Crítica: Pânico na Neve

Há filmes que se assiste em 5 minutos. E não são os melhores. O único público capaz de se comover com filmes cujo roteiro pauta-se unicamente num estilo e roteiro ultrapassado, óbvio e superficial, são os marinheiros de primeira viagem. Para quem já assistiu à uma pequena gama de filmes distintos e variados, seja no gênero ou na forma da abordagem de seu conteúdo, certamente este longa passa longe de ser recomendado. Algumas explicações emergenciais são tomadas como uma tentativa de autojustificativa, aquelas que, no fundo, tentamos encontrar de modo intuitivo para racionalizar e amenizar o que nossos olhos não desejavam ver.

Pânico na Neve (Frozen, 2010) dá, antes de tudo, uma boa deixa não proposital daquilo que pode se imaginar sobre ele. Dentre tantos Pânicos-alguma-coisa que se pode perceber principalmente do fim dos anos 90 para cá, este é somente mais do mesmo. Mais uma vez a auto explicação toma a frente para adiantar de modo cômodo toda a essência de um filme. Aliado ao título mal traduzido (o que culpa unicamente os tradutores), a capa do filme com um teleférico parado no escuro não parece tentar esconder a razão da história que para alguém deseja contar.  Contudo, essa mesma chamada inocente da capa e do título que afasta aqueles que já se cansaram de mesmice, é utilizada de modo inverso para encontrar o público a quem ela realmente tenta se dirigir. É, há também quem goste de ver o mesmo filme contado de maneiras diferentes. A verdade é que, principalmente depois do surgimento de filmes de serial-killers da última década, que construía seu roteiro em um assassino psicopata que perseguia e tentava matar jovens-bonitinhos-muito-radicais-cheios-de-energia-e-curtição, percebe-se um novo subgênero mesclando e variando principalmente entre o drama, o suspense e o terror. A exemplo, encontra-se Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, Pânico, Pânico na Floresta, Pânico em Alto Mar, Pânico no Deserto, O Buraco, A Trilha e Turistas, todos conexos entre si.

Estes são os que se podem chamar de “filmes de acontecimento”. Investem pouquíssimo na profundidade dos personagens e na introdução à história, o que, invariavelmente, deixa o espectador disperso e incapaz de se identificar com alguma coisa. Além disso, utiliza-se de atores desconhecidos, capazes de cobrir o orçamento que geralmente é sempre abaixo da média. Este não é, obviamente, um tipo de filme que jamais dará certo novamente, como a série Pânico conseguiu fazer, mas a ineficiência em explorar o estilo marca negativamente a experiência dos cinéfilos e acabam rotulando este subgênero. Dessa forma, a exemplo de tantas comédias românticas e filmes de terror mal explorados, justifica-se, de certa forma, o preconceito que alguns demonstram sobre estes longas.

Diante destes aspectos negativos, Pânico na Neve encaixa-se perfeitamente nas descrições negativas a respeito da construção de sua história e, diante disso, é grande merecedor de severas alfinetadas. Totalmente previsível, dá “deixas” óbvias dos acontecimentos cruciais: os três amigos não avisam ninguém que irão à uma estação de esqui; na primeira subida, o teleférico para; na segunda, eles são os últimos à subir antes de encerrar as atividades da estação, que seguiria parada por mais cinco dias. Essas experiências frustrantes dão-se na previsibilidade dos fatos, na grande capacidade que um filme totalmente autoexplicativo dá aos espectadores de anteverem-se à cada cena e serem capaz de afirmar, com a certeza de um veterano, o que se vê pela primeira vez. Ao trancarem-se sozinhos no alto do teleférico, o pânico imediato surge e é seguido pelos gritos desesperados em busca de ajuda que resumem arrependimento. Como tudo acaba caindo na obviedade, sabe-se que tudo se seguirá na monotonia, com pequenos acontecimentos dispersos a fim de dar um andamento para o problema dos jovens. Por fim, após as situações piorarem de maneira trágica, abre-se espaço para pequenos desencontros entre aqueles que ainda não sofreram algo e uma reconciliação imediata, contando histórias do passado e planejando seus futuros.



Na tentativa de comparar roteiros que constroem estes “filmes de acontecimento”, pode-se exemplificar o clássico Tubarão (Jaws, 1975), onde a história passava longe do mar, mas mesmo assim atendia – e muito – ao suspense, transpondo suas cenas essenciais na hora exata do longa, após a condução correta do espectador para o desfecho da história e mostrando o temido animal em raríssimas cenas, porém oportunas. Assim, outros filmes como Encurralado (Duel, 1971), primeiro longa de Steven Spielberg, e o mais recente 127 Horas (127 hours, 2010), são exemplos interessantes de histórias construídas num único acontecimento e são muito bem conduzidas. No primeiro, acompanha-se a trajetória de um psicopata numa autoestrada e, no segundo, a adaptação de uma história verídica de um rapaz que prendeu-se sozinho num canyon americano.

