Crítica: Rabbits

[Turn off your brain]


Rabbits (Rabbits, 2002) não conta história nenhuma, mostra cenas avulsas e frases totalmente sem-sentido com a intenção que não se conhece. David Lynch (Coração Selvagem, O Homem Elefante) consegue não dizer absolutamente nada durante 43 minutos, porém, a única coisa que se percebe é que é justamente isso que se deseja fazer, portanto, aplausos.

Inicia-se o filme com três coelhos numa sala, conversando sobre algum problema que não se sabe qual é, e, para quem em cinco minutos entende o propósito do filme, sabe que continuará não entendendo nada até o seu fim. Com frases curtas, secas, sem ligação e nexo, os três personagens praticamente propõe um jogo de detetive, convocando a quem assiste a tentar adivinhar o que tudo aquilo quer dizer: Quando os coelhos entram pela porta, se aplaude; Quem é o homem do casaco verde?; Qual o real problema existente com o coelho macho?; O que querem dizer as frases repetidas?; O telefone toca, e o coelho fica mudo; e por aí vai imaginação afora. Tem-se um pouco de horror, suspense e mistério (lê-se: macabro), além da comédia que só existirá àqueles que realmente desligarem seus cérebros ou até esquecerem que o tem.

Totalmente nonsense, as cenas transpostas mais parecem um amontoado de episódios, com cortes e propósitos distintos. Em certos momentos, as risadas de auditório podem fazer o espectador acreditar que há realmente alguma comédia em determinadas falas, levando-o a imaginar que somente ele é incapaz de compreender o propósito geral.

Neste ritmo segue-se até o fim, que corresponde a todo o filme. Embora seja instintivo tentar entender o que se passa, não recomenda-se tal atitude, apenas veja, ria e, quando acabar, vá lavar a louça.

[Turn on your brain].






Crítica: A Banda

A Banda (Bikur Ha-Tizmoret, 2007) é uma escolha excelente para os adoradores de filme cult. O longa israelita tem uma característica bem diferente: ele mostra as coisas simples que sucedem com seus personagens e, com poucos acontecimentos e sem se aprofundar nos assuntos ocorrentes, acaba ficando um pouco pesado para se assistir. O diretor Eran Korilin não deu muita ênfase em um estilo para definir o gênero do filme; existem cenas de drama, romance e comédia, mas nada muito explícito.

O filme conta a história de uma banda egípcia que foi contratada para fazer uma apresentação em um grande evento em Israel. Por falta de organização, os músicos acabam sendo esquecidos no aeroporto. Tentando seguir viagem por conta própria, acabam se perdendo em um vilarejo, que tinha aspectos culturais bem diferentes do seu país de origem. A partir daí, a história se passa nessa cidadezinha isolada, o que dá uma sensação de solidão, tanto dos músicos quanto dos habitantes que ali moravam. Com a falta de acontecimentos importantes, a trama é direcionada para as histórias comuns de cada personagem, fazendo com que o espectador esqueça que tais personagens pertencem a dois grupos conflituosos entre si.


O pensamento do cineasta neste filme é meio utópico - ele tenta convencer que as desavenças entre os dois povos não fazem o menor sentido. O problema é que este pensamento não é compartilhado por todos. Provando isso, podemos citar o ocorrido no festival de cinema do Egito, onde o filme não pôde ser exibido. Isso aconteceu por causa de um protesto dos atores locais que ameaçaram boicote, caso houvesse a apresentação do longa. O que mais revoltou os protestantes foi a cena de sexo entre representantes dos dois países.


O que me decepcionou no filme foi a superficialidade - os temas abordados possuem muito conteúdo e poderiam ser explorados e aprofundados melhor, o que o deixaria bem mais interessante.



Crítica: Do Começo ao Fim

O primeiro filme que escolho para fazer parte da coleção do blog é o filme Brasileiro Do começo ao Fim (2009) do diretor Aluizio Abranches, que tem no elenco os atores globais já consagrados, Fábio Assunção e Júlia Lemmertz, porém os protagonistas do filme são os atores menos conhecidos, Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcellos.

Fui assistir esse filme no cinema com grande expectativa, pois conta a estória de dois meios-irmãos que desde a infância tem uma relação de amor e cumplicidade, e com o passar dos anos tornam-se um casal homossexual incestuoso.

