Todo mundo está tentando achar o seu equilíbrio, Dan Dunne (Ryan Gosling) sabe disso, porém ele sabe também que está perdendo essa batalha.
Ele tenta viver de acordo com algumas convicções e para sobreviver ele dá aula de história em um colégio público, no qual ele é constantemente repreendido por ensinar coisas que não atendem ao currículo da instituição.
Dunne tenta dizer aos seus alunos que o mundo é formado por dois opostos unidos e inseparáveis, a história é formada pelos pequenos ou grandes desequilíbrios entre essas duas forças e pelas mudanças que acontecem em consequência disso.
Na verdade, mesmo que ele faça esforço para mostrar o contrário, o desequilíbrio está tomando conta de sua vida, o vício (cocaína/crack) é sua válvula de escape, mas é também uma fonte de frustrações que fará com que ele fuja cada vez mais.
Ele tenta ajudar uma aluna que está em contato constante com um traficante, o qual ele conhece simplesmente pelo fato de ser o seu fornecedor.
Ele continua a jogar esse jogo perdido até que o desequilíbrio aumente e alguma coisa mude os rumos de sua vida, assim como acontece com a história.
Há certos filmes que convencem pela sua simplicidade. A falta de criatividade (principalmente de Hollywood) em criar histórias verdadeiramente originais ou retratar com boa qualidade um fato da sociedade, tem feito abrir espaço para o cinema alternativo, em suas diversas variações. Na era do 3D, dos investimentos milionários e grande investimento de mídia para divulgação das obras, felizmente vê-se a proliferação de algumas boas obras pelo boca-a-boca.
De fato há espaço para o cinema independente, alicerçado somente numa boa ideia, bom roteiro, vontade e uma câmera na mão, claro que serão contadas histórias que encaixem-se neste orçamento, mas estas terão sua possibilidade de tornar-se realmente boas obras por justamente exigirem pouco investimento. Num exemplo já clássico, cita-seA Bruxa de Blair (The Blair Witch Project), filme de 1999 orçado em "míseros" 11 mil dólares.
O Banheiro do Papa (El Baño del Papa, 2007) é, também, um destes bons exemplos. Dirigido por César Charlone e Henrique Fernández, e produzido pelo brasileiro Fernando Meirelles (Cidade de Deus, O Ensaio Sobre a Cegueira) o longa busca retratar uma história verídica do final dos anos 80, onde, na pequena cidade de Melo, no Uruguai, especulava-se a chegada do então Papa João Paulo II à localidade. Em meio à miséria, os moradores da cidade vêem uma alternativa para melhorar suas condições de vida. Beto (César Troncoso), é o pilar da história. Com uma vida sofrida, ele sustenta sua esposa e filha das viagens que faz de bicicleta ao Brasil para comprar alimentos para os armazéns de sua cidade. Ciente de que sua situação não lhe renderá uma melhor condição de vida para sua família a curto prazo, Beto vê na vinda do Papa uma possibilidade inovadora de aumentar seu capital. Imagina ele que todas as pessoas, das quais a Televisão noticia a chegada à cidade, deverão alimentar-se, e assim, decide criar um banheiro, cobrando por sua utilização.
O filme retrata, na verdade, uma condição de vida muito percebida em regiões e países onde o desenvolvimento social e político não mostram-se presentes. Mais do que um evento religioso capaz de trazer a harmonia e paz à algumas pessoas que cultuam este pensamento, esta situação, às vezes, não é capaz de ser percebida por nenhuma mas milhares de pessoas que participam da manifestação, muito menos por quem a organiza. Beto corria o risco de ser preso com suas inúmeras viagens em contrabando de mercadorias, mas não podia manifestar a vontade que tinha de, em busca de sua melhor codição de vida, ajudar também aos demais.
Assim, o filme conta, de uma triste maneira, a frustrante tentativa de um cidadão em buscar algo melhor para si. Com filmagens verdadeiras retratando a simplicidade do povo local, o longa tenta mostrar sem nenhuma plasticidade e beleza aquilo que de fato nem o local e nem a história são. É o retrato de um problema social, que, assim como o Papa faz na cidade, vem e vai, percebe-se sua existência mas não se dá muita importância, e, assim, os cidadãos descobrem que nem aquele que considerava-se capaz de tirá-los de tal situação é, na verdade, tão capaz de tornar suas vidas tão melhores quanto eles mesmos.
Dai galera!!! Depois de muito tempo resolvi escrever uma critica, e para começar não poderia ser diferente, tinha que ser um filme muito foda como é o caso de Oldboy.
Oldboy é um filme coreano dirigido por Chan-wook Park, tem roteiro baseado num mangá japonês, e foi aclamado vencedor do Grande Prêmio do Festival de Cannes em 2004.