Tudo não seria, de fato, tão desagradável, se a intenção original não se mostrasse motivada a construir a história de modo iniciante, com justificativas tolas para tudo. No fim, é mais do mesmo, onde tudo acabará destruído, principalmente a vontade de voltar a ver o filme novamente.




Crítica: Três Homens Em Conflito

Os elogios realmente fazem sentido. É altamente satisfatória a sensação de deparar-se com um trabalho que se percebe diferenciado, e faz jus à sua fama de clássico. É o sentimento pós-filme de estranheza, de mudança e de uma tímida e interna felicidade que nos permite julgar este longa com os adjetivos que, por um momento, nem parecem existir. Tamanho elogio não condiz com perfeição, porém há uma necessidade de elevá-lo à um patamar de diferenciação, junto à algumas obras que fizeram por merecer a recorrente lembrança por seus inúmeros motivos.

Sergio Leone foi um diretor italiano de poucos e grandiosos filmes. Não é exagerado, portanto, tamanho reconhecimento pelo cinema que deixou em seu período de atividade. Com maior relevância, destaca-se, além desta obra, Era Uma Vez no Oeste (C'era una volta il West, 1968), Por uns Dólares a Mais (Per qualche dollaro in più, 1965) e Meu Nome É Ninguém (Il mio nome è Nessuno, 1973), como trabalhos notáveis do gênero western, ao qual era recorrente a sua atuação. Era Uma Vez na América (Once Upon a Time in America, 1984) foi o único trabalho grandioso não-western, centrando sua trama num contexto policial, de crimes e máfias. 

Na obra em destaque, Três Homens em Conflito (Il buono, il brutto, il cattivo, 1966) também marca um ator de gênero. Clint Eastwood lança-se nesta obra como um ínoce, uma representação direta da imagem que transpiram os fora-da-lei, a qual sustenta até hoje (AKA Chuck Norris). Envolvendo estes grandiosos do cinema, há, ainda, a composição que Ennio Morricone realiza unicamente para este trabalho, assim como fez com outros longas de Leone e também em obras mais recentes, como Os Intocáveis (The Untouchables, 1987) e Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds, 2009). Perfeitamente adequada, a trilha sonora composta por músicas como Ecstasy Of Gold, The Sundown, The Desert, Marcia, The Story Of a Soldier e The Ugly Main, tanspõe o clima de disputa, de ódio e de vingança que os pistoleiros se inserem. Com todas as marcas do gêneros cultivadas, Três Homens em Conflito, torna-se, desde então, a obra clássica dos filmes da turma de pistoleiros. Filmado praticamente todo na Espanha (com somente algumas pequenas cenas na Itália), a fotografia é bem realizada e mostra o clima desértico, de calor insuportável, assim como a maquiagem, principalmente em cenas de queimadura facial.

Tratando-se da trama, que além do western central insiste consistentemente na comédia, destacam-se as grandiosas cenas sem diálogo. Leone investe em jogos de cena bem realizados para mostrar justamente as emoções mais afloridas dos personagens envolvidos em disputa e dominados por ódio e ganância. Com cortes rápidos e zoom olho-a-olho, é quase impossível não se envolver na batalha. A troca de olhares frios entre eles tenta transmitir a segurança que eles fingem possuir, e assemelham-se até com jogadas de pôker. São estas as primeiras e últimas cenas utilizadas pelo diretor.

 
O Bom, o Mau e o Feio a que o título se refere são uma analogia ao comportamento de cada um dos três personagens centrais da trama. Vivendo de modo muito arriscado para o sustento que conseguem, Loirinho, o bom (Clint Eastwood), Angel Eyes, o mau (Lee Van Cleef) e Tuco, o feio (Eli Wallach) descobrem a existência de uma cova num cemitério que contém 200 mil dólares perto de onde ocorre a guerra civil americana. Isto é o estopim para eles começarem a corrida do ouro. Entretanto, a interdependência que eles possuem causa uma situação controversa: o bom sabe onde fica a cova, e o feio, o cemitério. Num jogo de faz-de-conta, fingem-se ser confiáveis, amigos e capazes de dividir o tesouro, mas sabem que, no fundo, é cada um por si. As grandes interpretações cômidas de Tuco durante grande parte do filme com um humor espontâneo e não-gratuito garantem o sucesso de muitas cenas, a destacar-se as do deserto e da guerra.

Como um bom faroeste, há de haver um grandioso duelo final. Este desfecho resume com honestidade àquilo que se apresentou dos três pistoleiros. O Bom escreve o nome da cova numa pedra e eles iniciam a grandiosa cena final. Não é surpresa afirmar, contudo, que aquele que for melhor e matar os demais, ficará com o ouro. Ao fim, algumas situações são lembradas em decorrêcia das posturas antiéticas que tiveram durante as suas trajetórias. O longa fecha com chave de ouro (sem piadinha) a jornada que traduz em 180 minutos a busca incessante e cega por dinheiro de três homens que odeiam-se entre si, e querem que a recompensa venha também em ver o inimigo tombar ao chão.



Destaque sonoro:




 

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