (1997-2003). A série foi um mega sucesso que lançou a carreira da atriz Sarah Michelle Gellar, que substituiu Swanson numa bela e humilde jogada de Whedon, que percebeu que um dos principais problemas de seu filme anterior era justamente a escolha da atriz principal. A série ainda rendeu um excelente spin-off, o seriado Angel (199-2004), com David Boreanaz e Charisma Carpenter.

Em 1993, o hoje cultuado diretor Guillermo Del Toro lançou seu primeiro longa-metragem (até então ele só havia feito curtas e séries de TV), Cronos (1993). O filme deu início à parceria com o ator Ron Perlman, com quem o diretor voltaria a trabalhar em diversas ocasiões, e chamou atenção ao apresentar uma visão completamente diferente do vampirismo, ligando a lenda à existência de um antigo artefato criado por um alquimista na idade média. O filme foi um fracasso de bilheteria, mal tendo conseguido pagar seus custos de produção, porém é visto hoje com bastante curiosidade pelos fãs do diretor. Os elementos que viriam a tornar Del Toro famoso e singular já estavam presentes desde este seu trabalho preliminar, que merece ser conhecido.

Outro injusto fracasso de bilheteria é o filme Nadja (1994), dirigido por Michael Almereyda e lançado com a benção de David Lynch, que apesar de não ter envolvimento direto na produção (a não ser por uma ponta como recepcionista do necrotério), tentou usar seu nome para tornar o filme um sucesso e assumiu a função de produtor executivo. Não funcionou. O público não aprovou a história moderna (e maluca) de uma família de vampiros disfuncional que tenta estabelecer uma boa relação entre seus membros para poder sobreviver. A Nadja do título é uma vampira romena que mora em Nova York, que vive em bares na noite caçando suas vítimas. A criatura é interpretada com muito pouco destaque por Elina Löwensohn, talvez um dos motivos que tenha levado o filme a naufragar. A história é bastante truncada e envolve vários personagens (todos bizarros), porém cabe uma menção ao desempenho competente e original de Peter Fonda como Van Helsing. Trata-se de um desconhecido longa-metragem, porém muito bom, que irá agradar aos fãs que curtem filmes no “estilo Lynch”.

O conhecido diretor Neil Jordan, autor de obras primas como Traídos Pelo Desejo e A Companhia dos Lobos, resolveu levar para as telas o romance mais conhecido da escritora Anne Rice. Sob uma chuva negativa de críticas (incluindo da própria, que achava o elenco escalado completamente inadequado), Jordan lançou Entrevista Com o Vampiro (1994), que acabou tornando-se um mega-sucesso mundial. O filme trazia Tom Cruise disposto a levar ao extremo o papel do vampiro Lestat e apagar a imagem de bom moço que todos tinham dele, numa parceria com Brad Pitt (Louis), então em ascensão para tornar-se o novo grande astro de Hollywood. De quebra, contava com a forte performance de Antonio Banderas (recém chegado aos EUA), uma ponta de Christian Slater, e ainda lançou a carreira de Kirsten Dunst. A excelente película calou a boca de (quase) todos seus detratores e provou de vez que vampiros eram de fato grandes imas para atrair bilheterias gordas.


Na década de 90, as HQs da Kripta ganharam uma série de TV de grande sucesso, que rendeu dois longas-metragens. O segundo, O Bordel de Sangue (1996) era uma despretensiosa diversão repleta de gore, atuações fake, mulheres nuas de cair o queixo, roteiro insípido, tudo isso misturado em um clima meio pastelão que, por incrível que pareça, funciona. A ex-modelo Angie Everhart faz o papel da vampira Lilith, dona do bordel do título, na verdade um grande reduto para um grupo de vampiros. O filme acerta em cheio no elenco, trazendo a participação de gente conhecida dos fãs como Corey Feldman e Chris Sarandon, e ainda escalando para o papel da mocinha a bela Erika Eleniak – na época em evidência por causa do sucesso de Baywatch. Um filme de humor negro, muitas vezes de mau gosto, porém que não se leva a sério em momento algum e deve agradar em cheio aos fãs do gênero.