- Nossa!!! Como assim?! Um filme brasileiro falando de um tabu... pois é, o longa tinha tudo para ser um grande meio de desconstrução, porém não passa de um 'tratamento de choque' com cenas picantes entre o casal; já que em nenhum momento a situação gera qualquer tipo de conflito que como eu esperava, poderia contribuir para o avanço da sociedade no que diz respeito a seus conceitos, mas a estória é completamente vazia de significado e de conteúdo.

Me decepcionei com o demasiado clima de drama e tensão por motivos banais impostos a todo o momento como se fosse ativar um botãozinho "agora é a hora de chorar", além da atuação péssima dos atores, entre outras coisas. Muitos amigos me disseram, que um filme brasileiro tratando desse assunto já é para agradecer, mas discordo pois sou da opinião que 'se é para fazer que faça direito', e infelizmente para mim esse filme não atingiu o objetivo esperado.

Obs: O que salva o filme é a trilha sonora e as belas imagens de Buenos Aires.



Crítica: Onde Vivem os Monstros

Adaptado do livro de Maurice Sendak, de 1963, Onde Vivem Os Monstros (Where The Wild Things Are, 2009) procura traduzir, sob a visão infantil, o que seria o mundo ideal contido na imaginação de uma criança. Neste longa, o diretor Spike Jonze (Adaptação, Quero Ser John Malkovich) tenta retratar todos os problemas e angústias enfrentados pelas crianças em seu processo de evolução e entendimento da sociedade em que vivem.

Iniciando com enfoque em problemas familiares enfrentados pelo menino Max (Max Records) sobre a difícil aceitação de sua mãe e irmã sobre sua conduta e pensamento, o garoto é enviado ao seu quarto para lá poder repensar seus atos e "não trazer mais problemas às outras pessoas". Assim, inicia-se a leitura das mensagens simples - porém profundas - que o filme busca mostrar. Em seu quarto, o menino tem a possibilidade de viver o mundo sob suas verdades, sob sua visão, retratando uma divisão de pensamentos e diferenças inevitavelmente existentes entre crianças e adultos, mas de difícil condução para todos.

Nesta simples introdução à história se dá o início de uma aventura encantadora do garoto Max. Nesta etapa o filme faz uma narrativa do que estaria se passando na cabeça do menino, do que seria a felicidade, a verdade, a compreensão e a amizade. É aí que o garoto inicia a viagem em seus pensamentos, totalmente livre e absoluto da certeza de que estes serão totalmente aceitos por ele mesmo.

"Que comece a selvageria!". É traduzida nesta frase que se pode entender tudo o que se passa na cabeça do garoto, na angústia e vontade de explodir seus puros sentimentos e fazer da sua imaginação uma real possibilidade. O garoto desloca-se, então, ao seu mundo imaginário, ambientado em um lugar isolado, longe do contato das pessoas com as quais mantém problemas. Lá, sua companhia são os sentimentos que enfrenta em sua vida normal. Desta forma, os monstros reprensentam uma metáfora à estes diversos problemas, onde cada um deles é verdadeiro, tangível, e, portanto, manipulável. Representando seu egocentrismo, a agressividade, o amor e criatividade, a melancolia, o companheirismo e o sentimento materno, numa "terra" onde Max é verdadeiramente o Rei, ele manda e desmanda em cada sentimento, em cada atitude, revive e mistura sua imaginação com a verdade que está acostumado a enfrentar.





Com boa fotografia, a condução do filme sustenta-se nesta simples ideia bem contada, que, embora tenha como tema os problemas infantis, possui muitas representações que são capazes de ser compreendidas somente por adultos.

Embora seja adaptado de um livro, percebe-se a perda da oportunidade de adentrar mais nos sentimentos do garoto Max e tudo aquilo que o tema representa a todos os envolvidos, tornando mais fácil de digerir os fatos transpostos na trama, principalmente após a sua "volta à realidade". É uma linguagem um pouco confusa, que força demasiadamente o espectador a procurar entender o que se passa em cada cena, o que ela representa; o que deveria realmente ser utilizado, porém, de forma mais leviana. Desta forma o filme possa perder um pouco de simpatia, apesar de conter um ótimo cenário representando o contexto da história. Para um tema tão profundo e a real possibilidade de explorá-lo e torná-lo "menos poético", o longa, embora tenha seus verdadeiros pontos-fortes, deixa a desejar em outros que, talvez, possam nortear definitivamente a rejeição de alguns espectadores sobre a obra como um todo.