O filme conta a história de Oh Dae-su, um homem cuja a vida foi mudada após ser mantido em cativeiro por nada mais, nada menos que 15 anos, e sem nenhum motivo aparente para seu confinamento. Ele fica num quarto onde só tem TV e um diário. Após 15 anos ele é libertado e começa a juntar um quebra-cabeças para saber por que foi aprisionado. A partir daí ele questiona quem poderia ter feito isso com ele, quantas inimizades ele pode ter feito em sua vida para que alguém possa ter feito isso com ele. Ele parte para uma vingança brutal, mas também tem que saber o motivo pelo qual seu algoz tomou essa decisão.
O filme é perturbador, agoniante, e em certos momentos angustiante pelas cenas fortes, principalmente cenas de mutilações (tem que ter estômago forte). O filme traz um ar violento mas ao mesmo tempo dramático, já que Oh Dae-su foi privado de sua liberdade por 15 anos e assim perdeu sua mulher e filha. O filme é como podemos dizer, um filme difícil de ser assistido já que parece que as coisas acontecem aleatoriamente e em certos momentos parece até massante, mas não fiquem desconfiados, no final tudo se encaixa. E o seu clímax final é sensacional deixando o telespectador de boca aberta. Filme ótimo para aqueles que gostam de ser surpreendidos, e curtem um filme com uma história boa e um roteiro bem conduzido não deixando o suspense cair até o seu fim.
Pouco se sabe, ainda no mundo atual, o que se passou nos países socialistas que faziam parte da cortina de ferro – aquele clube fechado da Europa Oriental influenciado pela União Soviética no pós-guerra. Com a vitória do capitalismo, algumas histórias puderam ser reveladas ao público, como os abusos que os governos socialistas cometiam para se manterem em pé, bem como a rigidez e a forte censura, influência inquestionável do Stalinismo e do comunismo proveniente de Moscou.
Em A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen, 2006), o espectador mergulha na Alemanha Oriental em seus últimos anos, quando a Stasi – polícia secreta local – controlava com punhos de ferro qualquer tipo de movimento pró-Alemanha Ocidental. Nesse contexto, Weisler, um capitão da Stasi e perito em interrogatórios, é incumbido de espionar a vida de um escritor de teatro famoso, com o intuito de descobrir a possibilidade de propaganda ocidental em seus textos. Ele, de caráter claramente inflexível e leal ao seu governo, começa então a monitorar o apartamento onde o escritor e sua amada vivem, por meio de escutas. Contudo, o envolvimento de Wiesler com a vida do escritor o desilude a tal ponto de desacreditar no sistema com o qual sempre se identificou, bem como se dar conta de que a vida do escritor era muito mais pura e verdadeira se comparada à sua própria vida, que basicamente se resumia a cuidar da vida dos outros.
O filme é por si só uma obra prima inquestionável: atuação impecável, personagens extremamente elaboradas, enredo primoroso, contexto exato. Aliás, nunca entendi a falta de abordagem deste último nas telonas – a queda do muro de Berlim sempre me pareceu um prato cheio para o cinema, mas tem sido muito pouco explorada. Não me lembro de cabeça de nenhum filme que trate da imigração clandestina em massa que ocorreu no sentido leste-oeste nos períodos da Guerra Fria. A propósito, segundo o próprio filme, até mesmo o sol já se rendeu e foi brilhar no oeste.
A menina Susie Salmon tem 14 anos e vive num ambiente familiar equilibrado, cultiva o hobbie de fotografar e vai para a escola onde cultiva uma admiração secreta por um garoto estrangeiro.
As fotos não podem ser reveladas todas de uma vez, porque na década de 70 isso ainda era algo caro.
A vida dessa bela menina também foi uma foto não revelada para sua família, ela é assassinada. No entanto, conforme Peter Jackson (Senhor dos Anéis) o sonho dela não acaba por aí.
Ela se depara com um mundo MARAVILHOSO (excelente fotografia e efeitos) que é constantemente transformado por seus sentimentos, que misturam vontade de emergir no êxtase dos cenários maravilhosos e flashes da sua vida terrena.
Não, Um olhar do Paraíso (The Lovely Bones, 2009) não é um filme de morte, é um filme de renascimento. Nesse ponto Jackson brigou com Hollywood, o assassino (excelente atuação de Stanley Tucci) não é o objeto de redenção através da vingança, essa palavra nem mesmo existe, nem mesmo o senso terreno de justiça, o que existe é o intangível dos sentimentos, Susie quer viver o amor não revelado de sua pré-adolescência, ela quer paz.
O paralelo entre os pais de Susie vivendo em trapos tentando se recompor, enquanto a filha busca outra coisa, ou não busca nada, é algumas vezes angustiante, mas a beleza que flui através desses reflexos é indescritível e muito mais profunda do que mais um vilão, um herói e uma mocinha.