No mesmo ano, os cinemas foram invadidos por uma surpresa; Um Drink no Inferno (1996), dirigido por Robert Rodriguez (ainda um ilustre desconhecido em Hollywood), porém estrelada por George Clooney (em ascensão por causa de E.R.), Harvey Keitel, Quentin Tarantino, Juliette Lewis e a presença estonteante de Salma Hayek como a vampira Satanica Pandemonium (uma homenagem a um filme de mesmo nome de 1975). O filme é um festival de tosquices e gore, porém todos que entram no clima simplesmente adoram a história dos dois criminosos e seus reféns que vão parar no bar errado. O filme foi um sucesso de bilheteria, deu credibilidade a Rodriguez, e gerou duas continuações bem fracas. Um Drink no Inferno 2: Texas Sangrento (1999) e Um Drink no Inferno 3: A Filha do Carrasco (199) foram produzidos a toque de caixa direto para o mercado de vídeo e, carentes do bom elenco do original, da mão firme do diretor e do charme, só valem mesmo como mera curiosidade.

Um dos mestres do horror também resolveu deixar sua marca no universo dos sanguessugas na década de 90. Vampiros de John Carpenter (1998) foi um filme de baixo orçamento que recuperou o investimento a duras penas, porém acabou crescendo com base no boca a boca e tornou-se outro favorito do público. Estrelado pelo canastrão James Woods (incrivelmente à vontade no papel), o longa conta com um dos melhores vampiros dos últimos tempos, o assustador Jan Valek, interpretado por Thomas Ian Griffith. Carpenter imprimiu um ritmo cartunesco numa trama que envolve a Igreja Católica na criação da lenda dos vampiros, criando um filme híbrido, misto de terror, aventura e road story. No elenco, destaque para Daniel Baldwin, Sheryl Lee (lindíssima e vulgarmente sensual no papel de Katrina, a prostituta que vira uma vampira) e de Maximillian Schell.

No mesmo ano, a Marvel Comics deu início a trilogia Blade, com Wesley Snipes no papel principal. Blade é um personagem secundário da linha de terror da editora que chegou até mesmo a gozar de um sucesso mediano nos anos 70, época em que fazia par constante com o Homem-Aranha. Despretensiosamente, em parceria com a New Line Cinema, a Marvel Enterprises lançou Blade (1998) sob o comando do especialista em efeitos especiais Stephen Norrington, que queria se firmar como diretor. O filme (muito bom) acabou sendo uma grata surpresa e seu sucesso em todo o mundo não só garantiu que a franquia se tornasse uma trilogia, como também abriu caminho para que a Marvel iniciasse seu império nos cinemas, tanto com filmes próprios, quanto lançados por outros estúdios.

A continuação Blade II (2002) foi dirigida por Guillermo del Toro e é considerada o melhor exemplar da série. Na trama, o herói precisa se aliar aos vampiros para combater uma nova e perigosíssima raça que se alimenta dos próprios vampiros. Infelizmente, o terceiro exemplar da série fechou muito mal a franquia. Blade: Trinity (2004) foi dirigido por David S. Goyer e, apesar de contar com as cativantes presenças de Jessica Biel como Abigail Whistler e de Dominic Purcell no papel de Drake (na verdade o próprio Drácula), o filme literalmente naufraga.

O personagem ainda ganhou uma sobrevida com a malfadada tentativa de lançar uma série de TV. Blade: A Série (2006) trazia Sticky Fingaz no papel principal e uma lista de coadjuvantes sem relevância. Fingaz não tem 1/10 do carisma de Snipes e a série (bastante fraca) não motivou o público, sendo cancelada após 12 episódios.