Crítica: 2 Filhos de Francisco


Nada como esperar a poeira baixar para se poder julgar um filme sem pressões externas. Foi assim com Titanic, que em 1998 ganhou o recorde de Oscars (até então) e levou multidões aos cinemas, mas que, uma década após, foi considerado por muitos uma vergonha por ter se deixado levar pela breguice - exatamente como quando você sai à noite, toma um porre daqueles e se pergunta no outro dia de ressaca: "como fui fazer isso?"

2 Filhos de Francisco (2005) é um desses casos. Um sucesso do cinema nacional na época, e aclamado igualmente pelos críticos (?), se ouvia muito na época: "é o melhor filme brasileiro de todos os tempos". Isso, obviamente, daqueles que admiravam a carreira de Zezé di Camargo & Luciano. Já os mais céticos diziam: "é um bom filme, mesmo para quem não gosta do estilo de música". Aliás, tal filme chegou a ser o representante brasileiro ao Oscar (Globo Filmes... alguma coincidência?). Entretanto, não preciso nem comentar que ficou longe de atravessar a linha do Equador e representar-nos no Kodak Theater.

Falando do filme em si, a primeira parte é realmente mais envolvente, apesar de apelativa. É claro que a história de vida dos compositores foi sofrida, e justamente por isso acabou virando um longa. De qualquer forma, a atuação não é ruim, mas ganhou notoriedade 5 anos atrás mais pela semelhança física dos atores, do que pelo desempenho propriamente dito. Já a segunda parte do filme, quando os cantores já são adultos, é um naufrágio total: torna-se um cliché típico e sem graça. Importante destacar também o trabalho linguístico do filme, um dialeto indecifrável no qual os personagens se comunicam, o qual entendi somente à base de legenda (penso que aqueles que assistiram no cinema não tiveram a mesma sorte).

Concluindo, 2 Filhos de Francisco não chega a ser uma total perda de tempo, até porque é bem feito em níveis técnicos. A tristeza que fica é que o sucesso desse filme pode trazer sequências intermináveis de cantores bregas no cinema (vide o longa de Daniel que foi lançado há menos tempo). Contudo, assim como uma bebedeira, é só tomar um analgésico pela manhã, muita água e se lembrar de não cometer o erro novamente na noite seguinte.


Crítica: Anticristo



Desde a primeira exibição de Anticristo (Antichrist, 2009) no festival de Cannes, tem-se deparado com uma avalanche de opiniões extremadas sobre o filme. Único, poético, angustiante, sarcástico, realista, sadomasoquista, puro, espantoso, trágico, perfeito ou deprimente. Quaisquer adjetivos à última obra do dinamarquês Lars Von Trier terão seu valor e sua verdade sobre aquele que pode se considerar um dos melhores filmes independentes dos últimos anos.

Instigado em revelar aquilo que se conhece sobre a consciência e natureza humana em seu estudo psíquico, propõe-se aqui uma tentativa de choque de ideias por parte do telespectador. O filme levanta inúmeras perguntas e não se compromete em dar respostas, percebe-se que é justamente esta a intenção de tudo que percorre de maneira tão crua aos olhos de quem o assiste.

De poucas palavras, o polêmico diretor dinamarquês (Dogville, Dançando no Escuro) limitou-se a dizer que esta era uma obra divina, resultante de seus incontáveis sonhos durante seu período de depressão, e que esta seria sua obra mais natural.

Dividido em capítulos, o filme inicia com a extraordinária cena em Slow Motion em preto e branco, numa excelente combinação com a bela música Lascia Ch'io Pianga, da ópera Rinaldi, narrando o trágico acontecimento do casal denominado por "ele" (Willem Dafoe) e "ela" (Charlotte Gainsbourg).