A virada do milênio trouxe uma reinvenção da lenda que poderia ter sido positiva, porém acabou se revelando apenas uma sucessão de equívocos. Incrivelmente, a produção ganhou alguns fãs e acabou tornando-se uma trilogia. Drácula 2000 (2000) foi dirigido por Patrick Lussier (que anos depois faria a boa refilmagem Dia dos Namorados Macabro) e trazia um bom elenco apoiado em Christopher Plummer (Van Helsing) e um ainda desconhecido Gerard Butler como Drácula, além da presença de vários astros de séries de TV como Jeri Ryan, Omar Epps, Jonnhy Lee Miller e Jennifer Esposito, porém o fraco roteiro e direção não se sustentam. Na história, dois ladrões acordam inadvertidamente o Conde, que decide ir atrás da filha de Van Helsin, Mary (Justine Wadell).

Lussier dirigiu as duas sequências com o apoio de Wes Craven como produtor executivo, porém com orçamento baixo, elenco de segunda (cujo principal destaque é Jason Scott Lee) e diretamente para o mercado de vídeo. Drácula II: Ascenção (2003) e Drácula III: Legado (2005) fazem menção aos eventos do filme anterior, porém criam toda uma nova mitologia para a história, funcionando mais como produtos independentes.

2000 também foi o ano de lançamento de um interessante filme feito para a televisão que tinha a intenção de contar a verdadeira história do Conde Vlad, o Impalador. Dark Prince: The True Story of Dracula (2000) recebeu boas críticas e tinha até mesmo as presenças ilustres de Peter Weller e do roqueiro Roger Daltrey no elenco, porém sofreu um pouco com a falta de carisma de Rudolf Martin no papel principal. Ainda assim, é uma boa dica.

O vampiro Lestat voltou às telas na produção A Rainha dos Condenados (2002), que tinha a intenção de transpor de forma mais fiel para o cinema o universo da escritora Anne Rice. O filme, apesar de ser defendido por um pequeno nicho que afirma que ele cumpre sua proposta, sofreu com a péssima direção, ausência de astros e tremenda inadequação da escolha do protagonista, Stuart Townsend, que passa longe do trabalho excepcional que Tom Cruise desenvolveu com seu Lestat. O resultado foi uma bilheteria morna, que por pouco conseguiu pagar o investimento de 35 milhões. Uma nota triste foi a morte prematura da cantora Aaliyah, que fez o papel da vampira Akasha e pretendia lançar sua carreira como atriz.

No mesmo ano o Canadá lançou uma pequena obra prima desconhecida da maior parte do grande público. Dracula: Pages from a Virgin’s Diary (2002) é um balé que reconta o grande romance de Stoker, dirigido por Guy Maddin (especialista em curtas e documentários) e criado em estilo expressionista. O filme (mudo, exceto pela bela trilha sonora) conta com coreografias impressionantes e embora seja uma gravação, deixa transparecer uma energia que dá a impressão de se estar assistindo uma peça ao vivo. Definitivamente não é para qualquer pessoa (os que não são fãs de dança irão torcer o nariz), mas dou minha recomendação máxima como uma das encenações mais belas da famosa história do Conde.



O ano seguinte trouxe de volta as batalhas entre vampiros e lobisomens. Anjos da Noite (2003) revelou a beleza e o talento da atriz Kate Beckinsale, satisfez os fanáticos por roupas justas de couro, e fez quase 100 milhões de dólares em bilheteria em todo o mundo (nada mal para um filme cujo orçamento era de 22 milhões). O sucesso desencadeou duas sequências, Anjos da Noite: Evolução (2006), que concluía a história iniciada no primeiro longa e Anjos da Noite: A Rebelião (2009), narrando eventos passados séculos antes dos filmes anteriores, com a bela Rhona Mitra no papel de Sonja e Michael Sheen como Lucian.


The Hamiltons (2006) foi outra boa surpresa do gênero. O filme mostra a rotina de uma família recém mudada para um pequena cidade, que tem que lidar com a perda de seus pais. David, o filho mais velho, tenta tomar conta de seus irmãos e suprir suas necessidades, porém há mais por trás dessa família do que dizem os olhos. O longa traz um elenco de jovens desconhecidos, bonitos e talentosos, e apesar de oscilar entre drama e suspense, cumpre com as expectativas e segura a onda até o final.