Em sequência, o que se vê é o trágico declínio do estado mental humano causado por um fato capaz de tornar incontroláveis suas atitudes, mostrados de forma bela e pura, mas com a inquietante vontade de descobrir e revelar o por quê dos fatos. A morte, a dor, a agonia, seriam fruto do quê? Por quê sente-se dor pela perda de algo valioso diante dos julgamentos de cada um? O que é o mal? Ele sequer existe? São inúmeras perguntas naturalmente levantadas por quem assiste, instigado em entender tudo o que acontece a sua frente. Põe-se em paralelo o ser feminino, gerador, protetor, divino (?), como questão principal. O anticristo pode ser a natureza por completa, pode ser a mulher, pode ser o Homem, não se sabe. A capacidade de tentar encontrar uma resposta que não está ao alcance do conhecimento humano atual é o que dá a certeza de que o filme é realmente inovador.



Tudo no filme pode se resumir à perguntas, afinal, talvez, seja somente isso que ele propõe ao seu término. Na intenção de igualar os instintos maternos entre a mulher e os animais, tem-se, talvez, a única certeza ou a mensagem mais direta que o filme propõe: a raposa-falante, que para muitos pode parecer infeliz sua participação, muito quer dizer com sua pequena e profunda mensagem: "O caos reina".

Rico em cenas perturbadoras, o longa ainda compromete-se a mostrar, sem nenhuma censura, o que é, talvez, a realidade natural das coisas, do lado material, espiritual e do puro instinto humano. São dolorosas cenas de multilação genital, tensão profunda com o estado primitivo a que os atores dispõe-se, cansaço mental, choque de ideias, valores, crenças, e tudo o mais. Extremamente não-recomendável para qualquer momento, o filme exige um preparo psicológico, e, mesmo ciente de seu propósito, pode-se afirmar que ninguém sairá, ao término do filme, da mesma forma como entrou, e, seja lá qual a compreensão final de cada um, esta única certeza lhe servirá para entender que ele tem a simples capacidade de lhe provocar e instigar de maneira que outro filme jamais conseguiu fazer.







Crítica: Foi Apenas Um Sonho

'O ser humano tem o direito à liberdade'. Em cima dessa premissa se constrói a nossa sociedade e em cima do conceito de liberdade nós começamos a nossa busca pela felicidade.

Frank Wealer (Dicaprio) tinha um emprego estável, uma bela esposa e filhos para criar, porém ele se sentia preso a um estereótipo de vida ao qual ele não queria pertencer, ele queria sentir coisas, ele queria viver o desconhecido.

Mrs. April Wealer (Winslet) foi dominada pelo sonho de uma vida livre dos velhos modelos conhecidos, um lugar onde as pessoas são o que elas realmente são.

A busca pela liberdade do casal não é assim tão bela, e é aí que se constrói a grandeza de 
Foi Apenas Um Sonho (Revolutionary Road, 2008) a estrada para a revolução, ou para o terremoto, que ocorre quando o ser humano se confronta com suas crenças e convicções.

A verdade é que April vive as frustrações de uma carreira de atriz que foi abandonada em favor das tarefas de uma dona de casa e Frank não se sente tão homem assim preenchendo por completo o manual do 'homem de família'.

E quando um louco entra no lar da família e afirma que; 'Está feliz por não ser a criança no ventre de April' - aí tudo começa a desmoronar, as coisas simples como o amor do casal e o instinto maternal já não fazem tanto sentido.

Sam Mendes já havia feito muito na crítica da sociedade americana em "Beleza Americana", mas mesmo que de forma despercebida por muitos, ele fez muito mais na crítica a natureza humana na qual se baseia Foi Apenas Um Sonho, as formidáveis atuações capturaram uma síntese do contraditório e desesperador ímpeto humano de buscar algo que nunca existirá. Assista com moderação.



Crítica: E Se Fosse Verdade

Olá pessoal! Para minha primeira contribuição para o Cinemarco Críticas escolhi o filme E Se Fosse Verdade (Just Like Heaven, 2005). Os motivos que me levaram a escolher este longa foram: Em primeiro lugar o gênero do filme, que normalmente é visto com outros olhos, comédia romântica é rapidamente associado às mulheres, e este é um filme que foge do clichê de seu gênero, ele não mostra só situações engraçadas do casal, mas sim põe um humor nas situações de desespero dos personagens. Em segundo lugar, ele foi inspirado na canção de grande sucesso da banda The Cure que por sinal faz parte da trilha sonora e possui o mesmo nome do filme em inglês.


"E se fosse verdade" foi lançado em 2005 e dirigido por Mark Waters. O filme retrata a historia de David (Mark Ruffalo), um homem triste e solitário que aluga um apartamento em San Francisco onde conhece Elizabeth (Reese Whiterspoon), uma médica muito talentosa que abriu mão de sua vida pessoal para dedicar-se exclusivamente no seu emprego. Os dois se conhecem de uma forma bem estranha, Elizabeth aparece no apartamento de David e os dois acabam tendo um conflito. Ela diz que o imóvel é dela enquanto ele fica sem entender o que está acontecendo. A situação fica mais estranha quando David percebe que Elizabeth some e aparece como se fosse um passe de mágica. David fica tão confuso que começa a achar que está tendo problemas mentais. Depois de analisar bem a situação ele se convence que Elizabeth é um fantasma e começa a tentar ajudá-la para que ela fique em paz e possa passar para o reino dos mortos. Elizabeth não admite estar morta, mas também não entende o que está acontecendo com ela. É então que os dois se unem para resolver este mistério e aos poucos vão percebendo que possuem muitas coisas em comum e que então de certa forma muito ligados.

O filme mesmo sendo uma comédia romântica ainda trás alguns assuntos polêmicos discutidos atualmente, podendo destacar a questão da eutanásia e a questão espiritual que são abordadas no filme.

“E se fosse verdade” à primeira vista pode parecer com “Cidade dos Anjos” ou até mesmo “Ghost – O outro lado da Vida”, mas para quem ver este filme vai notar que ele trata de um assunto bem peculiar, e que tem um final bem diferente dos outros dois filmes citados acima.

Gostaria de mencionar também o trabalho dos dois atores do filme. Reese Whiterspoon e Mark Ruffalo que deram bastante identidade aos seus personagens, muitas vezes a atuação conjunta deles que deram um brilho a mais no filme mostrando que a dupla possui uma grande química.

Para os que gostam do gênero é um prato cheio e para o que vêem o gênero com outros olhos é uma obra surpreendente. Contudo é um filme que recomendo para ser assistido.


Crítica: It - Uma Obra Prima do Medo

Existem inúmeras formas de prender um telespectador a um filme, das quais, pode-se citar algumas explicáveis e outras nem tanto. Dos gêneros tratados como forma de transmitir uma estória ou mensagem a um determinado público, seja lá qual for o interesse final da obra, cada um ganha sua peculiaridade na forma como sua mensagem é transmitida e recebida por quem assiste à uma obra cinematográfica.

Dessa forma, cada gênero escolhido para conduzir cada estória tem capacidade de tornar qualquer obra boa ou ruim ao seu término. Porém, há algumas diferenças entre os gêneros, alguns possuem maior aceitação do público, outros nem tanto. Em It - Uma Obra Prima do Medo (It, 1990), longa dirigido por Tommy Lee Wallace e adaptado de uma obra de Stephen King, o terror cumpre sua tarefa de tornar a história tão agonizante e, ao mesmo tempo, hilariamente assombrosa aos olhos do cinéfilo.

Na obra, It (A Coisa) é uma assombração disfarçada de palhaço. Tão possível de tornar o personagem uma mera comédia de um terror mal-dirigido, o filme, em geral, não deixa nada a desejar aos amantes do gênero sangrento. Trata-se de uma estória basicamente simples, contada lentamente em seus bem explorados 180 minutos.

Resumidamente, na pequena cidade de Derry, existe uma força do mal que vêm matando crianças do local, e, assim, sete crianças juntam-se para unir suas forças na tentativa de acabar com este ser indesejado. Passado algum tempo, ele vai embora e as crianças decidem, então, jurar que, caso um dia ele retorne a assombar o local ou a vida de algum deles, unirão novamente suas forças na tentativa de acabar definitivamente com "A Coisa".

Neste terror psicológico, o gênero mostra sua grande capacidade de realmente ser muito mais do que sangue e tortura mostradas de forma exaustiva na intenção de simplesmente agonizar quem o assiste. Uma das maiores virtudes de um filme de terror bem-explorado é transmitir a mesma "realidade" da estória, passando medo ou grande apreensão a quem assiste às cenas, tentanto fazê-lo adentrar ao filme. Nem sempre é necessário utilizar-se do vilão em demasiadas cenas para garantir um filme tenso. A simples escolha de sua participação numa cena no momento certo (lê-se, no caso, momento imprevisto ao telespectador), pode garantir ou provocar tanta - ou mais - aflição e susto quanto incontáveis sequências de cenas programadas e previsíveis à olhos já cançados de mesmice.