No mesmo ano, uma produção sueca conquistou alguns fãs, a comédia de horror Frostbiten (2006), na qual um médico sintetiza uma droga que transforma as pessoas em vampiros. As coisas saem do controle quando muitas pessoas começam a bebê-la.

Uma besteirada despretensiosa, mas deliciosa de ser vista é Gothic Vampires from Hell (2007), filme feito para o mercado de vídeo. Efeitos sofríveis, atuações péssimas, mortes mal feitas e sangue com cor de groselha barata, mas que irá agradar os fãs de mulheres roqueiras. Destaque para a bela Gina DeVettori, a única que realmente tem algum carisma. Outro telefilme feito sobre o gênero no mesmo ano é Revamped (2007), no qual um executivo se torna um vampiro. Apesar de ser uma grande porcaria, Tane McClure e Christa Campbell estão arrasadoras no papel de Lilith e Lexa.
A famosa HQ de Steven Niles chegou as telas naquele mesmo ano, com roteiro do próprio. 30 Dias de Noite (2007) tinha um elenco de primeira com Josh Harnett, Melissa George (que tem se especializado em filmes de terror, ela também atuou em Cidade das Sombras, Horror em Amityville, Waz, Turistas e Triângulo) e Danny Huston. O filme, dirigido por David Slade, não foi uma unanimidade, porém com o tempo conquistou cada vez mais fãs e hoje costuma ser aceito como uma boa adaptação e filme de horror eficiente. Teve uma continuação execrável feita diretamente para o mercado de vídeo, 30 Dias de Noite 2: Dias Sombrios (2010), com a bonitinha, porém insípida Kiele Sanchez substituindo Melissa no papel de Stella.
O ano seguinte trouxe uma das melhores produções já feitas na história, Deixe Ela Entrar (2008), baseado no livro de John Ajvide Lindqvist (que também escreveu o roteiro). Muito mais que um filme de terror, trata-se de uma história existencialista sobre a perda da inocência, as agruras da vida e a necessidade que o ser humano tem de se relecionar com alguém. O filme trata de temas como bulling, homossexualismo, rejeição e mostra de forma crua e realista as dificuldades que a sociedade impõe a pessoas que são diferentes e não se enquadram no quadro social. Uma obra de arte irretocável que teve uma refilmagem norte-americana também muito boa, Deixe-me Entrar (2010).

O gênero não dá sinais de perder o fôlego, principalmente após a chegada de uma certa série adolescente baseada em livros toscos, porém de extremo sucesso. Contudo, para quem busca originalidade, um bom roteiro, atuações impecáveis, o melhor mesmo é conferir 2019: O Ano da Extinção (2009), longa-metragem escrito e dirigido por Peter e Michael Spierig. Eu sei, eu sei, com esse horroroso título brasileiro (o nome original é Daybreakers) mal dá coragem de chegar pero do DVD, porém este filme é uma grata surpresa. Com um elenco de primeira, Ethan Hawke, Willem Dafoe, Sam Neill e Claudia Karvan, a película conta a história de uma sociedade alternativa futurista em que os vampiros dominaram o mundo e os humanos estão quase extintos – e com eles, toda a comida da nova casta dominante. Uma excelente metáfora para assuntos como preconceito e sustentabilidade, além de ser uma crítica feroz a grandes corporações, este é mais um dos muitos filmes citados neste artigo que merece ser conhecido.

A onda de vampiros varreu novamente a televisão e fez nascer duas séries de bastante sucesso, True Blood (2008-2011), produzida pela HBO e com a presença de Anna Paquin no papel principal, e Vampire Diaries (2009-2011).


Bem, se seu filme favorito não está aqui, minhas sinceras desculpas. Mas tenho a ciência que pelo menos meia dúzia de dicas legais você conseguirá extrair. E como indicação final fica o documentário 100 Years of Horror: Dracula and His Disciples (1996), no qual você poderá assistir a entrevistas com um monte de gente que citei aqui.

Texto enviado por Alexandre Callari, do Pipoca e Nanquim.
 

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