A escolha de fantasiar de palhaço este ser maligno que "simplesmente" assombra uma pequena cidade matando criancinhas é uma excelente alternativa de resumir o mal existencial em uma simples imagem. Palhaços podem ser tão bem quanto mal vistos, depende da circunstância, e, especificamente para crianças, esta figura pode ser muito mais desinteressante do que qualquer outra imagem aterrorizante. Na trama, passados os diversos anos do acontecimento inicial, as crianças tornam-se adultas, suas vidas mudam, assim como suas personalidades, porém, a imagem a que todos chocaram em suas infâncias não mudou, o pânico de anos ainda provoca o mesmo medo. Disfarçando-se de várias formas, "A Coisa" torna a assombrar a todos em seus momentos mais frágeis, que, diante de seus problemas particulares, esquecem-se deste mal e deixam-se levar por ele diante de suas inocências.



Pode-se dizer, assim, àqueles que apreciam à um bom terror, que este filme pode cumprir boas expectativas, relembrando alguns outros clássicos do gênero que, por vezes, tem sido tão mal explorado ultimamente.

Contudo, embora a obra seja adaptada de um livro do consagrado escritor de terror Stephen King, este bom filme não é considerado, ainda assim, uma adaptação fiel à história descrita no livro, por este conter demasiados detalhes, e que a "obra prima" a que remete o precipitado título traduzido no Brasil, mais vale à obra escrita do que à obra filmada.






Crítica: Colateral


Um filme pode ter muitos objetivos, ele pode ser um passatempo no qual situações casuais são trazidas à tona na busca de associação direta com o espectador, o filme pode ser uma jornada ao desconhecido aonde você tenta descobrir o objetivo do filme, o filme pode ser denso e buscar associar imagens a coisas intocáveis da consciência humana.


É
claro que o filme pode ser tudo isso, porém na maioria das vezes não o será para todo mundo, infelizmente.

Colateral (Collateral, 2004) é para mim um filme que atinge vários objetivos, incluindo os três mencionados acima. O filme tem o aspecto de uma jornada, ou talvez duas, que se cruzam e trazem à tona uma explosão de sequências de ação muito bem montadas e paralelamente, uma seqüência de dúvidas que conscientemente, ou não, fazem parte da vida de todos nós neste nosso pequeno mundo ocidental.

O taxista que faz planos de ascender na vida através do trabalho duro, montar uma empresa e conquistar o sucesso, e do outro lado, o matador que não vê sentido no esforço em busca de um ideal recheado de símbolos que para ele nada representam. Nesse sentido o que é a morte de mais um criminoso? o que é a morte de mais uma pessoa que nada acrescenta ao mundo? o que seria a própria morte num mundo onde os ideais da sociedade não existem?

Essa colisão pode definitivamente gerar um efeito colateral em qualquer pessoa, especialmente se os dois eixos da trama estão conectados de forma real, ou seja, por algemas e assassinatos, e por uma ligação mental, os dois ao mesmo tempo pensam, "eu posso estar errado".

Ao fim sobra um pouco de tensão e uma dúvida para o espectador mais atento, ou, apenas mais um bom filme de entretenimento, que não deixa de valer a pena.

Depois de tudo isso talvez nem seja tão interessante falar dos aspectos técnicos, o diretor é técnico (Fogo contra Fogo, O último dos Moicanos), o roteirista é técnico (Piratas do Caribe), os atores são bons e auxiliados por bons técnicos tiraram o melhor de si, porém o texto abstrai a técnica de forma surpreendente, inexplicável e talvez imperceptível- para muitas pessoas.



Crítica: Durval Discos

Para iniciar minhas colaborações ao Cinemarco Cineclube, escolho o longa Durval Discos (2002) filme brasileiro dirigido por Anna Muylaert, em seu primeiro longa como diretora. Embora filmes brasileiros costumeiramente não tragam bons roteiros ou outras qualidades audio-visuais, este longa, nos faz pensar naquilo que já se conhece: filmes brasileiros são ruins, às vezes se erra e se faz filmes interessantes sobre bandidagem ou comédia. Este é um exemplo do erro.

Durval, protagonista vivido por Ary França, é um quarentão que literalmente parou no tempo. Vive com sua mãe, de seus sessenta e tantos anos, não é casado, vive da venda de Lp's em plena era de lançamento dos CD's, - não por obrigação, por opção - curte o bom e velho rock'n'roll e demonstra, em geral, o estilo "vocês não sabem o que estão perdendo em não ser como eu". E, na trama, o filme concentra seu roteiro no lado A, (comédia) e no lado B, (drama, suspense), onde tudo que parecia rotineiro e pacato transforma-se numa história inesperada e angustiante, que, com a chegada da nova empregada e sua filha Kiki, transformam totalmente o lar da pacata família paulistana.

Esta ideia um tanto simples dá ao filme o virtuoso tom de humor negro, onde, junto com sua mãe, representada por Etty Fraser, levam o filme numa simplicidade cativante, hilária e dramática. Pelo personagem muito bem explorado, talvez parte do público ganhe aceitação e compreensão de seus ideais, aquele pessoal que, ao ver o quarentão, tenha, talvez, até uma certa nostalgia de seus tempos considerados "de ouro".

Em trabalhos iniciais, geralmente, diretores hoje consagrados ou bem-vistos não tem trabalhos tão aplaudidos. É uma época de aprendizagem, de emoção, em que o instinto pode aflorar muitas vezes e superar a razão. Por este fato, o filme inicial da diretora, mereça, talvez, um ponto a mais, uma homenagem à qualidade humorística e à vida que dá aos seus personagens.





Pra não dizer que tudo são elogios, assim como os lados A e B a que o filme sugere em sua trama, também percebe-se uma certa divisão ao montar sua história, já que o filme segue num bom ritmo e vai convencendo o telespectador de sua ideia inicial, levando-o a perguntar-se qual o fim destinado a Durval e sua mãe Carmita, porém, seu fim talvez tenha sido o ato falho da diretora, que não dá ao filme um final tão interessante quanto o trabalho em si.

Contudo, o longa é realmente uma boa comédia, merecedora de seus diversos prêmios em festivais nacionais, estilo de comédia que, a cada dia, torna-se mais rara. Fica a dica, tirem suas conclusões.






Crítica: O Grande Truque


Aê galera! Esse é o primeiro post do Cinemarco Críticas, espaço destinado à galera que faz parte do Cinemarco Cineclube deixar seus comentários e críticas sobre os filmes vistos, de acordo com o próprio bom senso. Esse espaço vai servir para fazermos discussões sobre alguns filmes, bem como para treinarmos nossas "habilidades textuais".

Escolhi para a minha primeira crítica o filme O Grande Truque (The Prestige, 2006), de Christopher Nolan, autor bastante conhecido por Amnésia (Memento) e, principalmente, pela última sequência de Batman (Begins e Dark Knight).

Primeiramente, confesso que aprecio muito o trabalho de Nolan pelos 3 filmes citados acima. Um diretor que consegue ao mesmo tempo ser aclamado pela própria crítica e ressuscitar uma sequência de herói falida, como era a sequência de Batman até então, merece todos os nossos aplausos.

Dessa forma, vendo o filme com uma expectativa muito alta, O Grande Truque não me decepcionou - muito pelo contrário, ouso dizer que é o melhor filme que vi neste ano (apenas 3 meses de 2010 até aqui, tudo bem, mas já bate o Avatar de Cameron, que também vi esse ano).

Com personagens bem trabalhadas e um enredo de primeira, O Grande Truque envolve a platéia com uma história original sobre a vida dos mágicos e ilusionistas, e sobre uma história de rivalidade entre os dois protagonistas, muito bem interpretados por Hugh Jackman e Christian Bale. A vingança, que começa após a morte da amada de Angier (Jackman) por um suposto erro de Borden (Bale), é o tema dessa história, bem como o sacrifício que essa profissão requer.

Preste atenção também à participação de David Bowie, irreconhecível na pele de Nikola Tesla, inventor real de origem sérvia do século XIX.

Ponto forte: enredo (principalmente as sabotagens ocorridas entre os dois mágicos);
Ponto fraco: a máquina inventada por Tesla (mistura uma ciência inverídica ao filme totalmente cético, apesar de não comprometê-lo por isso).


 

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